No total, os cientistas identificaram 6.389 indivíduos, o que representa um avanço significativo no conhecimento sobre a distribuição e a densidade populacional das onças da Amazônia
Em um estudo considerado inédito no bioma amazônico, pesquisadores conseguiram estimar a concentração de onças-pintadas em áreas protegidas da Amazônia, utilizando uma extensa base de dados obtida por meio de câmeras de movimento instaladas na floresta. Esses dispositivos registram imagens remotamente e usam como meio para identificação as “impressões digitais” das onças da Amazônia: suas pintas.
“Esas pintas, essas rosetas, elas servem como impressões digitais nos seres humanos. Então, cada indivíduo de onça-pintada tem um padrão único”, explica o biólogo Guilherme Costa Alvarenga em entrevista ao Jornal Nacional.

A pesquisa, publicada na revista científica holandesa “Biological Conservation”, analisou 15 anos de registros em 22 áreas protegidas no Brasil e em mais três países da região. No total, os cientistas identificaram 6.389 indivíduos, o que representa um avanço significativo no conhecimento sobre a distribuição e a densidade populacional das onças da Amazônia — informação essencial para a conservação da espécie e de seu habitat.
Densidade de onças da Amazônia é variável
O estudo apresentou uma estimativa otimista da densidade populacional de onças-pintadas em áreas protegidas: em média, há cerca de três animais por 100 km². No entanto, os pesquisadores observaram grande variação entre as regiões monitoradas, com diferenças superiores a 20 vezes.

Por exemplo, na Reserva Biológica de Cuieiras, a densidade é de aproximadamente uma onça por 100 km², enquanto na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, mesmo com boa parte da floresta submersa durante o ano, foram registradas quase 10 onças por 100 km², a maior concentração do levantamento.
Segundo os pesquisadores, a principal explicação para essa variação está na disponibilidade de alimento oferecida por cada ambiente. Como predadores de topo, as onças-pintadas têm um papel essencial no equilíbrio ecológico, regulando populações de outras espécies e indicando a saúde do ecossistema onde vivem.

“A Amazônia é coberta por 54%, 55% de área protegida e terra indígena. Então, se em um pedacinho tão pequeno a gente conseguiu mostrar que tem tanta onça, você imagina o papel importantíssimo que as áreas protegidas e as terras indígenas têm para a proteção dessa espécie e, por consequência, de toda a biodiversidade que está debaixo desse guarda-chuva?”, reflete Alvarenga.