Lixo urbano vira biogás em novo aterro de Manaus

Ao invés de simplesmente descartar o lixo, ele irá captar os gases de efeito estufa liberados na decomposição dos resíduos, especialmente o metano, para produzir biogás

O Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR), atualmente em construção em Manaus, Amazonas, apresenta uma proposta inovadora: ao invés de simplesmente descartar o lixo, ele irá captar os gases de efeito estufa liberados na decomposição dos resíduos, especialmente o metano, para produzir biogás, uma fonte de energia limpa e renovável.

O CTTR representa um avanço estratégico na gestão de resíduos sólidos urbanos e no combate às mudanças climáticas. Com um terço das obras já concluídas, o centro está projetado para receber resíduos de toda a Região Metropolitana de Manaus, abrangendo municípios localizados em um raio de 150 quilômetros da capital.

No Brasil, mais de 41% dos resíduos urbanos tiveram destinação inadequada em 2023, apontou um relatório divulgado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), no ano passado.

No Brasil, mais de 41% dos resíduos urbanos tiveram destinação inadequada em 2023.
No Brasil, mais de 41% dos resíduos urbanos tiveram destinação inadequada em 2023 | Foto: Hermes Rivera

Atualmente, a cidade de Manaus ainda destina cerca de 3 mil toneladas diárias de resíduos sólidos gerados pela população para um antigo depósito de lixo, localizado no quilômetro 19 da Rodovia AM-010, que conecta a capital ao município de Itacoatiara. Essa infraestrutura foi construída em 1986 como lixão e, apenas em 2025, passou oficialmente a ser considerada um aterro sanitário.

Apesar da reclassificação, o aterro já havia atingido seu limite de uso em 2024. Contudo, uma decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), emitida em abril de 2024, autorizou a expansão temporária da área do antigo aterro, permitindo a continuidade da operação até 2028.

“O nosso CTTR tem todo um processo de contenção que garante que não haverá nenhuma fuga de material, com um sistema de mantas de última geração, com drenagem para lagos de contenção, não só das águas pluviais, mas também da geração de chorume, com monitoramento de superfície e subsolo, ao redor de todo o equipamento, garantindo sempre a integridade daquele bioma que está ao nosso redor”, explica Hugo Nery, diretor-presidente da empresa de serviços e soluções ambientais.

A expectativa é que, quando o CTTR estiver em funcionamento, a planta tenha capacidade de reduzir as emissões por uso de gás natural em até 400 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente ao ano por meio da produção de biogás e gestão de resíduos.

Remover dióxido de carbono é insuficiente se planeta ultrapassar limite de 1,5°C de aquecimento
Remover dióxido de carbono é insuficiente se planeta ultrapassar limite de 1,5°C de aquecimento / Foto: Pixabay/Pexels

Vantagens do biogás

O biogás consiste em uma fonte alternativa e renovável de energia, que contribui significativamente para a redução dos impactos ambientais. O processo de produção envolve o reaproveitamento do lixo orgânico, que normalmente seria descartado na natureza, transformando resíduos em recurso energético. Além disso, a emissão de gases poluentes é baixa, sem a geração de resíduos secundários, o que torna a tecnologia limpa e eficiente.

O uso do biogás também ajuda a reduzir o volume de metano liberado na atmosfera, um dos principais gases de efeito estufa, contribuindo para mitigar as mudanças climáticas. Essa solução energética promove a economia circular, ao reinserir subprodutos no ciclo produtivo de forma útil. Outro benefício importante é o baixo custo de produção, que favorece a economia e a viabilidade de projetos sustentáveis, especialmente em áreas urbanas e industriais com alto volume de resíduos orgânicos.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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