“Vamos pautar para além de infraestrutura, os semicondutores, os drones subaquáticos e os veículos elétricos na redefinição e diversificação dessa relação econômica e fabril. Afinal, temos um parque industrial e muita intensidade tecnológica para aproveitar a textura e feitura nanobiotecnológicas do bicho da seda e de suas rotas ostensivas.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A parceria entre Brasil e China, consolidada ao longo das últimas décadas, emerge como um dos eixos mais relevantes do comércio global, com um fluxo crescente de investimentos e trocas que beneficiam ambas as nações. A inclusão do Brasil na Nova Rota da Seda, iniciativa chinesa conhecida como Belt and Road Initiative (BRI), trouxe novos desafios e oportunidades, especialmente nos campos de infraestrutura e logística. Este ensaio explora essas dinâmicas, analisa dados e reflete sobre os limites do pragmatismo diplomático em tempos de redefinições globais.
Cadeias Globais de Valor: uma integração-chave
A Nova Rota da Seda, lançada em 2013, visa revitalizar antigas rotas comerciais e criar novas conexões que facilitem o fluxo de mercadorias e capitais entre a China e o restante do mundo. Para o Brasil, que ocupa uma posição estratégica como parceiro comercial da China, esse projeto abre a possibilidade de integrar-se mais profundamente às cadeias globais de valor. No entanto, essa integração exige atenção cuidadosa, pois envolve concessões estratégicas no controle de infraestruturas críticas e uma dependência crescente dos investimentos chineses.
Expansão ousada da infraestrutura
A conexão logística entre o Atlântico e o Pacífico, simbolizada por projetos como o Porto de Chancay no Peru, financiado pela China, é um exemplo claro da ousada estratégia de expansão chinesa na América Latina. Sendo a maior economia da região, o Brasil precisa olhar com atenção para esses movimentos, garantindo que suas infraestruturas estratégicas – como portos e corredores de exportação – permaneçam sob controle nacional e sirvam aos interesses brasileiros. O sucesso ou fracasso dessa estratégia dependerá de uma vigilância ativa e de clareza nos propósitos.
Integração transoceânica: oportunidades e riscos
A modernização das vias de transporte e a construção de novos portos podem oferecer ao Brasil benefícios tangíveis, como a facilitação do escoamento de commodities agrícolas e minerais para o mercado internacional. A China já é o principal destino de exportações brasileiras, como soja, carne e minério de ferro. No entanto, para que o Brasil realmente se beneficie dessa nova configuração, é crucial que os acordos sejam firmados com cláusulas que preservem a soberania nacional e direitos constitucionais sobre os ativos estratégicos. A excessiva dependência de capital e infraestrutura controlados por interesses estrangeiros pode gerar vulnerabilidades econômicas no longo prazo.
Cautela e equilíbrio diplomático
A entrada de empresas chinesas em projetos logísticos na América Latina levanta questões sensíveis sobre a dependência excessiva de infraestruturas controladas por capital estrangeiro. O Brasil precisa adotar uma postura de cautela e equilíbrio em suas negociações com a China, garantindo que a cooperação seja mutuamente benéfica, sem comprometer interesses nacionais em áreas estratégicas. O equilíbrio entre atrair investimentos chineses e proteger os ativos brasileiros será um dos desafios cruciais dessa nova fase das relações bilaterais.
Incremento comercial: diversificação e soberania
Outro ponto crítico da relação Brasil-China é o desequilíbrio na pauta comercial. O Brasil se tornou o maior fornecedor de commodities para a China, mas essa dependência de produtos primários coloca o país em uma posição vulnerável às flutuações de demanda e preços no mercado internacional. Para mitigar esses riscos, o Brasil precisa investir na diversificação de suas exportações, promovendo setores de alto valor agregado, como a bioeconomia e tecnologias limpas.
Proteção do Bioma e dos Povos Originários
A questão ambiental é central na equação Brasil-China, especialmente no que diz respeito à Amazônia. A riqueza em biodiversidade e recursos minerais da região desperta grande interesse internacional. É essencial que qualquer exploração de recursos naturais no Brasil, particularmente na Amazônia, seja conduzida de forma sustentável e com rigorosos estudos de impacto ambiental, protegendo não apenas o bioma, mas também as populações ribeirinhas e os povos originários.
Construindo pontes, preservando Autonomia
Na medida em que o Brasil se aprofunda na Nova Rota da Seda, é necessário adotar uma postura firme na defesa de seus interesses estratégicos. A parceria com a China oferece oportunidades econômicas significativas, especialmente em termos de infraestrutura e comércio. Entretanto, essa aproximação exige vigilância constante para que o país não se torne excessivamente dependente de capital ou tecnologia estrangeira. O equilíbrio entre a atração de investimentos e a preservação da soberania nacional é a chave para garantir que o Brasil prospere sem comprometer seu patrimônio estratégico e ambiental.
Semicondutores, Drones e Veículos Elétricos…
Na segunda parte deste ensaio, exploraremos a presença de empresas chinesas no Brasil com foco na Zona Franca de Manaus e no papel das tecnologias emergentes. Vamos pautar para além de infraestrutura, os semicondutores, os drones subaquáticos e os veículos elétricos na redefinição e diversificação dessa relação econômica e fabril. Afinal, temos um parque industrial e muita intensidade tecnológica para aproveitar a textura e feitura nanobiotecnológicas do bicho da seda e suas rotas ostensivas.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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