A fuligem das queimadas faz com que mais luz solar seja absorvida, o que eleva a temperatura das áreas congeladas e acelera o degelo na Antártica
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo, no âmbito do Programa Antártico Brasileiro, revelou que em 2023 a Antártica registrou a menor cobertura de gelo marinho desde o início dos registros, em 1979. Utilizando como referência o período de 1981-2010, a pesquisa de Ronaldo Christofoletti e André Pardal analisou a área mínima de gelo em cada um desses trinta anos, confirmando que o degelo no continente está se intensificando.
As consequências desse fenômeno preocupam diretamente o Brasil, uma vez que alterações na cobertura de gelo da Antártica impactam o clima global e podem influenciar diretamente em eventos extremos como secas e chuvas intensas no território, pois contribuem para a desregulação do ciclo hídrico.
Processo de estudo sobre o degelo na Antártica
Com base nos dados analisados, foi calculada a média histórica da menor quantidade de gelo marinho no continente antártico, que geralmente ocorre em fevereiro. Em 2023, a superfície de gelo marinho apresentou uma redução equivalente a duas vezes o território do estado da Bahia, quando comparada a essa média.
O cenário não melhorou em 2024, que foi o segundo pior ano em relação à diminuição da cobertura de gelo. Nesse ano, a retração foi equivalente ao território de toda a Região Sudeste do Brasil, reforçando o caráter alarmante do degelo acelerado na Antártica.
Relação com as queimadas brasileiras
Segundo o pesquisador Rodrigo Goldenberg Barbosa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), as queimadas no bioma amazônico estão diretamente ligadas a esse degelo recorde na Antártica, formando um ciclo vicioso.
“O ‘carbono negro’, gerado pelos incêndios, é transportado até a Antártica por meio dos chamados ‘rios atmosféricos’. Esse material reduz a capacidade da superfície de gelo de refletir a luz solar, levando à absorção de mais calor, o que acelera o degelo”, explica Barbosa à CNN Brasil.
Além disso, o pesquisador pontua que o gelo antártico tem a capacidade de refletir até 95% da luz solar. No entanto, a fuligem resultante das queimadas, conhecida como material particulado, contamina a superfície do gelo, reduzindo sua capacidade reflexiva. Essa sujeira faz com que mais luz solar seja absorvida, o que eleva a temperatura das áreas congeladas e acelera o processo de derretimento.