Um dos mais importantes precursores do movimento da indústria 4.0 no Polo Industrial de Manaus, o pesquisador Sandro Breval(*), pós-doutor em Inovação Tecnológica, e um dos fundadores do portal Brasil Amazônia Agora, é um dos mais qualificados cérebros da Quarta Revolução Industrial que se apresenta no Amazonas. Integrante da organização da EXPOAMAZÔNIA BIO&TIC 2022, em junho próximo, ele prevê que “será um divisor de águas, a partir de nós mesmos, pelos conhecimentos e oportunidades que estaremos partilhando e sacramentando. O Brasil deixará de nos olhar apenas como seu fornecedor de receitas. Temos mais do que tributos para oferecer. Será que Brasília nos vê como pobres tecnologicamente e nos enxerga muito distantes para acessar parcerias? Longe é a China, a Amazônia está mais perto do que nunca, em busca apenas de conexão e interoperabilidade, para expansão de sua maturidade em amplos significados, direções e contribuições que podemos oferecer”.
Confira a entrevista a Alfredo Lopes do portal Brasil Amazônia Agora
Coluna Follow-up
Follow-up – Em que medida, o fato de um de seus projetos/ferramentas ter recebido especial atenção da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) ajudaria o país a olhar mais curiosamente o que estamos fazendo na floresta? E que prêmio foi este?
Sandro Breval – Depois de começar a olhar, o Brasil precisa integrar a Amazônia ao cardápio de possibilidades, conquistas e oportunidades. A distância é consequência do desconhecimento.
Precisamos acreditar neste desafio. O projeto/produto que foi escolhido pela ABDI está inserido no programa BrasilMais, voltado para a capacitação tecnológica das micro e pequenas empresas, as MPEs, que estão com nível de maturidade muito baixo. A linha base é dotar essas empresas, e seus colaboradores, de conhecimento sobre as boas práticas de gestão, produtividade e recursos digitais em relação às suas dimensões (produtos, manufatura, estratégia, modelo de negócios, logística, pessoas/cultura, interoperabilidade e sustentabilidade). No Maturity Game fazemos isso de forma “gamificada” com 4 fases desde a capacitação até a criação de cenários de simulação quanto ao emprego das boas práticas.
FUP – Você é um dos personagens da EXPOAMAZÔNIA BIO&TIC 2022, que vai mostrar ao mundo os avanços em tecnologia da informação e comunicação e da bioeconomia. Qual é o papel dessas duas áreas na antecipação da utopia Amazônia?
S.B. – É muito urgente a ideia de chamar à atenção do Brasil e do mundo para os avanços de Tecnologia e de Bioeconomia que estamos conquistando. Mais o Brasil, pois o mundo está de olho nas oportunidades que a Amazônia representa. A ideia da EXPOAMAZOMIA BIO&TIC 2022 é exatamente esta. Trata-se de um binômio que possibilitará nossa sobrevivência e diversificação industrial, econômica, e proteção ambiental. Com inovação tecnológica vamos agregar valor, oportunidades e, sobretudo, empregos sem desmatar a floresta. Lembrando de Marcuse no seu “fatalismo geográfico: talvez estes sejam os pilares da ponte entre o nosso presente e o futuro. O modelo produto-processo-serviço será transicionado cada vez para a servitização com capacidade de customização de baixo custo.
Assim vejamos:
Produto-processo (presente) – No presente por que sedimentam oportunidades da 4a revolução industrial quanto ao reposicionamento estratégico das em empresas, nas mudanças profundas nos modelos de negócios e escalabilidade em toda a cadeia de valor.
Serviço (futuro)No futuro pela necessidade de olharmos para as nossas efetivas vocações buscando a escalabilidade efetiva da cadeia de bionegócios, fortalecendo os laços com o interior, criando marcas exclusivas e com prestação de serviços.
Fup – Num de seus trabalhos sobre a maturidade da indústria 4.0 em Manaus, você descreve a fragilidade da qualificação tecnológica dos colaboradores do Polo Industrial de Manaus. Como fortalecer este elo vital da cadeia produtiva e do conhecimento?
S.B. – Este trabalho já deu resultados. Seu escopo era avaliar a prontidão tecnológica para a Indústria e a Amazônia 4.0. Os três eixos de medição da maturidade e prontidão de um conglomerado industrial são: gestão, processo e tecnologia. Os 2 primeiros relacionados com a maturidade que corresponde ao como a sua empresa relaciona-se com a cadeia de valor (percepção) e a tecnologia com a Prontidão, ou seja se a empresa possui alguma barreira ou obstáculo para uma mudança cultural, organizacional e nesse caso tecnológica.
A fragilidade apontada está relacionada com a prontidão tecnológica das pessoas, principalmente aquelas que estão diretamente ligadas à formação do fluxo de valor.
Portanto, no mapeamento que fizemos foi evidenciada baixa prontidão o que ressalta a urgência de novos modelos de capacitação e melhoria dos skills, aliás o Maturity Game atua exatamente nessa lacuna. Ampliando a prontidão tecnológica que está circunscrita na dimensão “pessoas e cultura” estaremos aumentando as chances de uma nova percepção de maturidade na cadeia de valor, o que pode ser traduzido em mais eficiência, novos negócios e produtividade.
Fup – Enquanto avançamos nossos desafios, nossas dificuldades institucionais de sobrevivência se tornam mais críticas. Vemos, por exemplo, o crime organizado explorando nossas potencialidades no modo depredação, destruindo o patrimônio natural e social. Em que medida a economia e a academia podem confrontar e superar estas distorções e instalar o desenvolvimento sustentável da região?
S.B. – Vejo com bons olhos as parcerias de qualificação acadêmica entre a USP e a UEA, as conquistas de colegas da UFAM, apesar da falta de suporte e de reconhecimento da importância da Ciência para o país dar o salto desejado. Talvez o nosso caminho seja mais longo, que é o da criatividade e da teimosia em fazer. Acredito que as parcerias internacionais, agora, poderão ser retomadas para preencher os vazios de toda ordem deixados pela pandemia. Essas aproximações são fecundas na lógica da vivência/convivência, aprendizagem/ensino, ou seja, produzindo soluções em conjunto. A realização da EXPOAMAZÔNIA BIO&TIC 2022 será um divisor de águas, a partir de nós mesmos, pelos conhecimentos e oportunidades que estamos sacramentando. O Brasil nos olha sobretudo como fornecedor de receitas. Que pena para o país! Será que Brasília nos vê como pobres tecnologicamente e nos enxerga muito distantes para acessar? Longe é a China, a Amazônia está mais perto do que nunca, em busca apenas de conexão e interoperabilidade, para expansão de sua maturidade em amplos significados e direções.
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