Sequência da entrevista com o professor Jacques Marcovitch
“A I AMAS – Amazonian Management Summit, a Conferência de Gestão da Amazônia”, um evento da parceria Dinter. USP e UEA, as universidades estatuais de São Paulo e Amazonas, acontecerá em Manaus, nos dias 29, 30 e 31 de agosto de 2018. O evento vai reunir pesquisadores e participantes de vários países, de renomadas instituições americanas, latino-americanas, europeias e asiáticas, dedicados ao estudo da inovação, sustentabilidade e governança como temas de grande importância para a região amazônica.
Será uma oportunidade para integrar pesquisadores e dirigentes de empresas públicas, privadas além de associações da sociedade civil e ONGs, tanto nacional como internacional, na discussão dos desafios enfrentados pela região amazônica. Esta iniciativa dará também destaque a Projetos de Desenvolvimento Sustentável na Região Amazônica. Projetos inovadores que consideram, simultaneamente, a conservação ambiental, a responsabilidade social, a viabilidade econômica e o respeito à diversidade cultural. Projetos que revelem através de sua prática o potencial de transformação da Região Amazônica em prol do seu desenvolvimento sustentável.
Este destaque inclui startups e pequenos negócios de sucesso na Amazônia, desenvolvidos nos meios urbano e rural. Apresentamos, aqui, a Parte II da conversa com o professor Emérito da USP, Jacques Marcovitch.
FOLLOW-UP: Qual é o eixo central de conexão entre USP e UEA da qual surgiu a ideia do Doutorado Interinstitucional e daí a I AMAS, a Conferência de Gestão da Amazônia?
Jacques Marcovitch: A proposta ordenadora dessa conferência é a mesma de atualização e integração dos pioneiros da Amazônia, suas propostas precursoras de compatibilidade entre desenvolvimento e meio ambiente. Estamos criando um convívio criativo, isto é, um lugar aonde é possível pensar juntos, pensar duas universidades, mas convidando outras instituições, que sejam instituições empresariais da sociedade civil, nessa visão de empresa que não separa economia de ecologia. Desde o início desta parceria, e como tema dessa conferencia, nos propomos a pensar em torno de três grandes temas: o tema de inovação, mas entendendo inovação como parte do conhecimento científico e da tecnologia, no sentido de gerenciar e resolver velhos problemas através de novas soluções; o tema da sustentabilidade, entendendo que hoje o Brasil, assumiu compromissos nos Acordos de Paris, que envolvem tanto solução das emissões de gás de efeito estufa, como também a cobertura vegetal com a restauração de 12 milhões hectares de floresta. Em outras palavras, o tema da sustentabilidade, portanto, é o compromisso, até 2030, das NDC (Contribuições Nacionalmente Determinada pelo Brasil); e o terceiro tema, a vertente central da parceria acadêmica, é a governança.
É uma vertente de governança nas suas várias dimensões, evidentemente, a governança de políticas públicas, mas também na governança de instituições privadas e públicas e também as organizações da sociedade civil; e na governança surge novos modelos, os modelos multimídias, os modelos Coalizão. E nós vamos, então, discutir nesta Conferência esses novos modelos de governança, não só para o estado do Amazonas, nem só para a Região Norte, mas para todo o bioma amazônico continental. Eis a razão de termos convidados pesquisadores da Colômbia, do Peru, e de outros países que integram a Amazônia Continental, incluindo a OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônia), por entender que a Amazônia deve ser vista como um todo e não como fragmentos nacionais. A própria natureza não reconhece essas fronteiras de fragmentos, ela lida com o todo e, portanto, nós temos que respeitar essa realidade que a natureza nos impõe e tratar conjuntamente com os demais países vizinhos do projeto de preservação e de construção de uma sociedade muito mais justa e muito melhor desenvolvida.
FUP: Vamos desenhar o dia seguinte. O que os participantes e a comunidade podem esperar desta Conferência?
JM: É de fundamental importância ver com a máxima clareza o que nós podemos ver no dia seguinte, o desfecho da reunião, entender o contexto, e depois verificar, as formas de implementação. Obviamente que o contexto central é um contexto de Brasil, e sua interação com um mundo em transformação. Acredito que nós estamos num momento de rupturas de viários paradigmas, tanto em escala global, como das escolhas do processo eleitoral, que mobiliza o Brasil na opinião pública, as lideranças disponíveis, tanto as lideranças que vem do passado, como lideranças que estão surgindo agora, e lideranças que estão se engajando em pensar num futuro diferente para o Brasil. Então, nesse quadro, há um momento oportuno para organizar a agenda de prioridade. E o que nós vamos fazer, desde o primeiro dia do Congresso, é oferecer uma estrutura, para que essa agenda seja montada e a partir daí, em cada painel, em cada apresentação de pesquisa, em cada apresentação de papers, em cada uma das sessões, nós possamos colher propostas de subsídios para serem apresentados na última sessão da semana, e a partir daí ter um documento que serviria de base para essa construção de futuro, agora!
FUP: Corremos o risco de fazer da Conferência a produção de um novo amontoado de recomendações?
JM: Entendo que não basta um documento. Precisamos assumir atitudes. E para pensar num futuro melhor, é preciso pensar em 3 dimensões, em primeiro lugar nas lideranças, quem são as pessoas que vão implementar essas propostas? Pensando nisso, muito antes da organização da agenda, fizemos algumas reuniões, uma em Manaus com entidades associadas, especialmente com aquelas formadoras de recursos humanos. E elas estarão presente no Congresso, onde teremos reunião de trabalho para discutir o alcance dessa formação de lideranças, assegurar que serão melhor preparadas para implementação de políticas públicas e de prioridades regionais. A segunda dimensão vai tratar da estratégia de como implementar cada uma dessas prioridades, quer seja na área da energia, quer seja na área de empregos verdes, na utilização de finanças verdes, na criação de modelos de governança, mas também na criação de novas iniciativas, de novos empreendedores que estão surgindo através de um modelo de startups que borbulham na região. Entretanto, não basta cuidar das lideranças e das estratégias se nós não tivermos monitoramento, isto é, é preciso ter métrica, métricas que nos dizem como estamos avançando, aonde estamos avançando, onde estamos falhando e a partir daí, comparar as metas que queremos alcançar, com os resultados que nós estamos alcançando. Então, em resumo, meu caro Alfredo Lopes, essa é a ideia, é começar desde antes mesmo da reunião, estruturar uma agenda de prioridades, apresentá-la no primeiro dia, ela será discutida e enriquecida ao longo dos três dias, cristalizada e articulada no último dia, mas esse último dia é o início de uma etapa, onde precisamos identificar para cada uma das prioridades, liderança, estratégia e monitoramento. Muito obrigado.
Esta Coluna é publ/icada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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