A indústria instalada em Manaus será em 2073, o adensamento, a diversificação e a regionalização da Biotecnologia em relacionamento sério com a Tecnologia e a Nanotecnologia desde que tomemos essas trilhas do conhecimento e do empreendimento, suas premissas, condições e viabilidade, em nossas mãos.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up
Uma premonição da hora ou uma provocação a ser sugestivamente levantada no day after da ExpoAmazonia Bio&TIC 2022, encerrada no último dia 03 de julho? Realizado pelo Polo Digital de Manaus e Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), com a presença de um puxirum de voluntários e quase 20 mil interessados, o evento pôs na vitrine um repertório recorde de produtos e processos de inovação tecnológica. Curiosamente, este ensaio de intuições no atacado e que borbulha no varejo de tantas incertezas, é justamente a grande reclamação que se tem feito à Zona Franca de Manaus há 55 anos. Avançamos a despeito das pressões contra este programa de redução das desigualdades regionais e, por causa delas, bem poderíamos expandir essa movimentação promissora. Ou há outra alternativa?
O professor Augusto Rocha, da UFAM, talvez não tenha sido bem interpretado em seu último artigo, Amazônia e as faltas de sensos, publicado EM 4.7.22, no BrasilAmazoniaAgora, quando descreveu a ExpoAmazonia como uma Feira de Ciências cheia de jovens e expectativas de negócios. É exatamente este o retrato do momento e é está a razão de nosso entusiasmo com o evento. Ele mostrou os ingredientes vitais de nossa transformação: o entusiasmo dos jovens, o destaque da importância da Ciência, e a geração de negócios e oportunidades. A imagem da feira como lugar onde vamos atrás do que precisamos para alimentar nossa caminhada confere à Ciência o estatuto de sua sacralidade e essência.
De vários pontos de vista, podemos dizer que o resultado do evento sintetiza a própria saga do Polo Industrial de Manaus. Um momento emblemático do evento chamou muito à atenção e se deu com dois resultados apresentados pelos alunos da Fundação Mathias Machiline, um projeto social que é a cara do programa ZFM. Focado na transformação social, o projeto começa em 1986, com a iniciativa do empresário Matias Machline, fundador do grupo Sharp, entusiasta da educação como vetor de mudança, ele criou a Fundação de Ensino e Pesquisa Matias Machline. Morreu 8 anos depois, num grave acidente mas o projeto seguiu aos trancos e barrancos como a ZFM. Passou pela Nokia, Microsoft, fechou as portas e reabriu em 2016, com a empresa Digitron da Amazônia, graças ao visionário e filantropo Sr. Sung Un Song. Os projetos da FMM apresentados na Expo Bio&TIC tem tudo a ver com a Amazônia: dois programas de inteligência artificial que monitoram no modo 4.0 um projeto de piscicultura, controle autônomo de temperatura, qualidade da água, o PH, etc. E o mesmo se deu com uma unidade de produção de farinha. Amazônia 4.0, a antecipação da utopia.
O convite, pois, é irromper o imobilismo,mesmo que o proibicionismo conveniente seja dominante, e o empreendedorismo latente tratado como fator recessivo na ótica das tele-prioridades governamentais. A vitrine da ExpoAmazonia mostra uma componente irreverente das novas gerações. Ou será que precisamos de liberação burocrática para pensar, inovar, perverter a (des)ordem das imposições arcaicas, um PPB para copiar as soluções que a natureza tem a oferecer.
Um pouco de história do Amazonas… Em 1877, o botânico e filósofo inglês, Alfred Russel, nas suas expedições pelo Rio Negro, observava espécies para compreender a inteligência natural imanente à dinâmica evolutiva da biodiversidade. Como as plantas se reproduzem se não tem quem as semeie, indaga ele num de seus cadernos de notas: “Muitas plantas que não tem como disseminar suas sementes através da ação dos ventos – ou por outros mecanismos por possuírem sementes grandes que estão geralmente no interior dos frutos – desenvolveram frutas coloridas e brilhantes para atrair as aves e outros animais para consumi-las e assim disseminar as respectivas sementes. E quando as sementes são pequenas e de fácil propagação os frutos que envolve são raramente coloridos”. Sem essa inteligência natural não teríamos a floresta amazônica. Felizmente ela está aqui e à espreita de jovens irrequietos. Interpretá-la significa abrir a possibilidade de copiar as soluções que nos pode oferecer. Imaginemos fazer isso com os recursos da TIC!!! Em tempo: a citação está no acervo de Alfred Russel Wallace, e quem desejar conhecer vida e obra deste naturalista, recomendo Wallace-online.org, um acervo precioso e fascinante e gratuito.
Portanto, a resposta à questão imaginaria transparece óbvia: a indústria instalada em Manaus será em 2073, o adensamento, a diversificação e a regionalização da Biotecnologia em relacionamento sério com a Tecnologia e a Nanotecnologia desde que tomemos essas trilhas do conhecimento e do empreendimento, suas premissas, condições e viabilidade, em nossas mãos. A modulação fabril hoje em funcionamento na ZFM é a raiz, fonte e garantia deste movimento e não há em toda a Amazônia qualquer arranjo capaz de substituir seus acertos, conquistas e desafios. E quem estará convidado a integrar o mutirão estratégico, multidisciplinar e tático dessa evolução senão aqueles que se disponham a se tornar um dos atores na primeira pessoa do plural? Ou seja, quem quiser se submeter aos critérios que devem nortear essa navegação promissora da sustentabilidade comprometida com a prosperidade geral. Que tal?
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