Com a posse de Trump, o presidente reforça seu negacionismo climático e sinaliza mudanças na abordagem do país perante a crise climática
O retorno de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, oficializado nesta segunda-feira (20), já levanta preocupações conhecidas sobre os avanços no combate às mudanças climáticas, tanto no âmbito global quanto local. Conhecido por seu ceticismo sobre o aquecimento global, que chegou a chamar de “uma das maiores tapeações de todos os tempos” durante sua campanha, Trump promete priorizar combustíveis fósseis e desfazer algumas políticas ambientais implementadas por Joe Biden durante seu período na Casa Branca.
Os Estados Unidos são atualmente o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no mundo, perdendo apenas para a China. Além disso, são a nação que mais contribuiu historicamente para as emissões globais.
Nesse cenário, cientistas e ambientalistas alertam que a abordagem do novo governo pode comprometer esforços internacionais para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Um exemplo é o anúncio feito após a posse de Trump de que o país deixará novamente o Acordo de Paris, marcando a segunda retirada em uma década. A decisão junta os EUA a países como Irã, Líbia e Iêmen, os únicos atualmente fora dos esforços globais para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, meta estabelecida pelo pacto climático de 2015.
Trump já havia retirado os Estados Unidos do Acordo de Paris durante seu primeiro mandato, decisão revertida por Joe Biden em 2021. Agora, a nova saída do pacto climático, que deve ser concluída em menos de um ano, pode dificultar ainda mais o alcance das metas globais de redução de emissões.
“Vamos cortar a regulação do meio ambiente, que foi criada para parar com o progresso neste país. Vamos recuperar nossa riqueza”, disse o presidente durante comício no ginásio Capital One, em Washington, um dia antes da posse.
Agenda de desregulamentação
O anúncio da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris está alinhado com a agenda de desregulamentação do atual presidente, que busca remover restrições ambientais e liberar as indústrias de petróleo e gás para expandirem sua produção.
Mesmo com as declarações de mudanças em normas ambientais na posse de Trump, a Organização das Nações Unidas (ONU) demonstrou confiança de que cidades, estados e empresas dos Estados Unidos continuarão liderando a transição para um crescimento econômico de baixo carbono, apesar da saída do país do Acordo de Paris. “É crucial que os Estados Unidos continuem sendo líderes em questões ambientais”, afirma Florencia Soto Nino, porta-voz da ONU.
Durante seu primeiro mandato, Donald Trump desfez mais de 125 normas ambientais e climáticas nos Estados Unidos, que ele considerava “obstáculos aos negócios”. Sob sua liderança, o país tornou-se o maior produtor mundial de petróleo, com políticas que priorizavam combustíveis fósseis. Para sua segunda administração, a promessa do presidente é de expandir ainda mais as perfurações em terra e no mar.
Possíveis impactos para o Brasil
Pelas regras do Acordo de Paris, o processo de saída dos Estados Unidos levará um ano após sua formalização por Donald Trump. Isso significa que o país ainda fará parte do acordo durante as negociações climáticas da COP30, que acontecerá no Brasil em novembro. Entretanto, é pouco esperado que Trump compareça ou se engaje na COP30.
No entanto, o impacto de sua postura já foi sentido na COP29, realizada em Baku. Joe Thwaites, diretor do Natural Resources Defense Council (NRDC), disse à Climate Change News que a falta de ambição no acordo sobre uma nova meta financeira para apoiar países em desenvolvimento reflete a provável ausência de cooperação de Washington nos próximos quatro anos, cenário que destaca os desafios para alcançar avanços significativos nas metas climáticas globais.
Trump também deve ignorar o compromisso assumido por Joe Biden de enviar meio bilhão de dólares ao Fundo Amazônia. Biden, o primeiro presidente americano a visitar a floresta enquanto estava no cargo, cumpriu apenas 20% dessa promessa.
De acordo com Guilherme Casarões, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em análise da BBC, a Amazônia não figura nas prioridades estratégicas de Trump, que está mais focado em regiões cruciais para o comércio dos EUA, como o Canal do Panamá, ou áreas estratégicas em termos de posição geopolítica e recursos minerais, como a Groenlândia.