Pesquisadora descobre que fruto amazônico substitui óleo de palma

Tucumã é alternativa para substituir óleo cuja produção tem dizimado florestas e ameaçado orangotangos.

Cada vez mais usado na produção de alimentos, por conta de seu baixo custo, o óleo de palma se tornou um vilão do meio ambiente. Para produzi-lo, florestas têm sido destruídas mundo afora, ameaçando a biodiversidade e até mesmo as populações de orangotangos. Uma pesquisadora brasileira, no entanto, acaba de encontrar uma alternativa promissora para substituir o óleo, também conhecido no Brasil como azeite de dendê. A solução, diz Maria Fernanda dos Santos Mota, que faz doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pode estar no tucumã, um fruto muito presente no Pará, na região Norte do país.

“O óleo de tucumã é produzido por cooperativas de pequenas famílias no Pará de forma artesanal e costuma ser usado em cosméticos. Mas ele poderá ser também uma opção para a indústria de alimentos. Descobri que é possível fracioná-lo em uma cadeia parecida com a do óleo de palma. Este é um primeiro passo para que novas pesquisas mostrem como utilizá-lo em comidas industrializadas. Na UFRJ, já se investiga como chegar a um biscoito”, diz Maria Fernanda, que apresentou o resultado de sua pesquisa durante a conferência Amanhãs Desejáveis.

O trabalho de Maria Fernanda, que fez parte da pesquisa acadêmica em uma universidade australiana graças ao Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), criado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), é fundamental, já que, além de pouco sustentável, o óleo de palma começa a ser banido por muitos consumidores. Na Austrália, por exemplo, conta a pesquisadora, é comum encontrar embalagens com o aviso de que o alimento é livre do óleo de palma. A preocupação é com o meio ambiente.

“As pessoas evitam comprar os alimentos com óleo de palma porque sabem que florestas inteiras passaram a ser destruídas para obtê-lo. O desmatamento para plantio de novas mudas da Elaeis guineensis, de onde ele é extraído, começou no fim dos anos 1990, quando ele passou a substituir a gordura vegetal hidrogenada, nociva ao organismo. Com a previsão é que a gordura hidrogenada seja totalmente proibida até 2023, a tendência é que a exploração da palma cresça ainda mais. Por isso, é importante termos alternativas”, diz Maria Fernanda.

A produção do óleo de palma é a principal causa da destruição de florestas da Malásia e da Indonésia, habitat de orangotangos e outros animais em risco de extinção. Os dois países são responsáveis por 87% do produto consumido no mundo todo. O Brasil responde por 0,5% de todo o óleo de palma extraído no planeta – as plantações ficam quase todas na Bahia. Maria Fernanda diz que não há riscos na exploração do tucumã, já que ela é uma palmeira de ocorrência espontânea em áreas de regeneração natural.

“Atualmente, a exploração do tucumã é realizada de forma sustentável por pequenos produtores locais, organizados em cooperativas na Região Amazônica. Eles seguem o sistema de manejo agroflorestal. A extração já está bem organizada e é sustentável”, diz a pesquisadora.

Segundo Maria Fernanda, há muitos trabalhos para investigar o uso do óleo de tucumã para a fabricação de biodiesel. Para a indústria alimentícia, o trabalho é inédito.

Palmeiras tucuma amazonia
Palmeiras de tucumã da Amazônia | Foto: James Martins CC 3.0
Tucuma oleo fruto
Foto: P. S. Sena CC 4.0

Fonte: Ciclo Vivo

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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