Uma pesquisa pioneira realizada pela Universidade Federal de Rondônia (Unir) promete transformar o setor de mineração de ouro ao utilizar extratos de “pau-de-balsa”, árvore amazônica, em substituição ao mercúrio, informou o g1.
O professor Wanderley Bastos, coordenador do projeto e integrante do Departamento de Biologia da Unir, revelou em entrevista que a substância encontrada nas folhas do pau-de-balsa poderia ser a solução para evitar o uso do mercúrio, um metal de alta toxicidade e grandes impactos ambientais.
“Embora nossa pesquisa esteja em seus estágios iniciais, os testes demonstram um potencial significativo do extrato da planta em isolar o ouro dos demais sedimentos,” disse Bastos, destacando o caráter promissor dos resultados obtidos até o momento.
O uso atual de mercúrio na garimpagem é um método tradicional, mas traz consigo a liberação dessa substância tóxica no meio ambiente, causando riscos à saúde humana e afetando a fauna fluvial, com a contaminação dos peixes e rios.
A equipe de pesquisa ainda trabalha na identificação específica da substância ativa no extrato de pau-de-balsa. Esse componente é o que permitiria a separação do ouro sem a necessidade de mercúrio. Os estudos prosseguem para determinar os elementos químicos envolvidos nesse processo.
Um relatório elaborado por instituições renomadas, incluindo a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em parceria com organizações como Greenpeace e WWF-Brasil, posiciona o mercúrio como o terceiro poluente mais perigoso para a saúde humana a nível global.
Além disso, o estudo sublinha a grave contaminação por mercúrio dos peixes nos rios de Rondônia, com níveis acima dos limites estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), elevando a urgência por alternativas seguras de mineração.
A pesquisa da Unir aponta para um futuro onde a mineração de ouro não somente se tornará mais segura para o meio ambiente e para as populações locais, mas também poderá ser um marco no desenvolvimento de práticas sustentáveis na indústria de garimpo. “A substituição do mercúrio já seria, por si só, um avanço extraordinário”, conclui o professor Bastos, evidenciando o impacto potencial da descoberta.
Beneficios da redução do mercúrio
Entre as vantagens, a redução na emissão de mercúrio para o meio ambiente é uma das mais notáveis. A substituição diminuiria significativamente a liberação desse metal tanto na sua forma líquida quanto gasosa, mitigando os danos ecológicos associados à sua utilização tradicional na extração de ouro.
Para os trabalhadores da mineração, essa inovação poderia representar uma diminuição considerável nos riscos ocupacionais, uma vez que a exposição ao mercúrio traz sérias consequências à saúde.
A contaminação de peixes de rios por mercúrio também seria drasticamente reduzida, um avanço importante para a segurança alimentar e saúde das comunidades locais que dependem desses recursos pesqueiros para a sua alimentação e economia.
A comunidade garimpeira, incluindo os trabalhadores artesanais dos rios de Rondônia, tem recebido a notícia da pesquisa com entusiasmo. “Eles estão curiosos e esperançosos, mostrando-se dispostos a colaborar”, afirma o professor Wanderley Bastos, apontando para o potencial da pesquisa em engajar os profissionais diretamente afetados pelas mudanças.
O otimismo crescente sinaliza uma transformação positiva no horizonte do garimpo artesanal, com a possibilidade de um futuro em que a atividade possa ser realizada de forma mais segura e sustentável.
Ochroma Pyramidale: a versátil árvore amazônica com usos inovadores
A Ochroma pyramidale, uma espécie arbórea mais conhecida como pau-de-balsa, pau-de-jangada e pata-de-lebre, é uma planta nativa da região neotropical que se destaca na flora nortista do Brasil, revelando-se uma fonte de matéria-prima valiosa para diversas aplicações.
Pertencente à família Malvaceae, que também abriga plantas como paineira, baobá, algodão e quiabo, a pau-de-balsa é amplamente reconhecida por sua madeira leve e ao mesmo tempo resistente, características que a tornam ideal para a indústria de construção naval.
Utilizada tradicionalmente na fabricação de barcos e jangadas, a versatilidade da madeira de pau-de-balsa vai além das margens dos rios e mares. No setor de móveis, ela é valorizada por sua facilidade de manejo e pela qualidade que oferece aos produtos finais.
A leveza da madeira dessa planta não sacrifica sua robustez, o que a torna uma escolha preferencial para a confecção de artefatos que exigem durabilidade sem o peso excessivo. Com essa combinação de propriedades, o pau-de-balsa é não apenas um recurso natural estratégico, mas também um exemplo de como os recursos da biodiversidade amazônica podem ser utilizados de maneira sustentável e inovadora.
Estudos adicionais e investimentos em pesquisa poderiam ampliar ainda mais o leque de aplicações da Ochroma pyramidale, tanto em indústrias tradicionais quanto em tecnologias emergentes, reforçando o valor dessa espécie dentro e fora da região Norte do Brasil.
*Com informações G1
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