Como diz Denis Minev, um de seus conselheiros, “O IDESAM tem dado alguns passos para desenvolver uma Bioeconomia um pouco diferente, uma Bioeconomia que não toca nem depreda a floresta, mas retira a inteligência a partir da floresta para desenvolver outros produtos e outras frentes empreendedoras”.
Wilson Périco
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Há quase 10 anos, num seminário sobre os Pioneiros e Empreendedores do Amazonas e o futuro da Zona Franca de Manaus, organizado pela CIEAM, FIEAM, USP e UEA, realizado com a participação de setenta representantes de instituições de ensino, pesquisa, fomento, estaduais e federais, além de empreendedores e a honrosa presença de Mario Guerreiro e Moysés Israel, dois legítimos remanescentes da saga pioneira da Amazônia, iniciamos um movimento para criar novas matrizes econômicas. Este movimento se baseava num argumento contundente. Não podemos repetir os erros do passado e seguir dependendo de uma única matriz chamada Polo Industrial de Manaus, da mesma forma, não podemos abrir mão do direito constitucional e dos retornos que o modelo ZFM dá, não só ao Estado do Amazonas mas, para todo o Brasil. Uma das recomendações era manter mobilizados esses atores e uma das providências imediatas seria racionalizar as ações federais na região, por exemplo, unindo a expertise de bionegócios da Embrapa com a estrutura do Centro de Biotecnologia da Amazônia. Brasília vetou. Mesmo assim, este movimento se ampliou e ecoou por outras paragens do país, mobilizando atores federais e a imprensa nacional e suas ambíguas redes sociais.
Direitos e respeito
Uma das lições dessa movimentação pioneira é de que não precisamos pedir licença para definir os melhores formatos de diversificação da nossa economia. Sabemos o que queremos e para onde devemos seguir. Tecnologia da informação e comunicação, bioeconomia, piscicultura, turismo, fruticultura e polo mineral… O que nós exigimos é o direito de trabalhar, assegurado na Carta Magna e o respeito por nossas definições e encaminhamentos. Não abrimos mão da segurança jurídica e denunciamos a incoerência de transformar o Amazonas em exportador de recursos para União federal, um estado pródigo em recursos naturais e desprovido de ações públicas efetivas que transformem diversidade biológica e províncias minerais em prosperidade social.
Avanços possíveis e necessários
Com muita insistência conseguimos reter um percentual dos recursos amealhados pelo poder público – discreto, porém – que temos recolhido historicamente. Hoje temos um polo digital em plena expansão e assistimos ao crescimento de novos negócios e instituições que se formaram a partir dos recursos que as empresas têm repassado ao poder público para gerar as inadiáveis e novas matrizes econômicas. No âmbito da UEA, a universidade estadual mantida integralmente pela indústria, surgem dezenas de startups, temos o Impact Hub Manaus a pleno vapor, e as próprias empresas do Polo Industrial fomentam esta modalidade de diversificação manufatureira, com base tecnológica e inovadora. O Amazonas se destaca no cenário nacional de novos negócios a partir de startups.
Indústria 4.0
Temos orgulho de ver instituições como a Fundação Paulo Feitoza, com 23 anos de avanços na direção da Quarta Revolução Industrial, utilizando recursos de P&D&I, repassados pela indústria da ZFM. Soluções para a indústria e demais setores da economia e para o tecido social. Essas novas matrizes borbulham o entusiasmo do empreender e ao mesmo tempo proteger o parâmetro socioambiental. Infelizmente, temos adiado a oferta de milhares de empregos, benefícios e oportunidades com o desvio de finalidades de R$2 bilhões/ano recolhidos pelo setor produtivo. “Como visão de futuro considero importante primeiro fortalecer as matrizes atuais que sustentam o modelo exitoso da ZFM para financiar o processo de transição na geração de novos negócios/ matrizes econômicas advindos da pesquisa e desenvolvimento tecnológico e aproveitamento das riquezas regionais naturais locais, preservando este imenso patrimônio”, diz Roberto Garcia, um dos gestores da Fundação.
Biotecnologia, as verbas de P&D&I
Nesta semana, mais uma Conferência Digital, ‘Biotecnologia e Inovação: Como Promover Investimentos em P&D e Negócios Disruptivos’.
presta contas e divulga oportunidades do PPBio da Suframa, o programa prioritário de Bioeconomia que destina recursos de P&D&I da indústria para desenvolvimento de produtos e soluções inovadoras. A Suframa escolheu o IDESAM, Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, para gestão do programa. Como diz Denis Minev, um de seus conselheiros, “O IDESAM tem dado alguns passos para desenvolver uma Bioeconomia um pouco diferente, uma Bioeconomia que não toca nem depreda a floresta, mas retira a inteligência a partir da floresta para desenvolver outros produtos e outras frentes empreendedoras”. Isso, a rigor, significa que a geração de emprego na ZFM se dá com efetiva sustentabilidade. No último debate sobre Bioeconomia e Investimentos de P&D&I, a empresária Rebecca Garcia deu um testemunho sobre a decisão de investir os recursos da GBR-Eletrônicos, da qual é presidente, no PPBio da Suframa: “Nós encontramos, com felicidade, um resultado positivo do que foi colocado pelo PPbio, no qual hoje já passei a colocar também investimento pessoal, fora os investimentos que foram colocadas no primeiro processo do PPbio, para a criação de dermocosméticos. Ampliar o investimento pessoal se deu a partir da tamanha percepção de que a coisa pode dar certo sim. E tem dado certo pois a gente já vê um grande interesse do mercado internacional. A empresa que nós investimos hoje já tem um selo para comercialização dos seus produtos no Oriente Médio, e o Eco7 para comercialização na Europa”.
Segurança alimentar
Este é um dos caminhos, entre tantos que temos a recomendar e apoiar. Na área de Bioeconomia, particularmente, temos o compromisso de estimular o que podemos chamar de segurança alimentar, não apenas na produção inovadora de proteínas da piscicultura e fruticultura. Esta não é apenas uma demanda global, mas sobretudo local, para diversificar e incrementar alimentação segura e funcional, com base em nossa biodiversidade e tradição secular. Isso é possível, necessário e o programa Zona Franca de Manaus criou as condições essenciais de concretude e viabilidade, como fizeram nossos saudosos e admirados pioneiros e empreendedores.
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