Para beneficiar pecuária, Tocantins reduz em mais de 60% imposto sobre comercialização de gado

ICMS a ser pago por pecuaristas tocantinenses cai de 12% para 4,7% na venda para alguns estados. Medida pode estimular mais desmatamento, diz pesquisador

Começou a valer esta semana no Tocantins um acordo, firmado com o Conselho de Política Fazendária (Confaz), que autoriza o estado a reduzir em até 66,67% o ICMS sobre a comercialização de gado bovino para alguns estados do país. O objetivo da medida, segundo o governo tocantinense, é “aumentar a competitividade de pecuaristas” e dar vazão à criação represada. Para especialistas, medida pode estimular novos desmatamentosA publicação do acordo foi feita na última terça-feira (12).

A assinatura do documento vinha sendo anunciada pelo governo de Wanderlei Barbosa (Republicanos) desde maio. No dia 30 daquele mês ele se reuniu com pecuaristas para dar a notícia. “Temos recebido muitas reclamações quanto à alíquota do gado em pé, que hoje é de 12%. Então estamos buscando caminhos jurídicos para fazer uma redução que torne a produção tocantinense mais competitiva, em pé de igualdade com outros estados”, disse o governador, na ocasião.

A redução do ICMS vale para a venda de boi vivo para os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Se o percentual total de redução for aplicado por Tocantins, o imposto vai cair de 12% para 4,7%.

Tocantins possui atualmente o 10º maior rebanho do país, com cerca de 10 milhões de cabeças de gado – em 1988 eram cerca de 4 milhões, segundo estudo da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais  (UFMG). Para o secretário de Agricultura, Pecuária e Aquicultura do Estado (Seagro), Jaime Café, a expectativa é que a redução do imposto anime o produtor a investir e ter uma produção ainda maior.

Estímulo ao desmatamento

A adoção de medidas como a tomada agora por Tocantins não necessariamente significa aumento no desmatamento, já que os recursos extras podem ser investidos na intensificação da produção. Mas, dependendo do tipo de pecuária que é realizada – se intensiva ou extensiva – ela pode, sim, ser um estímulo à abertura de novas áreas.

Segundo Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), esse estímulo pode ter impactos inclusive nos estados vizinhos. “[A redução do ICMS] Poderia tornar a pecuária mais lucrativa e no médio prazo aumentar o desmatamento. Dependendo da situação, o aumento pode até ser no Pará, se comprarem bezerros de lá”, diz.

Além disso, ele lembra que a pecuária já recebe vários outros tipos de benefícios fiscais e financeiros. “O setor paga relativamente pouco imposto. Mas sempre querem mais”.

Este também é um questionamento da pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) Biancca Scarpeline de Castro. Segundo ela, a pecuária, de modo geral, é uma atividade já bastante subsidiada pelo governo. “Essa é mais uma medida para beneficiar os produtores rurais em detrimento da sociedade. Isso porque o subsídio aos pecuaristas significa que os estados estão abrindo mão de impostos capazes de pagar políticas de saúde, educação e segurança para a população como um todo”, diz.

Fonte: O Eco

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

Artigos Relacionados

Estudo global revela maior número de grupos de tartarugas marinhas fora de risco crítico de extinção

Apesar do avanço positivo nas populações de tartarugas marinhas, o estudo também reforça a necessidade de continuidade e ampliação dos esforços de conservação.

Amazônia: Mãe Generosa, Filhos Ingratos

Amazônia não é cenário. É personagem. É protagonista. E é tempo de tratá-la como tal. Aos que vêm de fora: sejam bem-vindos. Mas venham com respeito. Venham com humildade. Venham dispostos a ouvir e a aprender. Porque aqui a gente dorme na rede, mas sonha de olhos bem abertos.

Noronha vive melhor temporada de desova de tartarugas-verdes da história recente

Até o início de maio, foram contabilizados 772 ninhos no arquipélago, superando os recordes anteriores de desova de tartarugas das temporadas de 2022/2023 e 2016/2017, que tiveram 430 e 420 ninhos, respectivamente.

Ilha do Combu vira modelo de ecoturismo na Amazônia

O ecoturismo comunitário se consolidou como uma nova alternativa de renda local e também como um símbolo de resistência e reinvenção na Amazônia paraense.

Povos da Amazônia ganham voz e imagem em exposição na França

A exposição sobre povos da Amazônia em Paris apresenta o cotidiano e as lutas de grupos como os seringueiros de Xapuri, os indígenas Sateré-Mawé, os catadores de açaí e os quebradores de coco babaçu.