“Se existisse um espírito liberal pelo Brasil, deveriam existir ações no sentido de criar condições econômicas para a Amazônia e não ao contrário: retirá-las. Defender este pseudo-liberalismo é como defender que a terra é plana.”
Augusto Cesar Barreto Rocha
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No dia em que começou um evento sobre logística nos EUA, onde tive três publicações com orientados de mestrado, estava com muita vontade de escrever sobre as palestras deles. Mas não me sai da cabeça o quanto a Zona Franca de Manaus (ZFM) é atacada. O que incomoda dos ataques com a redução dos Imposto de Importação (II) para bicicletas ou eletroeletrônicos é que são ataques sem nenhuma base de interesse para o país. Interessa apenas para estrangeiros. Tenho a sensação de que são os mesmos terraplanistas que resolveram se autointitular de liberais e se posicionar contra a indústria nacional para o benefício puro, simples e direto da indústria estrangeira. Gostaria de estar enganado.
Há quem pense que em Manaus está a produção de geladeiras. Não! Ela fica predominantemente em Santa Catarina e algo em São Paulo. Em Manaus se produz eletroeletrônicos e bicicletas. Mas não só aqui e não é só isso. Ambos os setores estão em outros lugares do país. Reduzir impostos leva a uma redução da arrecadação, mas o governo anda atrás de arrecadação para buscar o equilíbrio fiscal. A conta não fecha. Um Engenheiro que deixa de gerenciar uma linha de fábrica de TV não fará a gestão de produção de tambaqui. Sua formação tem outro propósito. Estes empregos não são intercambiáveis como alguns discursam erradamente. Destruir o que existe por nada é uma estupidez e não uma troca.
Em nome de um pseudo-liberalismo, sem se liberalizar nada para a produção de fármacos, pescados ou criar condições para novas atividades econômicas na região, está havendo uma guerra contra a ZFM. Por qual razão? Em troca do que e para qual propósito? O interessante desta guerra é que se diz que é pelo nosso bem. Entretanto, isso são ataques, tal qual são ataques os garimpos ilegais. Não há outro nome. Sofremos ataques de todos os tipos. Quais os interesses que norteiam estes ataques? Não há um aumento da liberdade para outras atividades produtivas legais – há uma redução de oportunidades para as atividades que são legais, produtivas e que geram emprego e impostos. Liberalismo não é isso.
Liberalismo falso, lembra o terraplanismo – movimento que defende que a terra é plana. Acabar com a ZFM corroendo-a com a retirada de suas vantagens comparativas e competitivas é atuar em defesa de interesses estrangeiros. Reduzir o II não aumenta a competitividade do Brasil em absolutamente nada. Se existisse um espírito liberal pelo Brasil, deveriam existir ações no sentido de criar condições econômicas para a Amazônia e não ao contrário: retirá-las. Defender este pseudo-liberalismo é como defender que a terra é plana. Precisamos transcender esta condição.
Mas, voltando ao começo: um dos trabalhos que um orientado meu apresentou hoje foi sobre a oportunidade de movimentar mais soja pelo Arco Norte por meio de contêineres que vêm para Manaus com importação para a indústria de eletroeletrônicos. 3% da soja brasileira, em especial a parcela “premium”, não geneticamente modificada, poderia fazer parte deste volume. Por meio da ciência, estamos apontando caminhos para a região, inclusive no que diz respeito à logística.
O Arco Norte em breve se igualará ao Sudeste/Sul na exportação de soja do Brasil, segundo outros estudos. A Amazônia também pode ser uma potência para a nossa logística. O mundo vê isso. O trabalho acadêmico foi apresentado e bem recebido em Cambridge (EUA), no MIT Scale Latin America, onde tivemos três trabalhos da UFAM e um da UEA, de um total de 110 artigos no evento que acontece nesta semana. Nossos terraplanistas não veem e preferem beneficiar indústrias estrangeiras, exportando empregos. A relação é 0,2kg de telefone para cada 10ton de soja. Aceitaremos passivos? Mesmo que eles destruam nossos empregos? Isso me lembra um conservador britânico famoso falando sobre a II Guerra Mundial: “nós lutaremos nas praias, nós lutaremos nos campos, nós lutaremos nas colinas, nós nunca nos renderemos”. Fica o convite para reflexão sobre esta perspectiva alternativa sobre o nosso problema.
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