SÃO PAULO – Para cativar um consumidor que se acostumou a fazer compras online na pandemia e se destacar em um ambiente digital cada vez mais competitivo, pequenas e médias empresas apostam na entrega de produtos no mesmo dia. Gigantes como Amazon e Mercado Livre já oferecem esse tipo de serviço, conhecido como “same day delivery”.
“Prazos mais competitivos são uma vantagem porque entendemos que a comodidade tem valor para nosso cliente. E isso se tornou ainda mais importante depois da pandemia”, diz Maria Eduarda Migliora, 30, sócia responsável pela área de ecommerce da marca de roupas Haight. Segundo ela, essa modalidade de delivery alcançou, em junho, cerca de 11% do faturamento das compras feitas pela internet.
Além de adquirir biquínis e maiôs, carros-chefe da marca, para uma viagem de última hora, os consumidores da Haight também costumam requisitar o serviço expresso perto de datas comemorativas, como o Dia das Mães e Dia dos Namorados. “Nessas situações, quem compra precisa de uma definição de quando o produto vai chegar”, diz Maria Eduarda.
Pouco antes da pandemia, o “same day delivery” passou a ser oferecido para compras feitas no site até 11h e entregues em São Paulo. O limite de horário existe para que dê tempo de o produto ser faturado e embalado pela equipe e coletado pela transportadora parceira.
Com o crescimento das vendas, a Haight decidiu terceirizar a operação, que saiu neste mês de um espaço anexo à loja dos Jardins, em São Paulo, para o centro de distribuição de uma empresa de logística em Santana do Parnaíba, na região metropolitana.
Ao contratar uma operadora de logística, é essencial pesquisar referências e fazer a negociação de valores e prazos, diz Ivan Tonet, analista de competitividade do Sebrae. Isso porque pode haver variação de acordo com a região em que o produto vai ser retirado e o volume de mercadorias -quanto maior, mais diluído é o frete.
Para o empresário que está começando, a recomendação é trabalhar com o delivery expresso na área em está seu estoque, delimitando um raio de entrega, explica André Duarte, professor de gestão de operações e logística do Insper.
Segundo ele, parceiros locais, como serviços que usam bicicletas, podem atender pequenos empresários de forma mais competitiva – desenvolver um delivery próprio só deve ser considerado se o volume de pedidos for grande.
Com a pandemia, o empresário Marcello Lage, 54, dono da Formaggio Mineiro, marca de pão de queijo artesanal, implementou o delivery em suas sete lojas de São Paulo com a intenção de chegar até o consumidor no menor tempo possível -hoje a operação leva no máximo duas horas.
No portfólio de entrega, estão congelados (entre eles, pão de queijo no sabor chocolate e nas versões chipa, waffle e espetinho), itens de empório (como doce de leite e queijo meia-cura) e acessórios, como sacolas térmicas.
Para garantir a agilidade, a marca tem atendentes designados para monitorar os pedidos de entrega expressa, recebidos por WhatsApp – o sistema responde hoje por cerca de 10% do faturamento da marca.
Quando vai operar com a entrega rápida, é fundamental que a empresa treine funcionários para dar a prioridade necessária a essa operação e mantenha uma comunicação ágil com o cliente, diz André Duarte, do Insper. Caso um problema aconteça, também é interessante ter à mão um plano de contingência e ser transparente com o consumidor para não prejudicar a imagem do negócio.
Além de implementar o delivery em lojas físicas, a Formaggio Mineiro também desenvolveu no último ano lojas virtuais operadas por revendedores -que vendem apenas itens congelados e podem ser instaladas em pequenos espaços, suficientes para abrigar um freezer, diz Marcello.
Com isso, a marca passou a atender em três outras cidades (Ribeirão Preto e Sorocaba, no interior de São Paulo, e Rio de Janeiro), além de cinco novos bairros de São Paulo, ganhando uma capilaridade que também ajuda a garantir a rapidez na entrega.
Marcello pretende inaugurar, até o fim do ano, uma dark kitchen (cozinha que funciona apenas para entrega) para aumentar seu portfólio no delivery, criar volume e permitir uma entrega ainda mais rápida.
Ivan Tonet, do Sebrae, lembra que além da logística, o empreendedor também precisa ter uma boa gestão de estoque para não correr o risco de vender um produto que não tem. Segundo ele ele, o ideal é que o negócio tenha um ERP, sistema de gestão que centraliza informações de vendas, compras e estoque -em especial quando a venda acontece por canais diferentes (como site, WhatsApp e presencialmente), o que pode dificultar o controle. Hoje, diz Tonet, já existem softwares gratuitos para pequenos empreendedores.
Desde junho, o Mercado Livre oferece a opção de entrega no mesmo dia na grande São Paulo e nas regiões metropolitanas de Florianópolis (SC) e Salvador (BA). Para Fernando Yunes, vice-presidente sênior do Mercado Livre no Brasil, o novo serviço pode ajudar os pequenos empreendedores a competirem com mais igualdade com empresas maiores, fornecendo acesso a logística.
A modalidade é válida para compras com a identificação Full na plataforma, que devem ser feitas até 11h, com entregas realizadas até 22h. A modalidade de entrega está disponível para empresas de todos os portes e para produtos de diferentes categorias, entre elas beleza, informática e eletrônicos. Existem exceções, como mercadorias perecíveis.
A Manioca, pequena empresa especializada em ingredientes amazônicos em Belém (PA), utiliza o serviço do Mercado Livre e consegue fazer a entrega no mesmo dia, dependendo de onde está o cliente. A marca disponibiliza, na plataforma, produtos como geleia de cupuaçu, de jambu e de cacau com cumaru e molhos de tucupi amarelo e preto.
Para que o serviço aconteça dentro do prazo, o produto é enviado pelo empreendedor a centros de distribuição do Mercado Livre – que fica responsável por armazenar, embalar e entregar os itens quando a venda é feita, usando algoritmos para determinar as rotas de entrega mais rápidas.
A modalidade não tem custo extra e segue as mesmas regras aplicadas às outras vendas na plataforma, com taxas a partir 11%. Para produtos abaixo de R$ 79, são cobrados R$ 5 a mais por unidade.
Para Yunes, alguns segmentos de produtos são mais sensíveis à entrega rápida -a exemplo daqueles que atendem a situações de urgência, como materiais de informática usados no trabalho remoto. “O empreendedor deve entender se seu negócio está em um segmento em que a logística tem um peso importante. Mas estamos observando que, cada vez mais, o consumidor está se acostumando com a comodidade. Hoje, receber no dia seguinte já não impressiona mais como antes”, diz.
Fonte: Amazonas Atual
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