Dados recentes do sistema de monitoramento DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), revelam uma preocupante tendência no desmatamento do Cerrado, um dos biomas mais importantes do Brasil. Em março de 2024, enquanto a Amazônia registrou uma queda de 54% no desmatamento em comparação ao mesmo período do ano anterior, o Cerrado viu um aumento alarmante de quase 24%.
No último mês, a Amazônia teve alertas de desmatamento somando 162,03 km² de vegetação, significativamente menos que os 356,14 km² registrados em março de 2023
No entanto, no Cerrado, os alertas chegaram a 523,72 km², o maior valor registrado desde o início da série histórica em 2018. Nos primeiros três meses de 2024, o desmatamento no Cerrado totalizou mais de 1.475 km², uma área equivalente à cidade de São Paulo.
Esta diferença nas tendências de desmatamento entre os dois biomas pode ser atribuída, em parte, às diferentes legislações ambientais que regulamentam a supressão de vegetação. No Cerrado, é permitido desmatar até 80% da área dentro das propriedades rurais, resultando em grande parte do desmatamento sendo tecnicamente autorizado. No entanto, como alerta Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento do INPE, “se desmatarmos 80% do Cerrado, qual o impacto que isso vai ter?”
A destruição acelerada do Cerrado, principalmente para conversão de terras em áreas agrícolas, ameaça diretamente a disponibilidade de recursos hídricos do bioma. O Cerrado é conhecido como a “caixa d’água do Brasil”, sendo a origem de importantes rios que abastecem várias regiões do país. A especialista em conservação do WWF-Brasil, Ana Carolina Crisóstomo, destaca a redução significativa na vazão dos rios e o avanço de condições climáticas áridas dentro do bioma como efeitos diretos do desmatamento.
Além dos danos ambientais, a falta de controle sobre contratos de concessão de crédito rural a propriedades com irregularidades ambientais agrava a situação. Recentemente, ativistas do Greenpeace Brasil protestaram em Brasília contra o Banco do Brasil, maior operador de crédito rural na Amazônia, por não seguir as regras do Manual de Crédito Rural, concedendo financiamento a imóveis rurais em áreas de proteção.
A continuidade dessa tendência de desmatamento no Cerrado representa uma séria ameaça não apenas ao bioma em si, mas também aos recursos hídricos essenciais para a agricultura e para o abastecimento de água de várias regiões do Brasil. A urgência em encontrar e implementar soluções é destacada por especialistas, que alertam sobre o impacto irreversível que a destruição do Cerrado pode ter no equilíbrio ecológico e na economia agrícola do país.
Informações :
- INPE – Sistema DETER
- WWF-Brasil
- Jornal Nacional (TV Globo)
- Greenpeace Brasil
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