“O Polo Industrial de Manaus leva à COP30 a prova viva de que desenvolvimento sustentável não é promessa, é performance: 500 mil empregos, 97% da floresta preservada e até R$ 23 bilhões por ano em mitigação de carbono não reconhecida”
Coluna Follow-Up
Se a Amazônia fosse uma pessoa, chegaria à COP30 com o crachá pendurado no pescoço e a serenidade de quem tem 97% da floresta em pé. E se o Polo Industrial de Manaus fosse sua mala, seria daquelas resistentes — pesada de números, leve de consciência, e com cheiro de resina, não de fumaça.
Afinal, há quem ainda ache que a floresta e a indústria são rivais. É essa confusão que o Polo leva para esclarecer na COP da Floresta: aqui, o motor que gira a economia também preserva a floresta. E, enquanto isso, meio milhão de empregos industriais impedem que meio milhão de pessoas precisem transformar árvores em lenha ou subsistência.
Sim, senhores e senhoras: o Polo Industrial de Manaus é o maior projeto de mitigação de carbono que o Brasil ainda não percebeu que tem.
Uma conta de guardanapo — com sabor de castanha e seringa
O Estado do Amazonas mantém 151 milhões de hectares de floresta preservada, equivalentes a 25 bilhões de toneladas de carbono estocados (ou cerca de 90 bilhões de toneladas de CO₂). Cada hectare guarda, em média, 168 toneladas de carbono, segundo o INPA.
Agora, se considerarmos que cada um dos 500 mil empregos industriais do Polo “protege” — direta ou indiretamente — 1 hectare de floresta, temos 500 mil hectares de carbono garantido em pé. Isso equivale a 84 milhões de toneladas de CO₂.
No mercado global, o preço da tonelada de carbono varia entre US$ 20 e US$ 50. Fazendo as contas com a cotação de hoje (US$ 1 = R$ 5,40), o serviço ambiental implícito prestado pela indústria amazonense vale entre R$ 9 bilhões e R$ 23 bilhões por ano.
E isso tudo sem novos impostos, sem novos fundos, sem novos slogans — apenas com emprego, dignidade e floresta viva.
O segredo industrial da floresta
O Polo Industrial de Manaus é, na prática, um laboratório global de ESG em escala territorial.
Ali, a geração de trabalho e renda é uma forma concreta de mitigação climática, e cada operário da linha de produção é, sem saber, um agente de conservação ambiental.
O segredo é simples: onde há emprego formal e política industrial, não há devastação ilegal.
O trabalhador que monta uma motocicleta, uma TV ou uma placa solar, ajuda a manter em pé um hectare de floresta — talvez o mesmo que garantiria o sustento de sua família se a indústria não existisse.
A ZFM não é um enclave de incentivos; é um modelo de equilíbrio entre economia e ecologia, forjado no coração da floresta.
E se o Brasil precificasse esse milagre?
Se o país resolvesse colocar preço no que o Polo Industrial de Manaus já faz, descobriria que a chamada “renúncia fiscal” é, na verdade, uma indenização ambiental preventiva.
O Brasil investe alguns bilhões para manter em pé um ativo climático que vale trilhões — e ainda reclama da conta.
Enquanto o mundo cria mercados de carbono, a Amazônia já presta esse serviço há décadas, de graça, com selo “Made in Manaus”.
É a indústria da floresta em pé, com tecnologia, energia limpa e cidadania.
A mala da Amazônia está pronta
Quando as delegações chegarem a Belém para a COP30, a Amazônia não precisará de crachá verde para provar que é sustentável. Levará na bagagem 500 mil empregos, 97% de floresta preservada e uma planilha de carbono que vale mais que ouro verde.
O Polo Industrial de Manaus não é um paradoxo, é uma prova viva de que a economia legal pode ser o maior escudo climático da Terra. O que falta ao Brasil não é floresta — é percepção.
Epílogo: ironia amazônica com fundamento ESG
Se a tonelada de carbono amazônico fosse vendida pelo preço de um cafezinho europeu, o Polo Industrial de Manaus pagaria a dívida do Brasil e ainda sobraria troco para financiar o ensino técnico dos jovens da floresta.
Mas seguimos exportando oxigênio sem nota fiscal, como bons anfitriões planetários. Porque, aqui, a floresta é pública, o carbono é coletivo — e o lucro, muitas vezes, vai parar na conta errada. Mesmo assim, seguimos: com ciência, indústria e propósito.
Porque a verdadeira economia verde não é a que pinta o desmatamento de sustentável — é a que produz prosperidade sem precisar derrubar uma única árvore.