Qual a real perspectiva da bioeconomia na Amazônia, aliando ciência, tecnologia e saberes tradicionais? Podemos superar o Complexo de vira-lata e ver o Brasil se transformar em um líder global da economia verde? De fato há um imenso e crescente espaço considerando um grande potencial na exportação de produtos e soluções de bioeconomia oriundos da biodiversidade amazônica
Por Igor Rodrigues Lopes
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A bioeconomia tem se destacado como uma das mais promissoras áreas de crescimento econômico global, com um potencial estimado de movimentar até US$ 7,7 trilhões até 2030, de acordo com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD). Este valor reflete a expansão em setores como energias alternativas, indústria farmacêutica, bioplásticos e embalagens biodegradáveis. A transição para uma economia verde robusta é fundamental para enfrentar desafios globais como a mudança climática, segurança alimentar e sustentabilidade.
Relevância no contexto do G20 em Brasília
No encontro do G20 em Brasília, realizado no começo de maio, a bioeconomia foi um dos principais tópicos discutidos. Os líderes globais destacaram a importância de integrar práticas sustentáveis e inovadoras para promover uma economia mais verde e resiliente. A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática do Brasil, Marina Silva, enfatizou a necessidade de superar a falsa dicotomia entre bioenergia e segurança alimentar. Ela argumentou que o Brasil pode liderar esse movimento, mostrando ao mundo que é possível cultivar matérias-primas para biocombustíveis sem comprometer a produção de alimentos.
Para que a bioeconomia atinja seu pleno potencial, é essencial o desenvolvimento de padrões globais de sustentabilidade que considerem as particularidades nacionais. O Brasil, presidindo o G20 em 2024, tem a oportunidade de liderar essa agenda, promovendo certificações e práticas que equilibrem desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
A Amazônia se destaca como um dos maiores reservatórios de biodiversidade do mundo. Com a maioria esmagadora ainda desconhecida pela ciência, cerca de 25% das espécies mundiais – dos microrganismos até os mamíferos, passando por inúmeras plantas e seus frutos – estão localizados na região amazônica. Nós temos o almoxarifado genético do planeta. Isso significa um imenso potencial para a bioeconomia.
A riqueza biológica da região oferece uma vasta gama de recursos naturais que podem ser explorados de forma sustentável para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias. Medicamentos a partir de plantas medicinais, os mais diversos fins industriais aos frutos nativos e biomateriais que substituam concorrentes poluentes são apenas alguns exemplos de recursos que podem ser utilizados para criar valor econômico, ao mesmo tempo em que se preserva o meio ambiente.
Papel do Idesam e PPBio na promoção de uma economia sustentável
O Idesam tem sido um dos atores mais importantes para o desenvolvimento sustentável da região – para dizer o mínimo. O instituto implementa projetos que promovem o manejo sustentável dos recursos naturais, apoiando comunidades locais e incentivando práticas que conciliam desenvolvimento econômico e conservação ambiental. Iniciativas como o reflorestamento com espécies nativas e o desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis são alguns dos exemplos do trabalho da ONG.
O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo IDESAM e apoiado pela Suframa, é uma iniciativa central para o desenvolvimento dessa nova economia na Amazônia. Focado em transformar o vasto potencial biológico da região em valor econômico, o PPBio promove o impulsionamento de startups e negócios inovadores que utilizam recursos naturais de forma sustentável.
O programa facilita investimentos em pesquisa e desenvolvimento, conectando cientistas, empresários e comunidades locais para desenvolver produtos e tecnologias a partir da biodiversidade da região. Além disso, o PPBio promove capacitações e treinamentos para fortalecer a expertise local em bioeconomia, garantindo que as comunidades tradicionais e ribeirinhas participem ativamente e se beneficiem economicamente dessas inovações. Ao incentivar a colaboração entre diversos atores, o PPBio ajuda a transformar a riqueza biológica da Amazônia em oportunidades econômicas sustentáveis, preservando o ecossistema e promovendo o desenvolvimento regional.
Para ver alguns dos projetos mais relevantes social e
ambientalmente que tiveram o apoio do PPBio clique aqui
Desafios e oportunidades
Apesar do enorme potencial, a bioeconomia na Amazônia enfrenta desafios significativos, como a necessidade de infraestrutura adequada, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis. No entanto, as oportunidades são vastas.
A integração de ciência, tecnologia, inovação e conhecimentos tradicionais – permeados por inteligência, competência, governança, pensamento estratégico e (por que não?) sorte – pode posicionar o Brasil como um líder global em bioeconomia.
Sobre esses desafios e oportunidades a Coluna Follow-Up
tem diversos artigo, clique aqui para acessá-la
Integração de Ciência, Tecnologia, Inovação e conhecimentos tradicionais
A rica diversidade biológica e cultural do país pode ser alavancada para desenvolver produtos e soluções que marquem essa virada de chave que o planeta EXIGE. Essa integração permite a criação de tecnologias, produtos e até serviços que não só aproveitam os recursos naturais de forma eficiente, mas também respeitam e valorizam os saberes tradicionais das comunidades locais.
Utilizando a vasta gama de espécies nativas e o conhecimento acumulado das populações indígenas e locais, o país pode desenvolver uma bioeconomia robusta e diversificada. A promoção de práticas agrícolas sustentáveis, inovações em biotecnologia, e o uso de biocombustíveis são algumas das áreas onde o Brasil pode se destacar, combinando preservação ambiental com desenvolvimento econômico.
A Amazônia pode transformar o Brasil em uma potência da economia global através da bioeconomia?
Cada vez é mais claro que a Amazônia tem o potencial de posicionar o Brasil como um ator chave na divisão internacional do trabalho. Com a crescente demanda por soluções e produtos sustentáveis, o Brasil pode capitalizar a imagem da floresta em pé como um símbolo de sustentabilidade. Produtos derivados da região podem ganhar vantagem competitiva no mercado global, destacando-se pela sustentabilidade e pelo uso responsável dos recursos naturais.
Excluindo os negacionistas climáticos que insistem em negar o óbvio, já é lugar comum que a Amazônia desempenha um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas, servindo como um imenso estoque de carbono. A industrialização sustentável da região, que evita a degradação ambiental, pode atrair investimentos internacionais e parcerias estratégicas, fortalecendo a formação e consolidação de um polo industrial verde na região, e com ele a economia nacional.
A solidez dessa economia pode tornar o Brasil um lugar seguro para investimentos. E dar para essa nação o status que nos sempre foi prometido
Continua para parte II em breve
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