“O futuro da Amazônia depende do reconhecimento de que a academia e a bioeconomia não podem mais operar em silos. A integração entre esses setores é essencial para o desenvolvimento de uma região que é vital não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio ecológico global.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
O desenvolvimento sustentável na Amazônia enfrenta desafios estruturais profundos, marcados por uma longa história de descompassos entre as iniciativas de pesquisa acadêmica e as práticas de bioeconomia. Esse desalinhamento é evidenciado pela trajetória da Universidade Livre de Manaus, uma das primeiras academias do Brasil, fundada em um contexto onde a exploração da borracha já despontava como uma força econômica dominante, alavancada pelos domínios britânicos na Ásia. O divórcio de um relacionamento assinado pela indiferença atávica com que o país trata essa questão.
Apesar do crescimento quantitativo das instituições de ensino superior e de pesquisa, como revelado pelo aumento expressivo de graduados e pós-graduados, os impactos socioeconômicos dessas instituições na região amazônica continuam a ser insatisfatórios. Em recente artigo publicado na Folha de São Paulo a má notícia da desintegração entre bioeconomia e academia se estampa na migração significativa de talentos locais para outras regiões que melhor valorizam e empregam seus conhecimentos. Essa fuga de cérebros é uma consequência direta da falta de integração entre os setores acadêmico e industrial, particularmente no que se refere ao aproveitamento sustentável dos recursos naturais da Amazônia.
A proposta apresentada pelo físico Ennio Candotti, antes de seu falecimento, ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável sugere um caminho para remediar essa desconexão. Ele propôs uma integração maior dos egressos das instituições de ensino em projetos que valorizem os recursos florestais e promovam a cidadania, fortalecendo a sociobioeconomia e respeitando os modos de vida das comunidades locais. Este modelo visa mitigar o desmatamento através de um uso mais consciente e integrado dos recursos da floresta.
O desafio é grande. As economias sustentáveis da região precisam ser apoiadas por um aumento no nível tecnológico e pela inclusão de conhecimentos locais nos processos de inovação e desenvolvimento. Profissionais formados nas áreas de economia, biotecnologia, química, ciências, agronomia, engenharia florestal, entre outros, são essenciais para o desenvolvimento de novas cadeias de valor que sejam ambiental, social e economicamente sustentáveis.
Ainda assim, enfrentamos barreiras estruturais significativas. As instituições amazônicas de ensino superior, institutos federais e centros de tecnologia continuam subutilizados e suas contribuições para o desenvolvimento regional são limitadas por um modelo que favorece o controle externo sobre serviços qualificados, perpetuando assim as desigualdades socioeconômicas.
Para reverter essa situação, é fundamental que haja novos investimentos nas instituições da região que sejam territorialmente referenciados e adaptados às necessidades locais. Isso não apenas expandirá os sistemas produtivos sustentáveis, mas também melhorará os serviços de cidadania para as populações locais, onde os IDHs são os mais deploráveis à luz da decantada riqueza do patrimônio natural.
O futuro da Amazônia depende do reconhecimento de que a academia e a bioeconomia não podem mais operar em silos. A integração entre esses setores é essencial para o desenvolvimento de uma região que é vital não apenas para o Brasil, mas para o equilíbrio ecológico global. A transformação necessária envolverá uma mudança de paradigma em como vemos e valorizamos o conhecimento e os recursos naturais, uma mudança que deve ser informada tanto pela ciência quanto pela consciência social e ambiental.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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