“Diante da escalada de conflitos ambientais, da banalização da política e da corrosão das instituições democráticas, Leão XIV surge como figura que pode ajudar o mundo a reencontrar sua vocação ética. Para a Amazônia, e para os que nela investem com compromisso, trata-se de uma oportunidade de reafirmar que o desenvolvimento justo é possível — e urgente”
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A eleição do novo Papa Leão XIV, nome adotado pelo norte-americano Robert Prevost — naturalizado peruano e membro da ordem de Santo Agostinho — não é apenas um fato relevante para o mundo católico. É também um evento simbólico de forte repercussão geopolítica, ética e ambiental, especialmente para os que vivem, empreendem e lutam por um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia.
A escolha do nome Leão XIV remete diretamente ao legado de Leão XIII, autor da encíclica Rerum Novarum (1891), que inaugurou a Doutrina Social da Igreja, ao afirmar que a dignidade do trabalhador e a justiça social deveriam estar no centro das políticas econômicas. Em tempos de crise ambiental e desigualdade extrema, esse gesto representa um retorno estratégico ao princípio moral de que a economia existe para servir ao ser humano — e não o contrário.

Mais do que isso, ao se declarar agostiniano, o novo Papa nos lembra que o amor — radical e absoluto — pode ser um critério de justiça, e que a espiritualidade não se opõe à política, mas pode oferecer uma base ética para sua regeneração. Em um mundo polarizado, onde ideologias substituem o diálogo, esse gesto é uma convocação à razão moral como bússola comum.
Esse simbolismo encontra eco direto na Amazônia. Ao se naturalizar peruano, Leão XIV assume, na prática e na consciência, uma identidade amazônica. Para o setor produtivo da Zona Franca de Manaus, esse fato carrega implicações relevantes. A região, com sua política de contrapartida fiscal, tem buscado — com avanços e desafios — associar competitividade industrial, justiça social e proteção ambiental.

Se a Laudato Si’ de Francisco já fora um marco ao reconhecer a Amazônia como bioma estratégico para o futuro da humanidade, o novo pontífice chega com potencial para reafirmar e aprofundar esse compromisso ético-ecológico no mais alto nível da liderança moral global.
O setor produtivo organizado da ZFM, comprometido com uma economia verde, inclusiva e baseada na floresta em pé, acolhe com expectativa a possibilidade de uma nova etapa de diálogo entre fé, ciência, indústria e natureza. O simbolismo do novo Papa reforça o entendimento de que a sustentabilidade não é apenas uma diretriz ambiental, mas um critério de valor econômico, cultural e civilizacional.
Diante da escalada de conflitos ambientais, da banalização da política e da corrosão das instituições democráticas, Leão XIV surge como figura que pode ajudar o mundo a reencontrar sua vocação ética. Para a Amazônia, e para os que nela investem com compromisso, trata-se de uma oportunidade de reafirmar que o desenvolvimento justo é possível — e urgente.
Se os Estados falham, se os organismos internacionais hesitam, a voz da espiritualidade pode — como tantas vezes na história — reacender as esperanças e reconstruir as pontes. A Amazônia, com sua centralidade ecológica e humana, está pronta para esse diálogo.