Retorno de Donald Trump ao governo dos Estados Unidos deve tornar o país protagonista na luta contra a crise climática global; China ocupa hoje o posto de segundo maior emissor de gases de efeito estufa
Com o novo mandato de Donald Trump, marcado pelo negacionismo climático, e consequentemente a possível saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, a responsabilidade global na luta contra a crise climática global pode recair sobre a China, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do planeta. A transição ficou mais evidente na COP29, em Baku, onde a delegação americana teve uma participação discreta, enquanto a delegação chinesa foi intensamente procurada. Um movimento similar foi observado na cúpula do G20 no Rio de Janeiro, onde líderes buscaram maior diálogo com Xi Jinping, presidente chinês.
Na ocasião, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, pediu por uma relação “consistente e duradoura” com o governo chinês. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, comprometeu-se a ser “paciente, calibrado e deliberado”. Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu não deixar que a “competição se transforme em conflito”, mesmo enquanto se prepara para transferir o poder ao presidente eleito Donald Trump, que prometeu adotar uma postura de confronto com a China em relação a tarifas.
Segundo análise do The New York Times, primeiros-ministros ao redor do mundo estão buscando estabilidade, especialmente no que diz respeito ao país asiático. Xi Jinping, em declarações feitas durante uma reunião no Peru, disse a Biden que deseja manter uma relação “estável, saudável e sustentável” com os Estados Unidos, em busca de consolidar a parceria e o alinhamento de interesses, incluindo no que diz respeito a ações para lidar com a crise climática global.
China ainda é uma incerteza diplomática
Apesar do alinhamento do presidente perante as demais nações, o governo chinês adotou uma abordagem estratégica – e ainda incerta. Por um lado, na COP29, reforçou sua posição como líder climático, destacando investimentos em energia renovável e a expansão da indústria de veículos elétricos, além de reafirmar sua determinação em apoiar a luta contra a crise climática global independentemente do cenário. No evento, surpreendeu ao divulgar, pela primeira vez, que destinou mais de US$ 24 bilhões (cerca de R$ 139 bilhões) para apoiar ações climáticas em países em desenvolvimento desde 2016. Por outro lado, Pequim manteve cautela e pouco se manifestou diante das declarações polêmicas de Donald Trump e de seu futuro governo, frequentemente direcionadas contra a China.
Entretanto, o cenário ainda indica protagonismo do país asiático na geopolítica climática. Especialistas nos EUA alertam que as escolhas do governo Trump podem comprometer a capacidade da indústria norte-americana de liderar a transição energética global, já que, ao priorizar combustíveis fósseis e desconsiderar a ciência climática, o país arrisca perder competitividade em setores estratégicos, como energia renovável e tecnologias sustentáveis.
“Se os EUA cederem o papel de liderança na fabricação de tecnologia de energia limpa para a China, isso dará aos chineses ainda mais capacidade de dominar mercados no resto do mundo emergente e em desenvolvimento”, afirmou Joanna Lewis, professora da Universidade de Georgetown, à CNBC.