Isso tem que mudar. O banco não pertence a seus presidentes e diretores. Os proprietários do banco são nossos irmãos ribeirinhos que, obrigados por recompensas miraculosas, perderam saúde e vida nas matas perigosas da Amazônia para ajuda a quem lhes virou as costas. Seus descendentes, que esperaram mais de 50 anos pela compensação financeira, hoje carecem de transparência e eficiência a seu favor.
Por Belmiro Vianez Filho
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Quem se der ao trabalho de verificar a performance do Banco da Amazônia S.A. nos portais do TCU Tribunal de Contas da União e da CGU Controladoria Geral da União, além do Portal da Transparência, irá verificar com tristeza um comportamento nada republicano no trato do erário amazônico. Esse modelo de gestão ganha tonalidades graves se consideramos que se trata de uma instituição bancária responsável, historicamente, pela promoção do desenvolvimento regional. Ou seja, uma agência encarregada pela Constituição para a redução da desigualdades entre o Norte e o Sul do país.
Isso se torna ainda mais dramático diante da eventualidade de qualquer cidadão buscar apoio para seus empreendimentos naquela instituição financeira, teoricamente responsável pelo fomento sustentável na Amazônia. A teoria na prática é a outra.
Para quem não lembra, o BASA é uma contrapartida do Acordo de Washington, firmado em plena Segunda Guerra Mundial pelo governo brasileiro, para garantir o fornecimento dos insumos de nossa seringueira e para abastecer as demandas de borracha para as máquinas de guerra das tropas aliadas. A adesão do Japão às forças nazistas resultou no fechamento do mercado asiático de borracha, para onde os ingleses levaram nossas mudas de seringueira para cultivo intensivo. A solução foi reativar na marra o Ciclo da Borracha. Foram convocados milhares de trabalhadores, a maioria nordestinos, para se embrenhar na floresta e coletar em condições adversas o precioso líquido da árvore da fortuna, a seringueira nativa em nossa região. Vale lembrar que o Brasil era proibido de exportar produtos da Amazônia que não fosse a borracha. Isso significou a estagnação econômica como sequela do veto a outros produtos que davam suporte a nossa economia.
No final das contas, os americanos se foram e sobrou o BASA como a grande compensação para o esforço de uma guerra em que nos sentimos verdadeiras buchas humanas de canhões da destruição. Os beneficiários, portanto, deveriam ser as populações empobrecidas da região, os mais baixos IDHs do Brasil.
O banco, 8 décadas depois, mantém uma administração centralizada e arcaica, sempre em Belém, mantendo as exigências de contrapartidas securitários inaceitáveis. O empreendedor tem que deixar o que pode e o que não pode para assegurar empréstimos com juros de mercado. No frigir dos ovos que vantagem a cidadania leva? Se você não é amigo do rei, se prepare para uma batalha burocrática infernal. Mas, em contrapartida, se você tem relações próximas e privilegiadas o cenário se transforma da água para o vinho como se deu nas bodas de Caná. Com a palavra o TCU e a CGU.
Isso tem que mudar. O banco não pertence a seus presidentes e diretores. Os proprietários do banco são nossos irmãos ribeirinhos que, obrigados por recompensas miraculosas, perderam saúde e vida nas matas perigosas da Amazônia para ajuda a quem lhes virou as costas. Seus descendentes, que esperaram mais de 50 anos pela compensação financeira, hoje carecem de transparência e eficiência a seu favor. Eles seguem na Amazônia, habitam os municípios empobrecidos pelo descaso do poder público. E nestes municípios, outras riquezas esperam o fomento justo e benfazejo para suporte de pequenos empreendimentos, decididamente cruciais para a conquista da qualidade de vida e ao pleno exercício de qualidade de vida de nossa gente. Somos pobres e moramos longe segundo os critérios – ao que parece – que orientam a política da camaradagem e apadrinhamento daquela instituição, conquistada pelo sangue, suor e bravura dos amazônidas.
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