O Idesam, em parceria com outras instituições, ajudou a promover um encontro focado em inovações na piscicultura amazônica, discutindo manejo sustentável e valorização de produtos. O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) vem desempenhando um papel crucial, apoiando startups como a Gigasus, que busca otimizar a produção em piscicultura sustentável na Amazônia.
Aprimorar as abordagens de manejo juntamente com o estímulo a inovações tecnológicas na piscicultura pode proporcionar uma visão renovada para as comunidades tradicionais e pequenos agricultores. Isso os permite entrar no mercado de peixes sem ter que competir diretamente com grandes distribuidores do setor. Uma forma de tornar isso viável é adicionar valor ao produto ainda em suas regiões de origem e aprimorar a gestão destas comunidades na oferta de serviços ambientais. Isso representa uma abordagem alternativa ao modelo de desenvolvimento atual, que intensifica os eventos extremos de seca e inundação na Amazônia.
No terceiro Meetup Acelera – edição Bioeconomia, promovido pelo Idesam, Fundação Rede Amazônica (Fram) e Impact Hub Manaus, essas ideias foram um consenso entre os convidados. O evento, transmitido ao vivo pelo Youtube da Fundação Rede Amazônica e G1 Amazonas, focou no assunto “Unidades de Conservação como processo de inovação” relacionado ao setor de Manejo de Pesca e Piscicultura. Diversos stakeholders do setor, incluindo pesquisadores, empresários, startups, entre outros, discutiram experiências e soluções potenciais para os desafios da indústria.
Valorização da sociobiodiversidade
“Apoio e fomento a usinas de beneficiamento são importantes para ajudar a agregar valor a esse produto da sociobiodiversidade. Uma vez que desenvolvemos uma atividade de manejo, estamos cuidando da fauna e da flora desses locais, todo o ecossistema se beneficia e o mercado precisa reconhecer que essas atividades prestam serviços ambientais”, expressou Dione Torquato, secretário-geral do Conselho Nacional dos Seringueiros, agora chamado Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
“Essa uma é reflexão que precisamos fazer e agir: olhar os territórios como valorização do modo de vida dessas populações para uma contribuição global, uma vez que as crises que estamos passando, de forte estiagem, têm a ver com o comportamento humano que vem acelerando, nos últimos 30 anos, os fatores extremos climáticos. Que modelo de desenvolvimento que queremos? Que legado essa sociedade vai deixar? Os territórios tradicionais são espaços estratégicos para pensar um modelo diferente”, adicionou Torquato.
Piscicultura ecossistêmica e Bioeconomia
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Laurindo Rodrigues, apresentou a piscicultura sob uma perspectiva ecossistêmica, inovadora e alinhada à bioeconomia. “Hoje o Brasil produz 860 mil toneladas de peixe, das quais 250 mil são de peixes nativos. Entretanto, isso por si só não configura bioeconomia. Precisamos assegurar benefícios socioeconômicos às comunidades através da eficácia produtiva. A aquicultura regenerativa consegue alcançar isso, combinando práticas de piscicultura com segurança e soberania alimentar”, detalhou. Ele ainda mencionou que a produção no Amazonas é de 20 a 22 mil toneladas anuais desde 2020, insuficiente para atender a demanda local.
Rodrigues também destacou o potencial da piscicultura em ajudar na recuperação de ecossistemas. Diante da grave seca enfrentada pelo Amazonas, a piscicultura pode atuar como uma reserva para auxiliar no repovoamento de espécies. “Caso não haja meios de regenerar o ecossistema, a piscicultura estará pronta para contribuir com esse repovoamento. A bioeconomia precisa ser a construção de um sistema produtivo que beneficie tanto o ambiente quanto a sociedade, utilizando de maneira eficiente os recursos já disponíveis”, ressaltou.
Inovação e startups
A interação entre diferentes agentes envolvidos nas cadeias de valor da bioeconomia enfatiza a importância de estabelecer e reforçar uma comunidade inovadora na Amazônia. Um exemplo dessa inovação é a Gigasus, uma startup apoiada pelo Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio)e coordenada pelo Idesam. Especializada no desenvolvimento de piscicultura em pequenos espaços, de até 1 hectare, a Gigasus descobriu que é viável produzir mais nessa área limitada do que em 5 hectares no método convencional. Essa eficiência é crucial para ampliar a produção, mesmo em contextos familiares. Isso se dá graças ao controle aprimorado dos ciclos produtivos, à maior densidade de animais e ao uso reduzido de água, beneficiado pelo sistema de recirculação.
“É essencial repensar a produtividade e investir em tecnologia e inovação. Isso proporcionará segurança contra potenciais intermediários e permitirá uma coexistência harmoniosa entre a piscicultura e o manejo. Ambos podem se complementar sem ter que competir com os fornecedores atuais de Manaus. Além disso, há interesse de nações europeias nesse produto beneficiado. Essa abordagem de beneficiamento também pode ser aplicada ao pescado in natura vindo de Rondônia e Roraima”, destacou Esner Magalhães, fundador da Gigasus.
Inovação no beneficiamento do Couro de Peixe
Outro avanço é o beneficiamento do couro de peixe, algo que a startup Yara Couro já implementou. Ela foi um dos empreendimentos selecionados no Amapá para receber apoio do PPBio. Bruna Freitas, representante da startup, mencionou: “Desenvolvemos uma modelagem inteligente do ecossistema e começamos a valorizar aquilo que anteriormente era descartado. Ainda precisamos mapear mais dados sobre o que temos disponível, mas por enquanto, contamos com informações do frigorífico parceiro. Nosso objetivo é gerar impacto positivo na cadeia, elevando todos os envolvidos e trazendo uma nova visão para algo antes não comercializado, que é a pele do peixe.”
O Instituto Mamirauá, que supervisiona 13 áreas de manejo do pirarucu, beneficia atualmente mais de 6 mil pessoas em 22 municípios no Amazonas. O que inicialmente era uma renda média de R$ 1 mil, agora alcança R$ 3,7 mil. “Os benefícios são amplos e não se restringem apenas à espécie em si, mas também à sua recuperação e preservação. Ele auxilia no empoderamento das comunidades, assegura a alimentação, promove a conservação do ambiente e protege outras espécies, só para citar alguns aspectos”, evidenciou o representante.
O método de manejo do pirarucu, que se baseia no conhecimento tradicional das comunidades locais que fazem a contagem manual dos peixes, obteve validação científica. Além disso, foi reconhecido como tecnologia social, uma certificação que agrega valor à produção.
Desafios e soluções para as comunidades
“O cenário crítico atual, que prejudica as comunidades deixando-as em situação de isolamento, reflete a carência em infraestrutura e conhecimento, impedindo que essas comunidades se preparem adequadamente. Por isso, é vital o investimento em ciência para antecipar esses desafios. O aporte em bioeconomia também é crucial. Mais do que meramente disponibilizar tecnologia e infraestrutura, precisamos fortalecer os empreendedores que, muitas vezes sem apoio governamental, estão inovando em benefício de toda a cadeia”, ressaltou o biólogo Emiliano Ramalho, pesquisador do Instituto Mamirauá.
Apresentação de startups inovadoras
Durante o Pitch Day, três startups emergentes expuseram suas propostas:
- A Bactolac, focada em bactérias com potencial probiótico para aprimorar a piscicultura, criando soluções específicas para cada espécie de peixe.
- O Lab AQUA, que inovou ao reutilizar água através de uma filtragem com insumos da floresta, como o caroço de açaí, elevando a produtividade de 2kg/m³ para até 30kg/m³.
- A Peixe Brabo, pioneira em Presidente Figueiredo (AM), criada por estudantes de Engenharia de Aquicultura. Eles desenvolveram uma plataforma digital para auxiliar piscicultores na gestão da produção e na conexão com entidades governamentais e o mercado consumidor.
Agenda de eventos futuros
No dia 09 de novembro, um debate sobre o ecossistema de bioeconomia tratará do tema “Incentivos Suframa para o agroextrativismo”. Participantes da cadeia produtiva da castanha, como a Coopaiter, representando o povo Paiter Suruí, discutirão práticas exemplares. A startup Vem de onde? compartilhará suas experiências em rastreabilidade. E o novo empreendimento, Petit Suisse, mostrará produtos inovadores derivados da castanha.
Por fim, o último Meetup Acelera de 2023 ocorrerá em 05 de dezembro, abordando estratégias de lançamento de produtos com a marca Amazônia. O evento se concentrará na cadeia do reflorestamento, com a participação das startups Peabiru, Onisafra e Rastreabilidade.
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