“A entidade CIEAM está escrevendo a história de lideranças empresariais, sacudidas e sustentadas pela insistência de tantos heróis da resistência e suas respectivas comissões, devotadas e compromissada com a base civil, em nome da nova ordem, a justiça social, tendo o progresso econômico e sustentável por finalidade, na direção da prosperidade geral da Amazônia e nossa gente. Longa vida, CIEAM, associados, aliançados e encarregados das múltiplas funções no exercício do protagonismo, da solidariedade e da habilidade de quem escolheu ser e crescer uma entidade em movimento..”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Neste 9 de Agosto de 2023, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas, em nome do empresário Mário Expedito Neves Guerreiro, fundador da entidade, presta uma homenagem coletiva a todos os seus presidentes, nos últimos 44 anos. Todos eles terão seus retratos num mural/memorial dos grandes líderes que advogaram as causas da indústria, e conduziram a delicada tarefa de conciliar os interesses de investidores do setor industrial com seus compromissos de redução das desigualdades regionais. Afinal, foi esta a razão pela qual aqui vieram, para o Estado mais remoto do ponto de vista geográfico, geopolítico e de precária infraestrutura competitiva do Brasil.
Como contrapartida de empreender no coração da maior floresta tropical do planeta, esses empresários firmaram um contrato com a União Federal – com a vantagem competitiva de redução de alguns impostos, com destaque para o IPI – compromissados, através da geração de emprego e renda, com a proteção da Amazônia. Em resumo, o desafio de então poderia ser traduzido num slogan: “Integrar para não entregar a Amazônia”. Integrar a região amazônica ao conjunto territorial nacional para não entregar o patrimônio natural da Amazônia à cobiça estrangeira. Tarefa de toda uma vida.
O que destacar neste quase meio século de atuação institucional, de uma entidade do setor privado, focada na defesa das classes empresariais, com a responsabilidade de gerar oportunidades de desenvolvimento econômico e prosperidade social? Implantar uma indústria na floresta nunca foi novidade para os empreendedores e pioneiros da geração de riqueza e oportunidades na Amazônia a partir de 1850, consumada a Guerra da Cabanagem que culminou com a elevação do Amazonas à categoria de Província. Isso foi equivalente a conquistar uma autonomia política, econômica e administrativa em relação ao governo do Grão-Pará, que corresponderia, hoje, à Amazônia Legal.
Neste momento, chegando o século XX, abrem-se as oportunidades do Ciclo da Borracha, um insumo para a indústria mundial nascente que só era encontrado na Amazônia, o que significaria uma janela escancarada de oportunidades e exclusividade. Aliás, isso permite entender a pressão internacional para a abertura dos Rios da Amazônia à navegação internacional, ocorrida em 1865. É importante anotar o que isso representa a (não) evolução do desenvolvimento econômico do Brasil. Usufruímos do privilégio e das folias do látex sem saber transformá-lo em oportunidades e trampolim em direção ao futuro.
Hoje, a despeito de termos perdido a batalha tecnológica para os ingleses – que souberam cultivar extensivamente a seringueira em seus domínios asiáticos – ainda não conseguimos, sequer, produzir racionalmente a quantidade de borracha que atenderia ao polo industrial de duas rodas, um dos mais evoluídos do polo industrial de Manaus.
A razão é muito simples. O Brasil de 1967, que demorou 10 anos para elaborar o programa Zona Franca de Manaus, para redução das desigualdades regionais, pensou pequeno e a pouca distância esta modulação econômica, agrícola, comercial e industrial. Nas primeiras décadas da ZFM a ordem federal era treinar tão-somente trabalhadores até o ensino médio. A visão estratégica era de manutenção da soberania nacional sobre a Amazônia restrita às nossas fronteiras. Ninguém olhou o mapa para se dar conta que apostar na Amazônia significaria acesso mais rápido aos mercados dos países desenvolvidos, América do Norte e Europa. Antes do MercoSul, seria mais inteligente o MercoNorte.
Integrar para proteger e não entregar a riqueza para uma cobiça estrangeira que começou a se acirrar depois do século XVII. Era o início do Ciclo dos Viajantes. Sequer soubemos negociar parcerias. Eram espiões europeus, travestidos de botânicos, jornalistas, religiosos, que fizeram inventários prévios do Eldorado, sem saber que mais do que dourado, a riqueza da floresta é verde, ou seja, a imensurável riqueza da biodiversidade amazônica. Ainda hoje, fechamos fronteiras da matéria-prima, inutilmente, mas não ensaiamos escancarar a fronteira do conhecimento, a fonte segura da transformação.
Em 2023, o Brasil começou a acordar para o velho sonho Amazônia, a utopia do paraíso perdido, onde habita a eterna juventude dos cosméticos, a higidez perene da alimentação integral/funcional, e dos fitoterápicos sem danos colaterais. O cardápio de riqueza é impossível de inventariar. Manter a floresta em pé não é o que nós imaginávamos, uma conversa fiada para impedir o desenvolvimento regional do país. Era, na verdade, guardar para o modo bionanotecnológico na geração de riqueza com os bioativos da revolução biomolecular na Amazônia.
Todos os que aqui vivemos e/ou trabalhamos e nos debruçamos na história da economia da Amazônia a partir da metade do século XX, sabemos dos embaraços de empinar o desafio da prosperidade regional. Há um Fundo de Compensação previsto para a Suframa na reforma tributária. Isso exige uma conversa emergencial. E o resguardo de mecanismos de repasse seguros, transparentes e permanentes.
No meio deste atravancado caminho, aconteceu, entre outros embaraços, uma pandemia, uma ameaça invisível e inusitada, que obrigou a todos e a cada um a se reinventar. Empreendedores, gestores públicos, voluntários de toda a ordem, eram instados a se movimentar, na descrição de Luiz Augusto Rocha, presidente do Conselho do CIEAM:
“entre feridos e acidentados, podemos dizer que, movidos pela força da solidariedade, até aqui sobrevivemos. Para a história, importante registrar: ao invés de colocar o cadeado nas fábricas e ir para os nossos aconchegantes lares e aí passar a propalada quarentena. Porém, as principais lideranças do polo industrial de Manaus arregaçaram as mangas, tomaram para si a responsabilidade da iniciativa e passaram a articular soluções com as lideranças nacionais com quem partilhamos visão de mundo”.
Essa história de geração de riqueza, oportunidades e civilidade social já está escrita em seus capítulos iniciais. Entretanto, ela não terá fim na medida em que o país estiver de cócoras e de costas para o fascínio e o espinho de gerar prosperidade com sustentabilidade florestal, com essa burocracia infernal. Proteger a floresta supõe geração de riqueza e de ferramentas de promoção humana e realização profissional, como buscam fazer as empresas mais ousadas.
A entidade CIEAM está escrevendo a história de lideranças empresariais, sacudidas e sustentadas pela insistência de tantos heróis da resistência e suas respectivas comissões, devotadas e compromissada com a base civil, em nome da nova ordem, a justiça social, tendo o progresso econômico e sustentável por finalidade, na direção da prosperidade geral da Amazônia e nossa gente.
O Centro da Indústria segue inquieto a bordo desta nave teimosa da conjugação verbal da economia em consonância com a ecologia, há quase meio século, com um olho no gato da produtividade e outro na promoção da dignidade humana e socioambiental, sem a qual é inviável a navegação. Longa vida, CIEAM, associados, aliançados e encarregados das múltiplas funções no exercício do protagonismo, da solidariedade e da habilidade de quem escolheu ser e crescer uma entidade em movimento.
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