Gastronomia amazônica vira ponte entre floresta, ciência e geração de renda

Chefs do Pará unem técnicas tradicionais e ciência para transformar a gastronomia amazônica em motor de conservação e desenvolvimento sustentável.

Na região de Santarém, oeste do Pará, chefs têm transformado a gastronomia amazônica em um elo entre saberes tradicionais, ciência e geração de renda local. À frente desse movimento estão nomes como Erick Souza, Nixon Ferreira e Léo Modesto, que aliam técnicas indígenas, biologia e tecnologia para valorizar ingredientes e comunidades da floresta e gerar trabalho e renda.

Biólogo e chef, Erick Souza comanda o restaurante Pôr do Sol, na praia de Pindobal, onde resgata a piracáia, peixe assado na brasa à beira-rio, e desenvolve pratos como o tucunaré recheado com ervas e servido em folha de bananeira. Além da cozinha, atua na restauração ambiental do lago Jurucui, em parceria com moradores locais, somando quase mil mudas de árvores nativas plantadas.

Já Nixon Ferreira atua como pesquisador de sabores amazônicos. A sua especialidade é a defumação com madeiras frutíferas — técnica ancestral que aumenta a durabilidade dos alimentos. O chef também reinventa o tarubá, fermentado de mandioca, em receitas contemporâneas como bolos, sorvetes e bebidas.

Ingredientes típicos da gastronomia amazônica sobre uma mesa de madeira.
Ingredientes da floresta como tucupi, ervas e maniva inspiram inovações da gastronomia amazônica. Foto: Awe Amazônia.

Em Alter do Chão, Nixon criou uma pizzaria com sabores da floresta, como raia defumada e camarão com urucum, evidenciando o potencial da gastronomia amazônica em novos formatos. Natural de Santarém (PA), Nixon Ferreira ressalta a cozinha como parte da identidade da Amazônia. “Eu acho que a nossa alimentação é a nossa história. Quando a gente fala de gastronomia, a gente está falando também de biodiversidade e conservação ambiental”.

Léo Modesto, por sua vez, une a prática culinária à ciência. Finalista do programa “Mestre do Sabor”, formou-se em gastronomia e pesquisa microfermentações, técnicas de conservação e hortas próprias. Para ele, cozinhar é educar: explicar a origem e os processos de cada ingrediente aos clientes, criando experiências sensoriais ligadas ao território.

Com raízes locais e olhar técnico, os três chefs exemplificam como a gastronomia amazônica pode ser instrumento de preservação ambiental, inovação cultural e inclusão econômica. Ao cruzar a tradição com o conhecimento científico, suas cozinhas ajudam a conservar e divulgar a culinária da floresta.

Prato da gastronomia amazônica criado pelo chef Léo Modesto, com ingredientes regionais e apresentação sofisticada.
Prato autoral do chef Léo Modesto valoriza ingredientes amazônicos com técnicas contemporâneas e saberes tradicionais. Foto: Divulgação/Sebrae.

Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

Artigos Relacionados

Na COP30, UEA transforma ciência amazônica em propostas de impacto para o clima

UEA apresenta na COP30 projetos inovadores que aliam ciência amazônica, justiça climática e soluções sustentáveis para o clima.

Denis Minev defende agroflorestas para impulsionar Amazônia na COP30

Na COP30, Denis Minev defende agroflorestas para regenerar terras e impulsionar uma economia sustentável na Amazônia.

COP30 apresenta “Pacote Azul”, plano de US$ 116 bilhões para proteger oceanos

COP30 lança o Pacote Azul, plano de US$ 116 bilhões para integrar oceanos às metas climáticas.

Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 — A Última Chamada

"A Avaliação da Amazônia, apresentada por mais de uma centena...