A exploração de petróleo na foz do Amazonas está no centro de uma acalorada discussão entre a Petrobras, pesquisadores, ambientalistas e órgãos reguladores. O bloco FZA-M-59, localizado a cerca de 160 km de Oiapoque, no litoral do Amapá, é a mais nova fronteira da controvérsia.
Em março, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), em parceria com o Greenpeace Brasil, realizaram um estudo na região a bordo do veleiro Witness. O principal objetivo era mapear as correntes marítimas e entender os possíveis impactos de um eventual derramamento de petróleo.
Os resultados foram alarmantes. Cinco das sete boias de deriva lançadas no mar alcançaram as costas da Guiana Francesa, Suriname e Guiana. Uma das boias percorreu mais de 1.500 km, demonstrando a força e a extensão das correntes marítimas na região.
A Petrobras deseja perfurar um poço no bloco FZA-M-59 para explorar combustíveis fósseis. No entanto, devido ao alto risco da perfuração e ao baixo conhecimento sobre os impactos socioambientais da atividade petrolífera na foz do Amazonas, o IBAMA negou a licença. A petroleira, liderada por Magda Chambriard, pediu reconsideração da decisão e voltou a pressionar pela autorização, chegando a defender a interferência do presidente Lula.
Estudos e impactos
O estudo realizado pelo IEPA e Greenpeace Brasil corroborou os dados da própria Petrobras: um eventual vazamento de petróleo na foz do Amazonas poderia contaminar centenas de quilômetros mar afora, afetando a biodiversidade marinha e as populações costeiras nos países vizinhos.
Marcelo Laterman, coordenador da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, destacou a complexidade das correntes marítimas na foz do Amazonas. “A foz do Amazonas tem correntes marítimas e costeiras muito fortes, com dinâmicas pouco conhecidas e um grande carregamento de água do rio para os oceanos. Um vazamento de óleo causaria uma grande dispersão difícil de ser contida”, afirmou Laterman.
Histórico de perfurações
A foz do Amazonas não é uma área inexplorada. Dos 95 poços perfurados na região, 31 foram abandonados por dificuldades operacionais. Na última tentativa, em 2011, a Petrobras suspendeu a perfuração devido às fortes correntezas. Todos os poços perfurados com sucesso resultaram secos ou com quantidade subcomercial, insuficiente para justificar o investimento.
Resistência e futuro
A pressão pela exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas encontra forte resistência de cientistas e organizações da sociedade civil. A recente tragédia no Rio Grande do Sul, atribuída às mudanças climáticas, intensificou a oposição à exploração petrolífera na região.
Thiago Longo, coordenador-geral de mudanças do clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), afirmou que nenhuma autorização para perfurar poços de petróleo na foz ou em outras bacias sensíveis deve ser concedida até a COP30, em novembro de 2025. Este adiamento é um passo inicial, mas não resolve a necessidade global de eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
A decisão de perfurar ou preservar a foz do Amazonas é complexa e envolve considerações ambientais, econômicas e políticas. Enquanto a Petrobras e seus defensores pressionam por autorização, a comunidade científica e os ambientalistas alertam para os riscos de um desastre ecológico de grandes proporções.
A discussão continua e o futuro da foz do Amazonas permanece incerto. O Brasil está em uma encruzilhada, com a oportunidade de liderar a agenda climática global ou sucumbir às pressões pela exploração de recursos naturais em áreas ecologicamente sensíveis.
*Com informações CLIMA INFO
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