Aqui, economia e ecologia são elementos da mesma equação. O nível de reaproveitamento de resíduos deste setor ultrapassar 90%. Só ficamos atrás da reciclagem das latinhas, onde o Brasil está chegando em 100%. Temos da floresta os insumos necessários para o plástico biodegradáveis ou comestível. A Embrapa já nos mostrou o caminho. Só está faltando o abraço do Brasil. Essa causa não custará 1/100 a mais aos cofres públicos. Basta aplicar na região uma fatia robusta dos recursos aqui gerados.
Claudio Barrela – CEO da Tutiplast da Amazônia
Coluna Follow-Up
Empreendedor combativo e comprometido, o industrial Cláudio Barrela reparte seu tempo entre gestão de sua empresa e missões humanitárias pelo beiradão amazônico, sempre acompanhado de equipe médica para atender as populações mais vulneráveis. Conselheiro do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ele ainda arranja tempo para interagir com as empresas para debater/esclarecer/diversificar/fortalecer essa economia regional. Nessa entrevista, em clima de reforma fiscal, ele mostra o tamanho de seu engajamento e compromisso com os interesses do Amazonas e alerta: a bola agora está de volta à Amazônia e vai começar o jogo da ciência, tecnologia e inovação, os instrumentos da transformação e da prosperidade.
Entrevista de Claudio Barrela por Alfredo Lopes
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Follow-up – Às vésperas da votação da Reforma Tributária, o ministro Haddad, da Fazenda, volta a assegurar que os direitos da Zona Franca de Manaus serão preservados. Como você interpreta as mudanças na economia a partir disso?
Cláudio Barrela – Política não é meu forte. Mas sempre acho que nós precisamos, o tempo todo, olhar e agir positivamente as ações públicas coerentes com os compromissos públicos assumidos. Sem ingenuidade nem ideias preconcebidas. Entendo, também, que esse crédito leva em conta a trajetória da ZFM com mais de meio século de acertos, onde o Brasil tem sido o grande beneficiário.
Poderíamos ter feito mais, se mais recursos aqui produzidos gerados fossem aplicados na região. Com esse reconhecimento público, porém, a bola agora está de volta à Amazônia e vai começar o jogo da ciência, tecnologia e inovação, os instrumentos da transformação e da prosperidade. Diversificar, adensar e regionalizar a economia na direção da floresta é um dos próximos passos a dar. E a indústria tem gerado as condições necessárias a esse avanço.
Fup – E o que significa essa avaliação de que a bola está de volta à Amazônia?
C.B. – Precisamos dizer o que pretendemos fazer e as condições da respectiva viabilidade. Gostaria, entretanto, de lembrar o trabalho minucioso e competente gerado pelos especialistas do CIEAM e da ABRACICLO, onde estão inseridas, em absoluta maioria, as indústrias da ZFM. detalhando os itens e as premissas que devem resguardar os direitos constitucionais de quem empreende na Amazônia, onde a precária infraestrutura competitiva exige contrapartida fiscal. Um Documento robusto entregue ao governo estadual, à bancada estadual e federal e à opinião pública. Vamos, então, recomeçar uma nova jornada, com mais protagonismo do setor produtivo, para avançar no mandamento constitucional de redução das desigualdades regionais.
Fup – Protagonismo do setor produtivo? Explique! Por que as entidades não tem ocupado o assento da governança compartilhada na medida em que este setor é quem gera emprego, oportunidades e tributos?
C.B. Este é um ponto crucial de nossa inserção empresarial no tecido social. Geramos 500 mil empregos entre diretos, indiretos e induzidos e, assim, ajudamos a proteger a floresta, pois a economia industrial impede que as famílias façam da floresta seu meio de sobrevivência. Mas sempre corremos o risco de acusações infundadas que relacionam o programa Zona Franca a vulnerabilidade de alguns segmentos. Nosso maior patrimônio, podemos dizer, é a reputação empresarial e o portfólio de avanços reconhecido na manutenção da ZFM.
Nenhum governo nos manteria por 100 anos se assim não fosse. Não há gasto público, lembremos, com quem deseja se instalar em ZFM. Tudo corre por conta do investidor. E mais: A planta industrial de Manaus é aquela que mais distribui recursos ao poder público comparativamente a outras plantas industriais do Brasil. São dados da Universidade de São Paulo, na Faculdade de Economia e Administração – Leia aqui
Portanto, não faz sentido, ficarmos indiferentes ao fato do Amazonas abrigar mais de dez municípios com IDHMs deploráveis e Manaus figurar entre os 8 maiores contribuintes da Receita. Temos que exigir o cumprimento da Lei. A Carta Magna nos concede o direito da compensação fiscal e também o dever de exigir a aplicação regional da riqueza aqui produzida.
FUp – Você dirige o Simplast, um sindicato da indústria de plásticos, carregado de preconceitos e desinformação, entretanto, na real, amparado pelo signo da inovação referenciado pela luminária da sustentabilidade. O que você tem a dizer sobre a entidade?
C.B. – Com base em sua pergunta, poderíamos dizer que o Simplast é um resumo do universo da maledicência e da comunicação falaciosa. Respondemos a isso com a acolhida habitual e histórica da Suprema Corte em relação a nossas ADINs desde que a ZFM passou a ser reconhecida como política do Estado Brasileiro. No ano seguinte, 1989, o Simplast foi fundado. Atualmente conta com 51 empresas associadas, é o quarto polo industrial em Manaus, o terceiro como empregador e segundo em investimentos. No segmento, somos o setor com mais investimentos em tecnologia e inovação, que inclui soluções sustentáveis para as empresas associadas com aproveitamento de fibras e resinas da biodiversidade amazônica.
Aqui, economia e ecologia são elementos da mesma equação. O nível de reaproveitamento de resíduos deste setor ultrapassar 90%. Só ficamos atrás da reciclagem das latinhas, onde o Brasil está chegando em 100%. Temos da floresta os insumos necessários para o plástico biodegradáveis ou comestível. A Embrapa já nos mostrou o caminho. Só está faltando o abraço do Brasil. Essa causa não custará 1/100 a mais aos cofres públicos. Basta aplicar na região uma fatia robusta dos recursos aqui gerados.
FUp – Quando você menciona o crédito da ZFM junto ao governo federal com a manutenção de nossos acertos, a que você está se referindo?
C.B. O presidente do Conselho do CIEAM, Luiz Augusto Rocha, no processo da transição de governo, levou-nos a Brasília para esclarecer preconceitos e fazer prestação de contas do que fazemos pela Amazônia e pelo Brasil. Nosso diferencial produtivo começa com a decisão de investir no coração da maior floresta floresta tropical do planeta, por isso, nos submetemos às leis do ambiente. Por isso, também, trabalhamos sempre em parceria com as instituições de pesquisa e desenvolvimento.
E isso faz uma diferença tremenda. Financiamos pesquisa e ajudamos a proteger a biodiversidade. As empresada da ZFM patrocinam integralmente a Universidade do Estado do Amazonas, e repassaram, no total, R$ 4 bilhões por ano para ciência e tecnologia, turismo e interiorização do desenvolvimento e fomento de micro e pequenas empresas da região.
Ou seja, ao emitir NFEs, damos transparência à nossa atividade e tornamos pública nossa colaboração com a sociedade. Acreditamos, a propósito, que o Brasil precisa integrar-se à Amazônia, resolver diferenças, remover ilícitos, esclarecer preconceitos e esvaziar a maledicência. Em lugar de adubar desavenças, queremos sempre responder com a alternativa do diálogo, da interlocução sadia e construtiva. E assim, queremos nos integrar, Norte e Nordeste, à pacificação e reconstrução, como sabemos fazer. E quem sairá ganhando é a brasilidade. Afinal, na Amazônia, ao reunir economia e academia, tecnologia e ciência, buscamos andar de mãos dadas com a ecologia florestal e isso faz toda a diferença e traduz a responsabilidade da ZFM com o patrimônio socioambiental.
Cláudio Barrela é empresário, presidente do Sindicato da Indústria de Plástico e conselheiro do CIEAM
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