As agroflorestas no Brasil já ocupam cerca de 13,9 milhões de hectares e permitem integração entre produção e conservação ambiental
Uma boa alternativa para mesclar produtividade e sustentabilidade na produção agrícola, os chamados sistemas agroflorestais (SAFs) podem ser usados para recuperar áreas degradadas, restaurar florestas e até promover interação entre espécies. No país, esse modelo vem ganhando cada vez mais popularidade: de acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE, as agroflorestas no Brasil ocupam cerca de 13,9 milhões de hectares. No entanto, o crescente interesse por esse modelo de plantio nos últimos anos sugere que a área total atualmente é ainda maior.
Os SAFs combinam árvores com culturas agrícolas, trepadeiras, forrageiras e arbustivas, permitindo uma integração entre produção e conservação ambiental.
Benefícios das agroflorestas no Brasil
Os sistemas agroflorestais promovem diversos benefícios ambientais e produtivos. A presença de árvores aumenta a matéria orgânica no solo, protegendo-o e melhorando sua qualidade e fertilidade. Além disso, esses sistemas capturam carbono da atmosfera, contribuindo para mitigar as mudanças climáticas, além de diversificarem a produção, oferecendo uma variedade de alimentos e produtos que aumentam a segurança alimentar e a renda dos agricultores.
Por meio desse modelo de cultivo, solos empobrecidos e ecossistemas danificados podem passar por um processo de restauração. Por fim, a diversidade de espécies nos SAFs auxilia no controle de pragas e doenças, reduzindo a necessidade de insumos químicos e tornando o cultivo mais sustentável.
Uma das características marcantes dos sistemas agroflorestais é o plantio de espécies com diferentes tempos de desenvolvimento. Por exemplo, uma planta que cresce em dois anos pode ser cultivada ao lado de outra que leva cinco anos e de uma terceira que demora décadas.
As espécies de crescimento rápido contribuem para melhorar a atividade orgânica do solo, promovendo a saúde do ambiente e gerando renda no curto prazo para o produtor. Já as plantas de crescimento mais lento ajudam a regular a luminosidade do terreno, criando um equilíbrio ideal para o desenvolvimento das demais culturas e para a sustentabilidade do sistema.
Além da Amazônia
As agroflorestas no Brasil têm se expandido além da Amazônia, ganhando força em outras regiões do Brasil. Em uma reportagem do Ecoa-UOL, Patrick Assumpção, proprietário da Fazenda Coruputuba em Pindamonhangaba (SP), conta que apostou na agrofloresta em 2007, inicialmente plantando árvores de guanandi para produção de madeira. Contudo, ao perceber a necessidade de gerar receitas enquanto as árvores cresciam, ele aceitou a sugestão de um pesquisador para adotar o SAF. Assim, integrou áreas de plantio de ciclo curto, como leguminosas e raízes, e de ciclo médio, como frutíferas, diversificando suas fontes de renda e aproveitando o potencial produtivo e conservacionista do modelo.
“Plantei frutas nativas da Mata Atlântica e fiz uma parceria com uma empresa de São Paulo para fornecer minha produção. Deu super certo”, conta Assumpção ao portal.
Apesar dos avanços, os sistemas de agroflorestas no Brasil ainda enfrentam resistência para se tornarem mais comuns. Segundo Valter Ziantoni, engenheiro florestal e fundador da instituição Pretaterra, um dos principais desafios é a falta de conhecimento técnico especializado para manejar sistemas biodiversos, que exigem a gestão simultânea de múltiplas culturas em uma mesma área. Esse problema é agravado pela escassez de centros de capacitação que ofereçam formação específica em agrofloresta e manejo integrado, dificultando a adoção e a expansão desse modelo sustentável.