No Brasil, acesso precário à escola faz Índice de Capital Humano despencar

Para melhorar o Índice de Capital Humano, o Brasil precisa pensar em medidas para estimular a economia e também aproveitar melhor seus talentos

Por Luciano Nakabashi

O tema da coluna Reflexão Econômica desta semana é o Índice de Capital Humano (ICH), relatório elaborado pelo Banco Mundial que tenta medir a produtividade de uma criança desde o nascimento até completar 18 anos, mantendo as condições de saúde e educação daquela região constantes.

Segundo Luciano Nakabashi, o ICH é um indicador que tem como base três outros subindicadores: taxa de sobrevivência infantil de crianças até 5 anos e ausência de déficit de crescimento; anos de escolaridade, ajustados pela aprendizagem; e taxa de sobrevivência na idade adulta. “O capital humano é o que aprendemos em casa e na escola, a experiência no trabalho, ou seja, tudo que afeta a produtividade em termos educacionais, de experiência e de saúde.”

O Brasil vinha apresentando uma melhora nesses indicadores nos últimos anos, diz o professor, mas houve uma queda muito forte durante a pandemia, principalmente pelo acesso precário à escola nesse período. As crianças ficaram muito tempo em casa, sobretudo, as economicamente menos favorecidas que tiveram acesso precário às aulas. “Tudo isso fez com que o Brasil tivesse uma regressão de dez anos nos indicadores de capital humano do Banco Mundial.”

Sobre medidas para reverter a queda do Brasil no ICH, Nakabashi lembra que o próprio relatório aponta algumas ações importantes, como a busca ativa por alunos ausentes das salas de aula, identificação daqueles com alto risco de evasão e ações preventivas para eles permanecerem na escola, programas de tutoria personalizados para as crianças com defasagem na aprendizagem e para redução de choques emocionais causados pela pandemia, e, também, ampliação do fornecimento de creches e escolas infantis. “Quando pensamos em políticas de médio e de longo prazo podemos aprender com medidas que já foram adotadas e tiveram sucesso.”

Como exemplo de medidas que podem ser implantadas em larga escala no País, o professor cita cidades do Ceará que se destacam na melhora do aprendizado das crianças com foco não só na escola, mas também na família. “Nessa questão do capital humano, somos um país que cresce pouco e vem enfrentando problemas, portanto, as medidas precisam ser tomadas não só pensando na economia, mas também para aproveitar melhor os talentos que temos no País.”


Reflexão Econômica 
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar toda quarta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7 FM; Ribeirão Preto 107,9 FM) e também no Youtube, com produção do Jornal da USP e TV USP.

Texto publicado originalmente por Jornal da USP

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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