“A transformação por que passa a indústria em todo o mundo exige cada vez mais investimentos em inovação, o que depende de ambiente e estímulos adequados. Exige também mão de obra cada vez mais criativa e cada vez mais preparada para o desempenho de múltiplas funções, cada vez mais complexas”.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up
A economia brasileira não vai bem, obrigado. Isso não é segredo nem novidade para ninguém. É, a rigor, uma constrangedora verdade que os indicadores das respectivas entidades do setor fabril, principalmente, revelam. Nem os mais otimistas dos profetas seria capaz de imaginar vida fácil para quem vai administrar o ministério da Fazenda e do Planejamento em 2023. Com a dívida interna nas alturas e com um orçamento comprometido e combalido por gastos da temporada eleitoral 2022, que os céus nos acudam! Entre os setores, o mais atingido é o industrial.
Desde os anos 80, o declínio é galopante e do pior jeito. Enquanto em outros países, a desindustrialização deu lugar a setor de serviços com ênfase na tecnologia inovadora, no Brasil, os desempregados do ABC, o ex-maior Polo Industrial do Continente, foram para a “indústria” do telemarketing ou dos aplicativos.
E o que sucedeu com a indústria nos últimos anos? Ninguém pode dizer que o fenômeno é recente, nem no Brasil nem nos chamados países industrializado. Quem investiu em Ciência e Tecnologia inovadora passou a prosperar com a indústria do conhecimento. O Brasil optou pelas commodities do agrobusiness em detrimento de investimento em infraestrutura com inovação tecnológica. É saudosa a memória dos anos 80, quando o pico de participação da Indústria na composição do PIB chegou aos extraordinários 34%. Entretanto, em menos de 40 anos, o setor fabril assinalou míseros 11%, uma performance que sequer oferece motivos para um desenho de recuperação. A não ser…
No Amazonas, a situação tem contornos específicos por conta de vários embaraços, desde a infraestrutura precária e não competitiva, às pressões de toda sorte contra a aprovação de novos PPBs, o mecanismo de comando e controle da Indústria pela burocracia federal a serviço sabe-se lá de quem. Só aprova depois de subir o calvário do Processo Produtivo Básico, mais conhecido por embargo de gaveta. Foram muitos fatores com o único propósito: impedir que o Amazonas alcançasse a humilde marca de 1% dos estabelecimentos industriais do país, hoje reduzida a 0,6 em rota de declínio.
Em 2014, quando o Amazonas promovia uma festa do arromba para mais 50 anos do programa Zona Franca de Manaus, aprovados pelo Congresso Nacional praticamente por unanimidade, o economista José Laredo, um consultor notório de novos investidores para o Polo Industrial de Manaus, jogou água na fervura do foguetório de comemoração. O economista apresentou um levantamento, feito cuidadosamente nos últimos dez anos, de 2005 a 2014, onde ficou constatada uma queda de 11,27% nos projetos de implantação, o que provocou uma queda de 8,67% nos projetos de diversificação, ampliação e modernização de fábricas do PIM, o Polo Industrial de Manaus.
Era a prova cabal de que não estavam mais vindo novas fábricas para Manaus, na velocidade habitual. E mais: as fábricas existentes deixaram de se interessar por diversificar, modernizar e atualizar seus projetos. As razões são sobejamente conhecidas. No mesmo período, o setor de serviços, como o de transportes, distribuição de carga e descarga, também caiu quase 16%.
Esse movimento, em dimensões maiores e com a pressão do mercado externo, ávido por acessar o atraente mercado consumidor brasileiro, também atingiu o Brasil. Usando a metodologia clássica de aferição de valor agregado, a CNI constatou que, entre 1980 e 2017, o valor agregado da indústria em termos reais cresceu apenas 24%, em comparação com 69% na vizinha Argentina e 204% no mundo. Maior evidência do esvaziamento não se faz necessária. Em suma, dado o isolamento do Brasil por parte da comunidade internacional, o país perdeu posições para outros países, como México e Indonésia. A persistência da crise fez o Brasil continuar a perder posições, desta vez para Taiwan e Rússia e, finalmente, para a Turquia.
Ainda segundo as informações da CNI, as indústrias de base científica, particularmente a indústria química/farmacêutica, viram encolher a própria participação na composição do PIB mais rapidamente do que o esperado. Apesar dos incentivos fiscais, recentemente retirados. Um país com a maior biodiversidade da Terra, que chegou a produzir 55% dos insumos farmacêuticos que utilizava, em 2020 desabou para 5%. Até nossa capacidade de produzir vacinas fez água, por isso ficamos na dependência estrangeira, além das trapalhadas internas. Mesmo antes das demandas por imunizante para enfrentamento da covid-19, o esvaziamento da Indústria já estava diretamente conectado com o desemprego, em seu patamar mais alto em 50 anos, segundo o anuário do Banco Mundial.
O que esperar e como se preparar para 2023 à luz das alternativas em disputa: nos últimos quatro anos, quem ficou no radar federal e no topo das prioridades foi o agronegócio. A grande (?) tacada do atual governo em favor da Indústria foi a caneta de seu ministro da Economia, com seus decretos predatórios, todos com o perfil da desconstrução, que chegaram a lugar algum. No âmbito das promessas, o candidato da oposição foi categórico: “…embora as commodities sejam importantes, o Brasil precisa “ser forte na indústria, na ciência e na tecnologia”.
O editorial do Estadão desta quarta-feira, nos ajuda a compreender porque caímos de 30° para 31º lugar entre os exportadores mundiais e a resumir a única esperança de resgatar a indústria nacional: “A transformação por que passa a indústria em todo o mundo exige cada vez mais investimentos em inovação, o que depende de ambiente e estímulos adequados. Exige também mão de obra cada vez mais criativa e cada vez mais preparada para o desempenho de múltiplas funções, cada vez mais complexas”. Pode parecer simplista, mas não há como esconder que isso é absolutamente fundamental.
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