A vencedora do Nobel da Agricultura liderou estudos que resultaram no desenvolvimento de dezenas de tratamentos biológicos para sementes, capazes de promover ganhos expressivos na produtividade de soja, feijão, milho e trigo
A engenheira agrônoma e pesquisadora brasileira Mariangela Hungria foi anunciada como a vencedora do Prêmio Mundial da Alimentação (World Food Prize) na última terça-feira (13), sendo reconhecida internacionalmente por suas contribuições inovadoras à agricultura sustentável no Brasil. Conhecido como o “Nobel da Agricultura”, o prêmio é concedido pela Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos, a personalidades que promovem avanços significativos na qualidade, quantidade e disponibilidade de alimentos em escala global.
Com uma carreira de mais de 40 anos na pesquisa científica, Hungria liderou estudos que resultaram no desenvolvimento de dezenas de tratamentos biológicos para sementes, capazes de promover ganhos expressivos na produtividade de soja, feijão, milho e trigo. Suas inovações foram fundamentais para a redução do uso de fertilizantes químicos, contribuindo com práticas agrícolas mais sustentáveis e menos agressivas ao meio ambiente.
Considerada ‘mãe da microbiologia’ no Brasil, ela é pesquisadora da Embrapa Soja, em Londrina (PR), onde atua desde 1991, e professora na Universidade Estadual do Paraná e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Impacto das inovações
De acordo com estimativas, as tecnologias criadas pela cientista já foram aplicadas em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, gerando uma economia de até US$ 25 bilhões (R$ 127,5 bilhões) por ano para os produtores e evitando a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ anualmente.
Seu trabalho começou com o estudo de rizóbios, um grupo de bactérias benéficas que formam simbiose com as raízes de leguminosas, fornecendo nitrogênio às plantas em troca de compostos energéticos. Hungria identificou que a aplicação anual de inoculantes contendo essas bactérias em plantações de soja poderia resultar em um aumento de produtividade de até 8%, superando os resultados obtidos com fertilizantes sintéticos tradicionais.

“Substituir o uso de produtos químicos por produtos biológicos na agricultura tem sido a luta da minha vida”, afirmou a pesquisadora em comunicado. “Tenho muito orgulho de contribuir para a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, diminuir o impacto ambiental.”