A perda de árvores pelo desmatamento da Amazônia altera a dinâmica da umidade local, colocando em risco a biodiversidade e a agricultura local.
De acordo com uma pesquisa publicada na revista Nature nesta quarta-feira (5), o desmatamento da Amazônia afeta diretamente o regime de chuvas da região: ele torna a estação chuvosa mais úmida e a estação seca ainda mais seca.
O estudo, conduzido por cientistas da China e Tailândia, mostra que, durante a estação chuvosa, há mais precipitação sobre áreas desmatadas, enquanto na estação seca, quando a floresta mais precisa de umidade, as chuvas diminuem em uma região mais ampla.

Utilizando dados de satélite e simulações climáticas, os pesquisadores analisaram os impactos do desmatamento da Amazônia entre 2000 e 2020 e concluíram que a perda de árvores altera a dinâmica da umidade, colocando em risco a biodiversidade e a agricultura local. Além disso, essa destruição do bioma, impulsionada principalmente pela expansão agrícola e mineração, compromete sua capacidade de absorver dióxido de carbono, intensificando as mudanças climáticas.
“Devido ao seu papel fundamental na regulação do clima regional e global, são necessários esforços contínuos para proteger as florestas restantes na Amazônia, bem como reabilitar as terras degradadas”, concluem os autores.

Amazônia pode virar Savana
Wim Thiery, professor da Vrije Universiteit, destaca que a pesquisa contribui para entender se a Amazônia está se aproximando de um “ponto de inflexão” – o chamado “ponto de não-retorno”, a partir do qual a devastação não poderia ser revertida. Esse fenômeno poderia transformar a floresta em uma savana, alterando drasticamente o ecossistema e liberando grandes quantidades de carbono na atmosfera.
Um estudo anterior, também publicado na Nature, estimou que, até 2050, entre 10% e 47% da Amazônia poderá ser afetada pelo aquecimento global e desmatamento. Esse cenário resultaria em aumento das temperaturas e intensificação das mudanças climáticas globais, agravando ainda mais a crise ambiental e fenômenos como secas extremas e enchentes.