— Trecho do novo livro do economista Paulo Gala, Brasil, uma economia que não aprende —
Temos que nos reinventar… O projeto de industrialização do país não pode ficar refém de setores subsidiários de matrizes mundiais e que vão na contramão das nossas potencialidade de desenvolvimento inclusivo e ambientalmente sustentável. O modelo de industrialização do Brasil tem que passar por uma estratégia de industrialização com preservação de florestas, cerrados e os demais biomas que representam a nossa possibilidade de futuro. Automóveis, malhas rodoviárias, frigoríficos, complexos industriais da soja, etc, talvez não sejam o melhor caminho. Na Amazônia temos que investir em biotecnologia, diversificação e certificação de produtos florestais não madeireiros, investimentos maciços em ciência e tecnologia que podem trazer enormes ganhos ao Brasil no mercado mundial. Poderíamos produzir um modelo único no mundo de floresta urbanizada e industrializada de forma mais sustentável. Pra isso, temos que potencializar cadeias produtivas que apresentam vantagens competitivas de futuro sustentável. Temos que diversificar a pauta de exportação de produtos agrícolas e de base extrativista vegetal. A pauta não pode ser a industrialização a qualquer custo. Industrialização a partir da monocultura não é tecnologia nossa, e nem gera vantagens competitivas locais e regionais. O desenvolvimento da soja e da pecuária, e a verticalização de suas cadeias podem destruir a nossa biodiversidade, temos que tomar cuidado.
Existe um plano bem interessante desenvolvido pelo CGEE e MCTI em 2013 que focava em aspectos convergentes em relação a esses pontos. Chama PCTI/Amazônia “Plano de Ciência,Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento da Amazônia Legal”. O Plano apresenta uma lista mais detalhada das cadeias e ramos produtivos com potencial de desenvolvimento industrial na região. Diz o documento sobre o ponto que nos interessa: ” (i) ao potencial das cadeias produtivas vinculadas aos recursos naturais, ao patrimônio genético e à biodiversidade regional, ampliado pelas possibilidades da bioprospecção e da biotecnologia, tecnologias-chave de processos de conhecimento e de geração de valor associados a essas cadeias; (ii) à produção de recursos florestais não madeireiro (princípios ativos para uso medicinal, cosmético, biocompósitos, etc.); (iii) aos serviços ambientais; (iv) à pesca e aquicultura; e (v) à fruticultura. Esse potencial ainda se encontra pouco explorado por limitações tecnológicas, organizacionais, logísticas, de mercado e regulatórias. Além das especificidades de CT&I nas áreas protegidas, merecem atenção especial questões relacionadas à disponibilidade e aos usos múltiplos dos recursos hídricos (em especial à agropecuária e energia, ao transporte e abastecimento, etc.), uma das bases fundamentais de sustentação da biodiversidade regional”.
Confira o sensacional vídeo do cientista Carlos Nobre, do Inpa, sobre O potencial da bioeconomia na USP
Fonte: Paulo Gala
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