Descarbonização, ecologia integral, mudanças climáticas, transição energética e a relevância da Amazônia para o planeta foram apenas algumas das pautas defendidas pelo Papa Francisco durante os 12 anos de seu cargo na Igreja
Nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, no dia 17 de dezembro de 1936, o Papa Francisco marcou a história da Igreja Católica com um pontificado voltado à justiça social, ao cuidado com os pobres e à defesa do meio ambiente. Francisco ocupou o cargo de Sumo Pontífice por 12 anos, sendo o primeiro papa latino-americano e jesuíta da história.
Francisco faleceu às 2h35 (horário de Brasília) desta segunda-feira, 21 de abril, em sua residência no Vaticano, aos 88 anos de idade. Sua morte encerra um capítulo significativo da Igreja, em que valores como ecologia integral, diálogo inter-religioso, acolhimento e solidariedade estiveram no centro das ações e mensagens do pontificado, que deixava clara sua preocupação com o planeta, inserindo questões como as mudanças climáticas e a transição energética em discursos.
Apenas um mês antes de suas últimas mensagens “verdes”, em janeiro deste ano, Francisco recebeu seu primeiro papamóvel totalmente elétrico, desenvolvido pela Mercedes-Benz em colaboração com o Vaticano. O veículo contava com transmissão elétrica adaptada para as velocidades exigidas em aparições públicas, um exemplo prático alinhado com princípios de desenvolvimento sustentável já defendidos por Francisco em um de seus documentos mais importantes.
Papa Francisco no papamóvel (Foto: Mazur Catholic News)
Esse foi o último de uma série de outros momentos simbólicos de sua valorização da luta contra a crise climática e preocupação com o meio ambiente e a Amazônia. Confira cinco outras falas de destaque do papado de Francisco que também fortaleceram o debate socioambiental global:
1- “O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes”
Apenas quatro anos após o início de seu pontificado, em 2017, o Papa Francisco surpreendeu fiéis ao redor do mundo ao convocar, pela primeira vez na história da Igreja, um sínodo dedicado exclusivamente à Amazônia. O sínodo corresponde a uma assembleia periódica de bispos de todo o mundo que, presidida pelo papa, se reúne para tratar de assuntos ou problemas concernentes à Igreja universal.
O encontro ocorreu em Roma dois anos depois, em 2019, e reuniu representantes de todos os países da Amazônia Legal, incluindo bispos, padres e religiosos da Amazônia Brasileira. Mais do que um debate eclesial, o momento propôs uma reflexão profunda sobre como os desafios ambientais e sociais da região amazônica impactam diretamente a missão evangelizadora da Igreja.
Papa Francisco com os participantes da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia — Foto: Divulgação/Vatican News
Esse cuidado com a região se evidenciou ainda mais em agosto de 2022, quando o Papa nomeou o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, como o primeiro cardeal da Amazônia Brasileira — um gesto simbólico e político que reconhece a importância da região amazônica para a Igreja e para o futuro do planeta.
“O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o bem viver. Mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres.
-Papa Francisco durante a exortação Querida Amazônia, escrita por ele após o Sínodo para a Amazônia em 2019.
2- “Peçamos encarecidamente aos líderes das nações que a casa comum seja preservada”
Francisco foi o primeiro papa a querer participar de uma cúpula do clima, a COP28, que foi realizada em Dubai, Emirados Árabes, em 2023. Seu estado de saúde o impediu de comparecer presencialmente ao evento, mas ao lado do grande imã Ahmed al Tayeb, da mesquita Al Azhar – máxima autoridade do Islã sunita – participou de uma videoconferência em evento da COP28 pedindo união para frear asmudanças climáticas.
Além disso, assinou uma declaração de líderes religiosos para a cúpula, no qual se reafirma a unidade, a responsabilidade compartilhada e a fraternidade entre todos por uma ação a fim de atingir a meta de reduzir a temperatura da terra em 1,5°C até 2030, além de apoiar comunidades afetadas pela crise climática.
“Demos o exemplo, como representantes religiosos, para mostrar que uma mudança é possível, para manifestar estilos de vida respeitosos e sustentáveis, e peçamos encarecidamente aos líderes das nações que a casa comum seja preservada.
– Papa Francisco, por videoconferência, em um evento da COP28
3- “Cultura do descarte: uma ‘cultura do descartável’ onde as pessoas usam e descartam a si mesmas, os outros e o ambiente”
Durante uma visita à sede da ONU em Nairóbi, em 2015, o Papa Francisco fez um apelo aos líderes mundiais para que chegassem a um acordo sólido na próxima conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP21, na época), afirmando que transformar os modelos atuais de desenvolvimento é uma “obrigação política e econômica.”
Papa Francisco e o Diretor Executivo do PNUMA, Achim Steiner, na sede da ONU em Nairóbi, Quênia. 26 de novembro de 2015 | Foto: UNEP/Adam Hodge
Falando para uma plateia de milhares de pessoas — que incluía o Diretor Executivo do PNUMA, Achim Steiner, e a então Diretora-Geral do Escritório das Nações Unidas em Nairóbi (UNON), Sahle-Work Zewde —, o Papa Francisco deu ênfase especial à necessidade de adotar sistemas de energia de baixo carbono e pôr fim à “cultura do descarte”, que contribui para as emissões de gases de efeito estufa. Essa cúpula resultou no chamado Acordo de Paris, principal referência da luta contra as mudanças climáticas.
“Isso exige um processo educativo que promova, em meninos e meninas, mulheres e homens, jovens e adultos, a adoção de uma cultura do cuidado — cuidado de si mesmo, cuidado com os outros e cuidado com o meio ambiente — em substituição à cultura do descarte, uma ‘cultura do descartável’ onde as pessoas usam e descartam a si mesmas, os outros e o ambiente.
– Francisco durante discurso a líderes globais em Nairóbi, no Kenya
4- “A civilização requer energia, mas o uso da energia não deve destruir a civilização”
O Papa Francisco reconhecia publicamente que o setor energético é um dos grandes desafios do nosso tempo, especialmente diante das demandas crescentes por desenvolvimento e justiça social. Para ele, o acesso universal a eletricidade seria uma peça essencial para eliminar a fome e a pobreza, além de um direito fundamental que deve ser garantido a todos.
Em junho de 2018, o Papa Francisco se reuniu com líderes das principais empresas de petróleo, gás natural e setores relacionados à energia, durante o Encontro de Líderes no Vaticano. Em um discurso direto e simbólico, ele afirmou: “A civilização requer energia, mas o uso da energia não deve destruir a civilização”, lançando um forte apelo à responsabilidade ética do setor energético.
Papa Francisco durante Sínodo da Amazônia, em 2019. Foto: Vatican News.
“Ainda mais preocupante é a busca contínua por novas reservas de combustíveis fósseis, enquanto o Acordo de Paris deixou claro o apelo para manter a maior parte desses combustíveis no subsolo. É por isso que precisamos dialogar juntos — indústria, investidores, pesquisadores e consumidores — sobre a transição e a busca por alternativas. A civilização precisa de energia, mas o uso de energia não pode destruir a civilização!
– Francisco em discurso a produtores de petróleo em junho de 2018
5-“Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”
Um dos marcos mais importantes do pontificado de Papa Francisco na área socioambiental foi o lançamento da encíclica Laudato Si’, em maio de 2015, apenas dois anos após assumir o papado, em 2013. As encíclicas são documentos oficiais da Igreja Católica que orientam os fiéis e o clero sobre temas de relevância doutrinária, moral ou social, e a Laudato Si’ se tornou um divisor de águas ao abordar, de forma inédita, a crise ecológica como uma questão espiritual e ética.
Nela, Francisco deixa uma mensagem profunda sobre a necessidade de cuidar do meio ambiente e das pessoas mais vulneráveis, propondo o conceito de ecologia integral, que reconhece a interconexão entre o ser humano, Deus e a Terra. O Papa alerta para os efeitos destrutivos do modelo econômico atual sobre a natureza e as desigualdades sociais, convocando a humanidade a uma mudança de estilo de vida, de consumo e de política, com base na solidariedade, no respeito à criação e na justiça intergeracional.
Laudato Si’, a encíclica (Fonte: LiamMcArdle.com)
A encíclica é hoje referência global nos debates sobresustentabilidade, ética e fé diante das mudanças climáticas.
“Cuidemos da nossa mãe Terra, superemos a tentação do egoísmo que nos faz predadores de recursos, cultivemos o respeito pelos dons da Terra e da criação, inauguremos um estilo de vida e uma sociedade finalmente ecossustentável: temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto.”
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.
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