Pesquisa de doutorado analisa os impactos de políticas sustentáveis do manejo do pirarucu na Reserva do Amanã e destaca importância da integração entre ciência, saberes locais e ecologia para a conservação ambiental.
A pesquisa de doutorado do antropólogo Rônisson Oliveira, realizada na Unicamp, analisou os impactos sociais do plano de manejo do pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas. Filho de moradores da comunidade de Coraci, Oliveira retornou à região para conduzir o trabalho de campo, unindo vivência local e formação acadêmica.
Implantado com apoio do Instituto Mamirauá desde os anos 2000, o manejo é referência nacional por recuperar a espécie e gerar renda às comunidades. O estudo investigou os conflitos internos em Coraci, onde parte dos pescadores aderiu ao plano de manejo e outra decidiu não participar. Segundo o pesquisador, políticas de conservação como essa têm reconfigurado não apenas o meio ambiente, mas dinâmicas sociais, vínculos familiares, práticas religiosas e relações com o território.
A pesquisa mostra que o pirarucu é percebido por muitos moradores como um ser inteligente e com vontade própria, mais próximo de um sujeito do que de um simples recurso natural. Essa visão desafia a separação entre humano e natureza, propondo uma abordagem multiespécie na ecologia.
Para o antropólogo, integrar conhecimentos tradicionais, ciência e religiosidade é fundamental para criar um modelo eficaz de sustentabilidade. O autor aponta que conservar é também respeitar os modos de vida locais e reconhecer as interdependências entre os humanos e outros seres vivos em todas as dimensões: ambientais, sociais e espirituais.