“A COP16 oferece a chance de mostrar ao mundo que o Brasil está comprometido com a proteção de seu maior tesouro: a biodiversidade amazônica. E mais: este almoxarifado de vida é referência e paradigma de um novo estilo de vida, de relações sociais mais sadias, integradas, e em harmonia com os parâmetros naturais.”
Por Régia Moreira Leite
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Coluna Follow-Up
A 16ª Conferência de Biodiversidade da ONU (COP16), que será realizada em Cali, Colômbia, de 21 de outubro a 1º de novembro, é um marco na construção de novas políticas que alinham a preservação da biodiversidade global ao desenvolvimento econômico sustentável. Este evento, de relevância internacional, coloca a biodiversidade no centro das negociações e destaca a bioeconomia como um dos pilares estratégicos para o futuro. O Brasil, detentor de mais de 15% da biodiversidade mundial, tem um papel decisivo nesse cenário. Para as empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), acompanhar e prestigiar a COP16 é mais que uma responsabilidade ambiental, é também uma oportunidade de posicionamento estratégico no mercado global.
O Polo Industrial de Manaus está à beira de uma transformação histórica. Ao adotar práticas de produção sustentáveis e aproveitar as oportunidades oferecidas pela bioeconomia, o PIM pode se tornar um exemplo de inovação industrial que respeita a floresta e promove a preservação de seus recursos. Este caminho, de alinhamento entre economia e conservação, é cada vez mais atraente na luta contra o aquecimento global, um dos maiores desafios de nossa era.
Bioeconomia na Amazônia Continental é caminho e desafio. Um dos pontos centrais da COP16 será a implementação do Marco Global da Biodiversidade, com 23 metas que visam proteger 30% das áreas terrestres e marítimas até 2030. Nesse contexto, a bioeconomia emerge como uma oportunidade de regionalizar – em âmbito continental amazônico – a economia, especialmente na partilha das oportunidades em movimento. Ao diversificar a produção e adensar as cadeias produtivas de bioativos como o cupuaçu e o açaí, o buriti ou o chocolate, podemos criar uma economia que valorize a floresta em pé, gerando emprego e renda sem comprometer os ecossistemas. Temos, em abundância, delícias da floresta com variedades incríveis na piscicultura, algumas de nossas espécies já são famosas como o tambaqui.
O PIM, por sua localização e expertise, tem o potencial de liderar a transformação industrial sustentável no Brasil. A adoção de novas tecnologias que permitem a utilização de bioativos para a fabricação de produtos de alto valor agregado, como bioplásticos e biocombustíveis, é um exemplo de como a indústria pode integrar-se à conservação da biodiversidade. Além disso, a interiorização dessa economia, levando benefícios às comunidades ribeirinhas e indígenas, é uma estratégia essencial para garantir um desenvolvimento inclusivo.
Outro aspecto fundamental que será debatido na COP16 é o financiamento da preservação da biodiversidade. Estima-se que serão necessários US$ 200 bilhões anuais até 2030 para atingir as metas globais de conservação. O Brasil, como um dos principais atores nesse campo, precisa mobilizar recursos e investir em tecnologias e práticas que assegurem a proteção de suas florestas. Nesse contexto, o PIM tem um papel vital ao adotar práticas de ESG (ambiental, social e de governança), através das quais as empresas podem atrair novos investimentos, acessar mercados globais que demandam produtos sustentáveis e contribuir para a preservação dos serviços ambientais que a Amazônia oferece.
A COP16 coloca o Brasil em uma posição de protagonismo no cenário internacional, reafirmando seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a transição energética. Para as empresas do Polo Industrial de Manaus, a participação ativa nas discussões sobre biodiversidade e bioeconomia é uma oportunidade de mostrar ao mundo que é possível aliar progresso econômico com inovação tecnológica com preservação do banco genético. O compromisso com a proteção da floresta e o combate ao aquecimento global vão além das exigências dos mercados internacionais. São itens de responsabilidade moral coletiva com as futuras gerações.
A adoção de práticas sustentáveis no setor industrial, a demonstração de uma contabilidade ambiental que indique a neutralização do carbono, alinhada aos compromissos globais de desenvolvimento sustentável, permite que o PIM desempenhe um papel de liderança estratégica no combate às mudanças climáticas. A inclusão de novos arranjos produtivos da economia amazônica, com expansão das cadeias produtivas vão levar emprego, renda e cidadania ao beiradão amazônico. São formatos de desenvolvimento que podem garantir a viabilidade econômica da floresta e, ao mesmo tempo, preservá-la para o futuro.
A participação das empresas do PIM na COP16 é um passo fundamental para posicioná-las como líderes no movimento global pela sustentabilidade, incluindo a adoção de fibras, resinas e polímeros passíveis de reciclagem e reutilização. Este é um roteiro em construção nos debates e iniciativas da Comissão ESG do CIEAM, onde o propósito é abraçar/debater/compartilhar saberes e princípios da bioeconomia e investir em práticas que respeitem a biodiversidade. Assim, podemos desenhar um futuro próspero para a Amazônia e para o Brasil. E oferecer paradigmas de desenvolvimento com a manutenção da floresta em pé. Ou seja, proteção do patrimônio ambiental como fonte inesgotável de oportunidades econômicas, que, quando bem exploradas, podem transformar a indústria e a sociedade como um todo.
A COP16 oferece a chance de mostrar ao mundo que o Brasil está comprometido com a proteção de seu maior tesouro: a biodiversidade amazônica. E mais: este almoxarifado de vida é referência e paradigma de um novo estilo de vida, de relações sociais mais sadias, integradas, e em harmonia com os parâmetros naturais. Para o Polo Industrial de Manaus, esse é o momento de assumir seu papel na construção de uma nova economia, verde, duradoura e renovável, onde progresso e conservação caminham lado a lado.
Régia é economista, administradora, empresária, coordenadora da Comissão ESG e conselheira do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas
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