“No final da COP30, a mensagem é inequívoca: a luta não só continua — agora ela tem um centro de gravidade, e ele se chama Amazônia brasileira”
Manifestação do Portal Brasil Amazônia Agora
A COP30 se encerrou sem o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis, sem metas claras de financiamento climático e sem avanços explícitos na pauta do desmatamento — mas não sem um legado. Há conferências que se distinguem pelo documento aprovado, e há conferências que se distinguem pela coragem política de quem as conduz. Belém pertence à segunda categoria.
O texto final, negociado até o limite da exaustão, reflete pressões externas, divergências históricas e interesses que nenhum país — nem mesmo o Brasil — tem força para dobrar sozinho. A Arábia Saudita impôs seu veto absoluto a qualquer referência a petróleo, gás e carvão. A Índia, a China e a Rússia mantiveram a posição já conhecida de bloquear compromissos que restrinjam seu crescimento energético. Parte da Europa concentrou esforços em suavizar metas financeiras. É um mundo dividido que se revela na mesa de negociação — não o fracasso de quem o tenta unir.
Ainda assim, a presidência brasileira da COP fez o que se espera de quem conhece o tamanho da emergência climática: foi até onde o mundo permitiu e avançou mais do que o mundo desejava. O plano defendido por Marina Silva e pelo presidente Lula para iniciar a transição pós-fóssil não sobreviveu às últimas madrugadas, mas revelou ao planeta a clareza de uma liderança que não teme dizer o óbvio: combustíveis fósseis são a causa da doença climática, e não há solução possível sem tratá-la.
Belém ensinou ao mundo que, mesmo quando a política internacional é incapaz de reconhecer a verdade científica, um país pode assumir o papel de produtor de visão — e visão é o que faltava ao sistema multilateral.
O Brasil conduziu a COP30 com dignidade, organização exemplar e agenda de futuro. Independentemente do resultado negociado, o Brasil demonstrou três forças incontestáveis:
1. Capacidade diplomática e técnica
Ao conduzir negociações tensas, costurar consensos provisórios e administrar vetos poderosos, o Brasil mostrou que compreende o funcionamento profundo do regime climático. André Corrêa do Lago entregou equilíbrio, lucidez e serenidade num dos cenários mais fragmentados da história das COPs.
2. Capacidade de organização e logística
Belém provou que a Amazônia pode sediar o mundo. O evento foi estruturado, acessível, diverso e seguro — desmontando preconceitos históricos e mostrando que a floresta também é centro de decisões globais e não apenas cenário remoto de debates alheios.
3. Capacidade de produzir agenda e orientar cenários
Se o mapa do caminho saiu do texto final, ele não saiu da história. O Brasil inscreveu oficialmente a necessidade de enfrentar os fósseis e de integrar povos indígenas, territórios tradicionais e comunidades afrodescendentes na arquitetura climática. A inclusão desses reconhecimentos — inéditos — já reposiciona o debate mundial sobre justiça climática.
O Brasil também pavimentou uma trilha para o futuro: iniciativas próprias, fora da rigidez das COPs, para avançar em dois temas que nenhum país teve coragem de encarar em plenário — fósseis e desmatamento. Se o mundo recuou, o Brasil não recua.
Um mundo travado não invalida o avanço de quem tenta movê-lo
Os compromissos financeiros ficaram vagos — é verdade. O combate ao desmatamento não entrou no texto — também é verdade. Nada disso surpreende: nos últimos anos, as COPs têm se tornado espaços de contenção, não de aceleração. O Brasil, entretanto, conseguiu registrar algo que países ricos e produtores de petróleo evitavam há décadas: o reconhecimento explícito de que as metas financeiras internacionais nunca foram cumpridas. Esse avanço político pode ser mais potente que um parágrafo que seria esvaziado ou ignorado a seguir.
Além disso, forçou a ONU a incluir no debate climático um tema que a Europa resistia frontalmente: as medidas unilaterais de comércio. Foi um gesto raro de realismo geopolítico, necessário para proteger países em desenvolvimento de barreiras que afetam suas exportações.
A COP30 não encerra nada — ela inaugura o próximo ciclo da luta
Se Belém não entregou todas as respostas, entregou as perguntas certas. Se o texto não trouxe todos os compromissos, trouxe as contradições à superfície. E se o mundo recusou o mapa do caminho, o Brasil já assumiu que o desenhará por conta própria.
Entre Belém e a COP de 2026, na Turquia, o Brasil liderará:
• uma iniciativa internacional para enfrentar o fim da era fóssil;
• uma agenda própria para desmatamento zero;
• um ciclo de inclusão real de povos indígenas, afrodescendentes e mulheres nas decisões climáticas;
• uma diplomacia climática mais assertiva, que não teme nomear causas nem apontar caminhos.
A luta não só continua — agora ela tem um centro de gravidade: a Amazônia brasileira