Estudioso dos gargalos logísticos e, a partir deles, de alguns dos fatores que impedem o desenvolvimento regional deste Brasil Amazônia, o professor e empresário Augusto César Barreto Rocha prepara mais um livro para gritar seu brado de insatisfação com a ausência de projeto do país para promover a gestão de seu bioma florestal e transformar a imensidade de suas prodigalidades naturais, sob o signo inteligente da Sustentabilidade, em prosperidade geral.
O livro vai tratar das Utopias da Hileia, não no sentido popular deste termo que traduz utópico como inacessível, intangível, portanto, irrealizável. Seu mote é alinhar e alinhavar os instrumentos, as premissas e o passo a passo da antecipação das utopias. Ou seja, como fazer na Amazônia para antecipar a Civilização da Prosperidade Sustentável? Um dos artigos será antecipado na edição de hoje. Confira.
Amazônia das utopias (*)
Um lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos. Isto é o que todos nós esperamos para a Amazônia. Todavia, em razão da cobiça de quase todos por suas riquezas, fica a impressão que esta utopia é inalcançável, inatingível. Atualmente, não parece plausível que algum dia teremos esta possibilidade com esta região tão ampla, não pela falta de interesse de muitos, mas principalmente pela inação, inépcia e cobiça de tantos que poderiam construir este futuro, mas não o fazem pelos interesses que dizem respeito exclusivamente a si mesmos.
Bioma para chamar de seu
Quando países estrangeiros financiam fundos para a região, frequentemente deixam a impressão de querem encontrar formas de comandar nossas decisões. Quando órgãos de controle pregam a proteção, sempre deixam no ar que a proteção para não fazer nada ataca unicamente àqueles que reconhecem a ordem, desprezando de maneira ampla todos os que não se preocupam com estás ordens, ficando abertas suas entranhas para explorações diversas.
Proibicionismo
A construção de regras de convívio e exploração responsáveis é uma necessidade imperativa para a região, que precisa deixar de ter uma condição de amplo subdesenvolvimento. Proibir ribeirinhos de pescar para sua subsistência ou para um comércio de pequeno porte me parece estar longe de ser um sonho para o desenvolvimento. É muito mais um caminho para a apatia e para a destruição de qualquer veia empreendedora na região. Há regras abundantes sobre como não fazer. Precisamos de um misto de desregulamentação com regulagem mínima.
Futuro irrealizável
Enquanto não houver um conjunto expressivo de empreendimentos voltados para a geração de riqueza na região a partir de seus recursos naturais, seguiremos a tagarelar expressões vagas e ignorantes do tipo “não se pode fazer nada na Amazônia” ou “a região precisa ser preservada para o futuro”. Ora, por que não usar seus recursos no presente? Não concordo com este adiamento eterno, ao qual temos sido condenados até em nosso Hino Nacional (“deitado eternamente…”). Quais os caminhos para construir a utopia do presente em algumas áreas de desenvolvimento? Este é o desafio. O estado ideal de felicidade não existirá, por mais que possamos e devamos persegui-lo.
Aqui se constrói a vida
Há milhões de pessoas na região que podem começar um caminho de desenvolvimento, com uso responsável dos recursos da região, agregando riqueza para as localidades. Chega das cabeças pensantes do mundo querendo nos dizer o que devemos ou não fazer com a Amazônia. Precisamos trazer para nós este papel e assumir as responsabilidades pelos acertos e erros. Destruir a floresta pela destruição é uma estupidez impensável para quem vive aqui. Este pensamento destruidor é típico dos forasteiros que aqui adentram e não daqueles que aqui constroem suas vidas.
Antes que um aventureiro…
Para realizar esta possibilidade será necessária coragem ampla para enfrentar a todos aqueles que percebem o potencial da região. Ninguém de fora fará o nosso papel. É mais fácil e mais provável que todos aqueles de fora façam algum papel para atrapalhar e precisaremos ter isso em nossas mentes ao analisar todo e qualquer projeto para a região alvo de tantas cobiças. Não será rápido nem fácil, mas será um caminho a ser inevitavelmente trilhado se quisermos ajudar o Brasil a sair do atraso secular em que se encontra.
O Brasil ignora o Brasil
Precisaremos externar para o Brasil nossos potenciais, pois no nosso país estão nossos aliados e não nossos inimigos. Precisaremos encarar as possibilidades e construir cada uma delas. Do turismo ao pescado. Enfrentar as cadeias produtivas e suas armadilhas será um trabalho a ser realizado por nós que aqui estamos e não por algum europeu ou asiático. Precisamos pôr mãos à obra e realizarmos o que tem que ser feito. Estas decisões sairão daqui e de nenhum outro lugar. (*) Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da Ufam
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