Para que ocorra a neutralidade climática se faz necessário uma redução significativa nas emissões de gases de efeito estufa com mudanças profundas nos setores de energia e agropecuária
O cientista Carlos Nobre afirmou que o Brasil tem potencial para zerar suas emissões de gases de efeito estufa até 2040, durante a palestra de abertura do segundo dia da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, nesta quarta (07). Nobre apresentou dados preliminares de um estudo em andamento, que indicam que essa meta é tecnicamente viável se o país adotar mudanças estruturais em setores-chave.
Para alcançar a neutralidade climática nesse prazo, Nobre defende quatro grandes transições: a adoção de uma matriz energética 100% limpa, o desenvolvimento de uma agricultura neutra em carbono, a geração de emissões negativas por meio do uso sustentável da terra e a restauração ecológica em larga escala.
“O Brasil tem total potencial para ter 100% de energia limpa e renovável e, até 2040, com agricultura muito mais neutra em carbono, grande restauração florestal. Nosso estudo aponta que podemos remover até 600 milhões de toneladas de CO2 por ano, a partir de 2040, restaurando os biomas”, diz o climatologista.

Nobre destacou que os efeitos dessas medidas, além de ir além do enfrentamento à urgência climática, poderiam garantir mais qualidade de vida às populações. “Caso vocês não saibam, a queima dos combustíveis fósseis gera poluentes em todas as cidades do mundo. Quantas pessoas morrem devido à poluição urbana no mundo? Seis a sete milhões de pessoas por ano”, pontua.
Embora o Brasil esteja avançando em políticas ambientais — como a meta de restaurar 12 milhões de hectares e zerar o desmatamento em todos os biomas até 2030 —, o pesquisador lembra que essas ações ainda são insuficientes se não houver mudanças profundas nos setores de energia e agropecuária. Caso se mantenha o uso de combustíveis fósseis e práticas agrícolas com altas emissões, o país continuará emitindo cerca de 1,2 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente, mesmo com os avanços na conservação florestal.

Carlos Nobre destaca que, entre os impactos mais alarmantes, está o branqueamento de corais, fenômeno causado pelo aumento da temperatura dos oceanos, que ameaça 25% da biodiversidade marinha. Além disso, o cientista mencionou que, se a temperatura global ultrapassar 2 °C em relação aos níveis pré-industriais, até 99% das espécies poderiam desaparecer, indicando um colapso da biodiversidade global.
Para o governo, a meta ainda é zerar as taxas de desmatamento até 2030. “Não apenas para a Amazônia, mas para todos os biomas. A meta, mais do que nunca, deve estar de pé até 2030”, garantiu a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.