Entrevista com Fábio Calderaro
A pedra fundamental do CBA foi lançada no apagar das luzes do Século XX. Seus padrinhos foram FHC e seu vice, Marco Maciel, filho e marido, respectivamente de mulheres amazonenses. Muita água rolou de lá pra cá, mas pouca energia gerou a favor da sociedade. Enfim, depois de duas décadas e muitas disputas, na gestão Algacir Polsin, da Suframa, e com Fábio Calderaro à frente, o CBA, que havia nascido como Centro de Biotecnologia da Amazônia, passou a se credenciar como Centro de Bionegócios, no coração da maior floresta tropical do mundo e 1/5 do banco genético da Terra. Nessa sexta-feira, 6 de maio, de boas notícias para a Zona Franca de Manaus, a planta do CBA foi regada com o lançamento do Edital que lhe trará a definição de seu modelo de negócios, além, é claro, do esperado CNPJ. Ufa! Fábio Calderaro nos acolheu em seguida para uma prosa Amazônia. Confira.
Por Alfredo Lopes
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COLUNA FOLLOW-UP– Fabio Calderaro, afinal, o que você tem a dizer a respeito de tudo isso chamado CBA?
Fábio Calderaro – Estamos felizes porque estamos avançando, exatamente, na direção de um novo Centro de Bionegócios da Amazônia, uma vocação que sempre veio da floresta – desde as Ervas do Sertão, passando pelo Ciclo da Borracha, chegando à implantação da Zona Franca de Manaus -, construída, principalmente, pela força de trabalho vinda do interior, nossos ribeirinhos. O avanço deste momento é o chamamento público do Edital, que tem como objetivo identificar uma organização social a quem caberá a gestão do novo CBA. O chamamento público tem como objetivo a seleção e qualificação de uma organização experiente e com gente qualificada, sem fins lucrativos, que será responsável pela gestão deste polo de bionegócios e oportunidades para o desenvolvimento da Amazônia Ocidental, Amapá e da integração com a Nação Brasileira.
FUp – E quais são os órgãos envolvidos na formulação deste edital?
F.C. – Levamos, primeiramente, em conta os saberes consolidados em todos esses anos de tentativas e percalços. A construção do edital propriamente dita foi construído de forma participativa de vários atores, a partir da Suframa – onde está inserido o CBA desde o início -, a Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade, do Ministério da Economia, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, o BNDES e o Tribunal de Contas da União.
Fup – Como se dará essa mudança de titularidade ou gestão do CBA?
F.C. – Essa transição significa que o CBA sai da responsabilidade da Suframa – uma autarquia federal indutora do desenvolvimento regional – e vai, com sua estrutura de pesquisa, desenvolvimento, inovação e geração de negócios, para a administração de uma Organização Social qualificada para organizar e integrar as cadeias produtivas da diversidade biológica da Amazônia. Até aqui, a Suframa tem feito o papel de mantenedora do Centro de Biotecnologia, condições básicas para a operação do CBA. Mas, passadas duas décadas desde sua criação, faz-se necessário dar uma personalidade jurídica ao Centro. A partir de um modelo de gestão que definiu o papel que se pretende legar ao Centro, chegamos à conclusão que o modelo jurídico de Organização Social seria o mais adequado para dar ao CBA, que vai permitir ao Centro ter mecanismos de mercado mais ágeis e flexíveis para acompanhar a velocidade da inovação tecnológica e atender às demandas da sociedade.
Fup – Temos, então, que divulgar os requisitos e condições para a seleção da melhor organização. Como se dará este processo?
F.C. – Então, poderão participar deste Edital as entidades de direito privado, sem fins lucrativos, com atividades à pesquisa científica, desenvolvimento e inovação voltadas (P&D), ao desenvolvimento de novos negócios e projetos e à formação e qualificação de fornecedores, preferencialmente em bioeconomia. Todos os pré-requisitos estão detalhados no Estudo de Publicização e no próprio Edital que já está disponível no site do CBA, no portal da Suframa. Temos pessoal qualificado para proceder a essa escolha levando em conta a integração entre empresas de base biológica e os produtores regionais de insumos e extratos vegetais entre outros produtos demandados por essas empresas.
Fup – Afinal, o que é o CBA, como funciona e o que tem feito até agora?
F.C. – Essa pergunta é extremamente oportuna, pois as pessoas desconhecem o quanto que o CBA já faz em termos de serviços com soluções em partilha de tecnologias. Muitos deles são feitos com protocolos sob confidencialidade, ou segredo industrial, ensaios, perfis morfológicos e bioquímicos. São operações que não comportam divulgação, pois implicam segmentos de base tecnológica, produtos de alto valor adicionado. Muitas soluções estão aqui na região e também ajudamos a equacionar gargalos do setor produtivo, bem como nas atividades do cotidiano de nossas comunidades. Um dos setores que demandam assessoramento são as atividades de manejo florestal. E tudo que exige soluções tecnológicas, desenvolvimento de produtos, como anticorpos para a indústria de produtos orgânicos, produção/propagação de muda de alto interesse ambiental e comercial, produção de bioinsumos para a agricultura, a partir de microrganismos da região, ou para agricultura… são múltiplas produções de bioplástico para para atender uma nova onda que imprime sustentabilidade aos produtos. Temos um cardápio diversificado para o polo de termoplástico, para diversificação da Indústria da ZFM. Ou seja, o CBA além de um conector dos elos de uma cadeia, é uma preciosa instância de apoio ao empreendedorismo biotecnológico. Já podemos sonhar e tocar os produtos da diversificação e adensamento de nossas cadeias produtivas. Por enquanto, priorizamos ensaios das atividades privadas que poderão potencializar processos e produtos que são desenvolvidos aqui e agora.
Fup – São as novas modulações econômicas para substituir o Polo Industrial de Manaus?
F.C – Não faz sentido substituir o que está dando certo. As eventuais mudanças estão condicionadas apenas à transição tecnológica. Precisamos apenas ficar atentos aos novos tempos e às demandas da humanidade que aqui borbulham. Nutracêuticos, cosméticos, fármacos, com diferencial amazônico da floresta em pé. Em breve, estaremos mostrando ao mundo o que aprendemos ao fazer interação da tecnologia da informação e comunicação com a economia de base biológica. O evento Bio&TIC, que resulta de um maravilhoso mutirão interinstitucional, vai contar uma história em movimento, a relação fecunda, harmoniosa e surpreendente entre inovação tecnológica e biodiversidade florestal. Vamos imitar a natureza, respeitar sua dinâmica e reproduzir suas soluções que buscam harmonizar natureza e cultura a serviço do fator humano. Com sustentabilidade e de olho na prosperidade social e da possibilidade do Amazonas explorar outras matrizes e desenvolver múltiplas formas de gerar negócios.
Fup – Podemos dizer que o CBA é um modelo de mil e uma utilidades para gerar riqueza na Amazônia?
F. C. – É claro que se trata de uma iniciativa muito importante e promissora para a região, capaz de ensaiar muitas alternativas de emprego e renda. Mas não é uma panaceia para todos os males. O CBA é apenas uma instituição e nós estamos cercados de múltiplos desafios. A Amazônia é imensa em todos os sentidos e para colocar seus potenciais benefícios para o tecido social precisamos manter a segurança jurídica e os estímulos econômicos corretos, para atrairmos para cá novas empresas, para criarmos novas empresas de base tecnológica, que vão estimular nossas cadeias produtivas
É para nós não adianta criar um centro de bionegócios se nós não tivermos aqui a empresa com as quais o CBA fará negócios de encomendas tecnológicas e para as quais o CBA vai transferir tecnologia.
Fup – O que precisa fazer e a quem atender?
F.C. – Temos que dar passos mais ousados na direção de medidas estruturantes, a serem feitas principalmente no interior do estado, onde não temos infraestrutura, legalização fundiária, nem mecanismos de financiamento adequados à realidade do produtor que é essencialmente agroflorestal que normalmente precisa ser alavancado pois não tem acesso ao Pronaf, e não consegue recursos no BASA, não tem acesso a treinamentos qualificação, enfim, nós temos muitos embaraços a serem superados. Com o CBA, porém, temos uma referência de bioeconomia, que deixa de ser apenas simbólica do ponto de vista da Esperança, e se impõe representativa do ponto de vista de uma nova realidade que está ao nosso alcance.
Fup – O que você chama de função agregadora aplicada ao CBA e como fazer para integrar esse movimento de transformação?
F.C. – O CBA já existe no imaginário de nossa gente há longa, diria longuíssima data. Os viajantes europeus, a partir do século XVIII e XIX, especialmente, com a mecanização e máquinas a vapor, tinham em mente o beneficiamento das ervas do Sertão com as mesmas expectativas de atender as demandas que permanecem vibrantes Século XXI. A saúde, a juventude, a alimentação funcional. E isso exige juntar a cadeia do conhecimento com as milhares cadeias produtivas que habitam a Amazônia. Por isso, os viajantes saquearam nosso almoxarifado de preciosas espécies. Hoje, nós já sabemos o que fazer e já cansamos de entregar in natura o tesouro que a Natureza nos deu. O CBA é integrador de um ecossistema de inovação. Uma espécie de programa com a finalidade apoiar o desenvolvimento econômico a partir da biodiversidade. Ele precisa estar bem próximo da indústria, das empresas de base tecnológica, das incubadoras de negócios que estão guardadas nos talentos que urge identificar.
Para conhecer e fazer parte dessa nave, acesso o site do CBA, que está hospedado no portal da Suframa. Nossas notícias estão também nas nossas redes sociais: Instagram, Twitter e LinkedIn e organizamos grupos fechados mediante demanda para gente visitar as atividades do CBA. Basta mandar um e-mail para [email protected]. Vamos em frente.
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