Entenda as duas iniciativas para combater crimes ambientais e o que falta para entrarem em prática

Projetos em paralelos, do Ibama e da Câmara, envolvem nova destinação de multas por crimes ambientais, e aumento de pena para crime de desmatamento

Dois anos depois do anúncio do governo sobre a meta de promover uma reviravolta no cenário das multas por crimes ambientais, as conversões seguem travadas por burocracias. O plano de restauração ambiental do Ibama, uma iniciativa ambiciosa que busca transformar multas ambientais, acumuladas em cerca de R$ 30 bilhões, em projetos para a recuperação da fauna e flora brasileiras, enfrenta entraves administrativos e falta de pessoal, o que prejudica sua implementação na prática.

Por meio desse sistema, os infratores podem trocar suas multas por projetos de preservação, melhoria ou recuperação ambiental. Como incentivo, o valor da multa é reduzido em até 60%, dependendo de fatores como o tipo de adesão escolhido e o prazo de recurso relativo à infração. Com isso, a proposta prometia atender a uma demanda significativa no contexto ambiental, mas atualmente está paralisada.

Burocracias travam iniciativa do Ibama que converte multas de R$ 30 bi por crimes ambientais em recuperação da natureza
Burocracias travam iniciativa do Ibama que converte multas de R$ 30 bi por crimes ambientais em recuperação da natureza | Foto: Reprodução

Outro desafio crucial no plano é a baixa efetividade no pagamento das multas. Menos de 5% das autuações são quitadas pelos infratores. Grande parte dos processos se perde em um ciclo de recursos administrativos e judiciais, atrasando ainda mais a execução das penalidades. Em muitos casos, as multas chegam a prescrever antes de qualquer pagamento.

Promessa de agilizar processos

O Ibama publicou em junho de 2023 um decreto que introduziu um formulário online de adesão, diminuindo o tempo necessário para a conversão “de anos para poucos minutos”, segundo o Instituto. Entretanto, até apenas seis projetos estão em andamento no momento. Quatro deles somam R$ 113 milhões e para os outros dois, não há valores contabilizados, o que não chega a 0,5% em conversões de multas pelos crimes ambientais.

Nova tentativa de endurecer a fiscalização

A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados aprovou na última semana um Projeto de Lei 4.689/19, que tem como objetivo fortalecer o monitoramento e o controle das autorizações para desmatamento de vegetação nativa, além de aumentar as punições para infratores. A pena passará a ser de detenção, de 1 a 5 anos, ou multa, ou ambas cumulativamente.

Bioma mais ameaçado do Brasil por crimes ambientais, Mata Atlântica registrou alta no desmatamento em 2021
Bioma mais ameaçado do Brasil, Mata Atlântica registrou alta no desmatamento em 2021 | Foto: Arquivo ((o))eco

A proposta exige que todos os produtores rurais autorizados a praticar o manejo florestal insiram informações no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e na plataforma do Sistema de CAR (Sicar), garantindo que os dados sejam atualizados constantemente. Essas mudanças buscam combater o desmatamento ilegal, melhorar a transparência das atividades de manejo florestal e promover uma gestão ambiental mais eficiente.

“A inserção no CAR dos dados relativos às autorizações para a conversão de vegetação nativa representa medida pertinente, pois viabilizará uma melhor atuação dos órgãos de fiscalização contra o desmatamento ilegal”, disse o relator, deputado Dilceu Sperafico (PP-PR).

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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