“No programa prioritária de Bioeconomia da Suframa, um dos avanços da ZFM para utilizar recursos das empresas do Polo Industrial de Manaus, destinados à pesquisa e inovação, tudo mudou para melhor em termos de oportunidades de empreendedorismo para os atores locais, dispostos ao desafio de combinar negócios sustentáveis atrelados à proteção da Amazônia.”
Por Alfredo Lopes e Carlos Koury
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Coluna Follow-Up(*)
O economista e empresário Denis Benchimol Minev, com base no seu portfólio familiar de negócios sustentáveis na Amazônia, costuma insistir que a melhor maneira de assegurar a proteção da Amazônia é disseminar iniciativas que assegurem o equilíbrio entre meio ambiente e desenvolvimento. Quanto mais empreendimentos sustentáveis mais fácil se torna manter a floresta em pé e promover a cidadania.
Desse ponto de vista, e em múltiplas escalas de valor e extensão, a metodologia ESG, governança social, ambiental e corporativa, que se transforma no paradigma obrigatório na conjugação do verbo empreender, é o formato mais coerente de ocupar sustentavelmente a Amazônia, seus ativos e serviços ambientais em linha com a promoção do tecido social .
Isso se torna mais evidente quando entra em cena outro portfólio, o acertado programa de redução das desigualdades regionais chamado Zona Franca de Manaus – onde cumpre papel decisivo o conglomerado fabril representado pelo Polo Industrial de Manaus. São 500 mil empregos diretos e indiretos, oferecidos por estabelecimentos industriais com reconhecimento nacional de sua sustentabilidade produtiva, e com emissões de carbono neutralizadas de acordo com as estimativas mensuradas e comprovadas por pesquisadores do INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Essa matriz econômica permite a movimentação de 85% da economia regional e, indiretamente, ajuda a manter a floresta em pé. Segundo o INPE, o Amazonas mantém um patamar acima de 95% da cobertura vegetal.
Em clima de COP27, uma avaliação anual e cada vez mais inquietante da questão climática, anotamos uma alvissareira movimentação na Amazônia para implementar do critérios de ESG nas indústrias da ZFM. Sinais eloquentes já são perceptíveis no ecossistema do processo produtivo das empresas instaladas em Manaus, o coração urbano da maior floresta tropical do planeta. O CIEAM, entidade que congrega as empresas incentivadas do polo industrial local, já expandiu seu setor de responsabilidade social e ajustou sua denominação para incluir com destaque as ações e orientações de ESG para seus associados.
Um dos sinais, é uma atenção destacada de inclusão da diversidade social em papéis e funções estratégicas das empresas. A adoção de critérios de atendimento social aos segmentos mais vulneráveis, por sua vez, se fez mais forte nos momentos iniciais e mais críticos da pandemia da COVID-19. E envolveu gestores e colaboradores no perfil de voluntariado que deu suporte a duas centenas de entidades de atendimento de setores mais vulneráveis da sociedade.
O momento crítico da pandemia despertou, também, a capacidade instalada do setor privado e suas habilidades fabris, incrementando o cardápio de produtos para incluir a produção de EPIs, equipamentos de proteção individual, para os servidores da linha de frente de combate ao coronavírus. Esse movimento não refluiu com a vacinação. E ainda hoje funciona. Os processos produtivos passaram a ser mais eficientes, mais saudáveis na perspectiva da saúde do planeta e, naturalmente, mais positivos em termos de resultados nas planilhas de custo e de faturamento.
Um exemplo dessa racionalidade ocorre na redução do consumo de energia e na busca de fontes alternativas. A conservação do planeta para as próximas gerações aparece como pauta diária, nos diversos grupos de interação.
Podemos destacar, no desenvolvimento dos parâmetros ESG, três níveis de priorização: o nível interno da empresa com seus processos operacionais de governança, que implica em descrever os processos e resultados na perspectiva organizacional; na relação das empresas com seus fornecedores e prestadores de serviço buscando inseri-los nas mudanças que em curso; e na relação com o parâmetro ambiental, mediando a interação com as comunidades próximas, suas questões climáticas e as práticas de compensação do carbono emitido, sempre na perspectiva de redução dessas emissões.
Anotamos, também, algumas oportunidades de implementação desses novos critérios que podem encurtar o caminhos para o mergulho no ambiente ESG a partir do momento em que são encaminhados os três níveis de atuação. Uma questão que tem-se destacado é a pegada do carbono no cotidiano das empresas com relação ao processo produtivo adotado. Toda a movimentação feita para reduzir as emissões, aliás, vai de encontro à implementação do processo ESG, ou seja, auxilia no cumprimento dos outros indicadores e metas.
Na mesma direção vai a adoção do consumo de produtos responsáveis, como nova conduta que remete à incorporação de novas práticas com foco na descarbonização. Isso pode ser ilustrado na política de inclusão de matérias-primas regionais, um item de extrema relevância. Abre-se, assim, a percepção maior da diversidade cultural e social que estimula a movimentação criativa e produtiva nas comunidades do interior, suas tradições e soluções para os desafios cotidianos.
Este novo olhar, que empurra a consolidação das novas atitudes, desembarca na descoberta e inclusão de bioinsumos ou bioativos. De quebra, se fortalecem os vínculos de colaboração entre empresa e comunidade, com maiores ganhos na cultura de conservação florestal, isto é, utilização e reposição inteligente dos estoques naturais. O passo seguinte é a monetização e instrumentalização desses ativos como fator de responsabilidade socioambiental e modulação econômica das atividades que favorecem a população e o bioma florestal.
Trocando em miúdos, isso significa um novo caminho, que atende de modo diferenciado as demandas de insumos e de gestão ESG por parte das empresas. A boa notícia é que isto já está rodando na dinâmica de muitas empresas que estão adotam e divulgam este formato de gestão corporativa. No universo Amazônia, a biodisponibilidade de insumos florestais é imensurável, e são frequentes as descobertas de novos negócios e novos formatos de interação junto às comunidades.
É também alvissareiro o interesse da academia, a descoberta dos novos espaços de participação das instituições de ensino, pesquisa e desenvolvimento e das organizações da sociedade na gestão e promoção da Amazônia. Essas instituições compreenderem o alcance e a relevância dessa interlocução e interatividade e dos benefícios locais, sociais, climáticos e econômicos que representam. Estamos diante da possibilidade efetiva de uma bioeconomia inclusiva, socialmente justa e participativa com foco na proteção florestal.
No programa prioritária de Bioeconomia da Suframa, um dos avanços da ZFM para utilizar recursos das empresas do Polo Industrial de Manaus, destinados à pesquisa e inovação, tudo mudou para melhor em termos de oportunidades de empreendedorismo para os atores locais, dispostos ao desafio de combinar negócios sustentáveis atrelados à proteção da Amazônia.
Uma verdadeira onda de empreendedorismo sustentável que veio para ficar, ou seja, atrelar à cadeia produtiva, a cadeia do conhecimento, seu ensino e aprendizagem na formatação de novos arranjos a partir da diversidade biológica. Isso já tem indicadores robustos de resultados socioeconômicos e ambientais, como as cadeias do açaí, castanha, cacau, café, guaraná… Sem falar na aceleração na produção de peixes, da fruticultura, do cupulate – o chocolate do maravilhoso cupuaçu.
E pensar que este movimento, seu adensamento e diversificação, se credencia, se consolida e evolui graças às empresas do Polo Industrial de Manaus, graças àquelas industrias, aparentemente isoladas da floresta, mas fincadas em seus coração tropical, e atentas à urgência dessa relação sustentável e promissora que a Amazônia reserva para quem deseja aprender a se relacionar com ela.
(*) Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras no Jornal do Comercio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora.
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