Conhecer e identificar áreas onde ainda há abundância de onças-pintadas pode ser de grande ajuda no desenho de estratégias e ações de conservação mais eficientes para a espécie
Um novo estudo feito por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) destaca que as áreas protegidas da Amazônia internacional desempenham um papel essencial na preservação das onças-pintadas, funcionando como um escudo natural da espécie no chamado Arco do Desmatamento – fronteira agrícola que se estende do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
Publicado na edição de março da revista Biological Conservation, a pesquisa alerta para a necessidade urgente de conservar a floresta, especialmente em regiões mais ameaçadas, a fim de proteger essa espécie icônica.
O estudo revelou que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, registrou quase 10 onças por 100 km², totalizando 1.180 registros fotográficos. Esse número representa a maior concentração de onças-pintadas entre as áreas analisadas e é comparável aos índices do Pantanal, que abriga em média 12 onças por 100 km².

Por outro lado, na Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia, foram registradas apenas duas onças, indicando uma densidade populacional muito menor, possivelmente devido à pressão humana e ao desmatamento na região.
Para essa análise, os cientistas mapearam populações de onça-pintada em 22 áreas protegidas da Amazônia, instalando 40 câmeras em parques nacionais, reservas extrativistas e terras indígenas no Brasil, Equador, Peru e Colômbia. As áreas foram escolhidas para representar diferentes ecossistemas amazônicos, incluindo florestas de terra firme, igapós e várzeas, variando em altitudes, temperaturas e níveis de pressão humana.

“A destruição de habitats e a caça levou a redução expressiva e até o desaparecimento de populações de onça-pintada em diversas regiões das Américas. Então conhecer e identificar áreas onde ainda há abundância de indivíduos pode ser de grande ajuda no desenho de estratégias e ações de conservação mais eficientes para a espécie. Esse foi um esforço coletivo para entendermos melhor a distribuição da onça-pintada em todo o bioma, que atualmente é onde se concentra a maior população da espécie em toda a sua área de distribuição”, afirma Carlos Durigan, pesquisador do IPAM e um dos autores do estudo.
Assim, o estudo destaca a importância das florestas públicas não destinadas para a proteção das onças-pintadas na Amazônia. Essas áreas, pertencentes aos governos estaduais ou federal, somam 56,6 milhões de hectares – equivalente ao território da Espanha – e estão cada vez mais ameaçadas pela grilagem.