Bolsas, chaveiros, bloquinhos e itens de decoração feitos a partir de couro de tilápia são destaques de projeto sustentável criado por empreendedora na Bahia
Na cidade de Paulo Afonso, na Bahia, a pele de tilápia adquiriu um novo significado – e um novo destino sustentável. Graças ao trabalho da artesã Regina Soares, de 58 anos, surgiu em 2012 o projeto Ecotilápia, responsável por transformar a pele desse animal em peças artesanais produzidas em um ateliê instalado em sua própria casa. Entre os produtos estão bolsas, chaveiros, bloquinhos e itens de decoração, com preços a partir de R$ 5.
A ideia surgiu após Soares participar de um curso em Piranhas, Alagoas, onde teve contato com técnicas de reaproveitamento da pele de peixe. “Foram 10 dias de curso e oficinas. Lá conheci o couro da tilápia e até aprendi a fazer uma carteira. Além disso, a minha cidade também possui muitas pisciculturas e não havia essa preocupação com o reaproveitamento do material descartado. Muitas peles iam para o lixo mesmo”, diz em entrevista ao veículo Pequenas Empresas, Grandes Negócios.
Desde então, a artesã se dedicou a estudar práticas que unissem sustentabilidade com geração de renda, adaptando o projeto à sua realidade local. Hoje, o Ecotilápia é visto como referência de economia criativa e reaproveitamento de resíduos no sertão baiano.
De peixe a solução sustentável
Regina Soares detalha o processo artesanal e sustentável que transforma a pele da tilápia em um material semelhante ao couro. O procedimento começa com o congelamento das peles, que são coletadas mensalmente em quantidade que varia entre 150 e 200 unidades. Após o congelamento, inicia-se a etapa de limpeza, com a retirada da gordura e das escamas.
Em seguida, o material passa por um tratamento tradicional com cinza e cal, que dura cerca de seis dias. Esse processo ajuda a conservar e preparar a pele para as etapas seguintes. Após essa imersão, as peles são lavadas para eliminar os resíduos e, depois, mergulhadas por seis a doze horas em uma solução contendo amônia, o que contribui para a preservação e preparação para a curtição final do couro de tilápia.
A etapa final da transformação envolve o uso da casca e do tronco do angico, uma árvore nativa rica em taninos — substâncias naturais com forte capacidade de conservação. Esses taninos conferem durabilidade, resistência e maleabilidade ao material final, convertendo a pele da tilápia em um couro de tilápia ecológico apto para produção artesanal. O processo completo de curtimento dura cerca de 15 dias. “Só depois disso que o couro pode ser moldado e transformado nas peças de artesanato”, afirma.
Regina comercializa os itens de forma virtual por meio de pedidos no Instagram e WhatsApp e durante a exposição em feiras no estado.
Renda sustentável
Através da aprovação em um edital, Regina Soares ampliou o alcance do projeto Ecotilápia ao ministrar oficinas para ensinar sua técnica de reaproveitamento da pele de tilápia em uma unidade do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), em Paulo Afonso (BA). Nessas atividades formativas, a artesã compartilha seu conhecimento com a comunidade local, especialmente com mulheres e jovens que buscam alternativas de geração de renda.