“A integração da bioeconomia com o Polo Industrial de Manaus representa, pois, uma trilha para fomentar a inovação, a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico…Em um mundo que clama por soluções sustentáveis, a Amazônia emerge como um laboratório vivo repleto de oportunidades através da bioeconomia. Além de um ativo publicitário promissor. A Natura, uma gigante da cosmética, não deixa de ser um exemplo de como a utilização sustentável de princípios ativos amazônicos pode ser turbinada e economicamente lucrativa. Através de campanhas que enfatizam sua conexão com a Amazônia, a empresa não apenas aumentou sua receita, mas também fortaleceu a imagem de um negócio comprometido com práticas sustentáveis.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Em 2016, na gestão Rebecca Garcia, em conjunto com o CIEAM, a Suframa levou a cabo um precioso levantamento das demandas da indústria em relação ao CBA, então Centro de Biotecnologia da Amazônia. Era a antevisão das promessas contidas no casamento BIO&TIC – a bioeconomia com a tecnologia da informação e comunicação. Foram listados, na ocasião, quase 100 itens entre resinas, oleaginosas, álcool industrial de caroço de tucumã, entre outros bioativos da imensurável biodiversidade onde a indústria está inserida.
Apesar das evidências imperativas dessa integração, a cadeia da borracha das empresas associadas ao Polo de Duas Rodas, não possuem o mecanismo do P&D. Isso dificulta fortemente a captação de recursos para o PPBio da Suframa, gerenciado pelo IDESAM. Afinal, somente as empresas do PIM, que tem obrigação do P&D, poderiam apoiar a reativação da economia da borracha. Entretanto, essas empresas tem outras prioridades. É preciso sentar para desenrolar rapidamente essa conversa. Cá entre nós, na região onde se deu o Ciclo da Borracha, que respondeu por décadas por 46% do PIB brasileiro, a indústria não tem licença de processo produtivo para produzir pneus. Chose de loc!
A lista da integração indústria-floresta vai bem, obrigado e não para de crescer, propiciando um vasto potencial para a bioeconomia com as oportunidades e garantias de compra por parte do Polo Industrial de Manaus (PIM). Este é o preâmbulo do plano estratégico que será implementado por essa sinergia, promovendo não apenas o adensamento e a diversificação mas também, a bendita interiorização do desenvolvimento que beneficie tanto as comunidades locais quanto a economia regional.
Recentemente, num workshop sobre biocompósitos no CIEAM, o autor do estudo pioneiro sobre o uso das escamas do pirarucu, Dr. Jean Carlos Silva Andrade, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), revelou a possibilidade de sua aplicação na medicina regenerativa. As escamas deste peixe amazônico, transformadas em cimento ósseo, podem melhorar a fixação de implantes em pacientes com osteoporose. Este avanço não apenas destaca a biodiversidade amazônica como fonte de inovações médicas, mas também reduz custos e impacto ambiental na produção de materiais biocompatíveis.
Para transformar insumos florestais em produtos inovadores, é fundamental fortalecer as redes de pesquisa e desenvolvimento (P&D) isoladamente em curso na Amazônia e nos países amazônicos. Isso envolve ampliar os investimentos em ciência e integração para acelerar o desenvolvimento de protótipos em produtos escaláveis. Por exemplo, converter biomassa em bioplásticos para uso nas indústrias do PIM exigirá refinarias especializadas. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) reconhece essa necessidade e lidera a mobilização de recursos significativos, incluindo um aporte inicial de US$ 20 milhões em capital semente para apoiar tais iniciativas.
Além de atrair investimentos privados e inovações tecnológicas para o PIM e suas demandas de sinergias periféricas, é vital que o poder público invista em infraestrutura adequada. Isso inclui a melhoria dos sistemas de energia, água, telecomunicações e, especialmente, o desenvolvimento de hidrovias como alternativas sustentáveis para o transporte de cargas, via cabotagem. Um modal que reduz o impacto socioambiental, mas não dispensa a complementariedade das estradas convencionais em tempos de escassez extrema.
A movimentação das oportunidades daí decorrentes deve remeter a um novo projeto, nos moldes das universidades gastronômicas de Belém. Um projeto de gastronomia sustentável na Amazônia ilustra perfeitamente como a bioeconomia pode ser integrada ao turismo e à culinária local. Chefs de cozinha têm a oportunidade de acessar insumos de alta qualidade diretamente das comunidades, que por sua vez, beneficiam-se de alternativas de renda respeitando os ciclos naturais da floresta. Este intercâmbio fortalece a economia local, e também promove o turismo gastronômico, atraindo visitantes interessados em experiências culinárias autênticas e sustentáveis.
Sem xenofobia muito menos ingenuidade. É preciso integrar cooperação científica entre os países amazônicos, uma diplomacia essencial para compartilhar conhecimentos e tecnologias que podem acelerar o desenvolvimento da bioeconomia. Iniciativas como a da ex-ministra do Ambiente do Peru, Lucía Ruiz, que promove a recuperação econômica baseada em atividades sustentáveis, são paradigmáticas. Tais parcerias entre o poder público, o setor privado e as universidades são fundamentais para explorar plenamente o potencial da região.
Em um mundo que clama por soluções sustentáveis, a Amazônia emerge como um laboratório vivo repleto de oportunidades através da bioeconomia. Além de um ativo publicitário promissor. A Natura, uma gigante da cosmética, não deixa de ser um exemplo de como a utilização sustentável de princípios ativos amazônicos pode ser turbinada e economicamente lucrativa. Através de campanhas que enfatizam sua conexão com a Amazônia, a empresa não apenas aumentou sua receita, mas também fortaleceu a imagem de um negócio comprometido com práticas sustentáveis.
A integração da bioeconomia com o Polo Industrial de Manaus representa, pois, uma trilha para fomentar a inovação, a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico. Através da colaboração entre governos, empresas e comunidades locais, e com o apoio de financiamento misto, é possível transformar a riqueza natural da Amazônia em prosperidade para todos os seus habitantes, garantindo ao mesmo tempo a conservação deste vital ecossistema para as futuras gerações. Hoje, novamente, temos um gestor na autarquia, Bosco Saraiva, que entendeu a importância da indústria “passear na floresta enquanto seo Lobo não vem”. Ele tem costurado as bases dessa integração que deverá ser transformada, enfim, num plano estratégico de regionalização da economia.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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