Para além de desenvolver a economia regional, Zona Franca de Manaus quer fortalecer proposta sustentável e se manter alinhada a boas práticas socioambientais
A Zona Franca de Manaus celebrou seu 57° aniversário, em fevereiro de 2024, com uma meta ambiciosa: tornar-se o o polo industrial mais alinhado às práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) do mundo. De forma geral, segundo definição do Sebrae, o ESG – sigla em inglês para Environmental, Social and Governance – avalia o comprometimento de um negócio em minimizar impactos ambientais, promover justiça e responsabilidade social e adotar as melhores práticas de governança administrativa, refletindo um modelo de operação sustentável e ético.
Para alcançar esse objetivo, as empresas locais iniciaram sua busca por certificações e estão reavaliando suas emissões de carbono. Atualmente, duas indústrias do polo, a BIC e a Visteon, já possuem certificação ESG. De acordo com Régia Moreira, conselheira e coordenadora da Comissão Cieam de ESG, outras empresas estão em processo de certificação, como a Impram (Impressora Amazonense), da qual ela é proprietária.
“Minha empresa já tem pacto firmado, mas ainda não concluímos, porque a jornada é longa. Eu fiz o meu [inventário de carbono] e me assustei. Já mudei todos os carros: ou vão ser carros elétricos, ou [movidos] a etanol. Não uso mais nenhum outro combustível fóssil”, pontua Moreira ao UOL.
Sustentabilidade na Zona Franca de Manaus
A ZFM foi criada em 1967 como área de livre comércio, beneficiária de incentivos fiscais, com o objetivo de ocupar o território amazonense, desenvolver a região e integrá-la ao resto do país.
Para atuar na região, as empresas precisam apresentar um laudo de impacto ambiental, exigido pela Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Esse documento é elaborado pelo Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia e é indispensável para a aprovação de projetos de novas fábricas na região. Estudos científicos comprovam que, ao concentrar atividades econômicas em uma área limitada e com baixa utilização de recursos florestais, a ZFM contribuiu para a preservação de cerca de 98% da mata nativa do Estado do Amazonas.
Agora, a Suframa quer ampliar ainda mais esses impactos ambientais positivos por meio da implementação de uma regulamentação ESG específica para o polo, reforçando sua meta de transformar a Zona Franca no polo industrial mais sustentável do mundo. “Isso é um sonho nosso, talvez a gente consiga iniciar esse processo de regulamentação a partir do ano que vem. Só precisamos saber o caminho adequado de fazê-lo sem representar mais um problema para as indústrias, mas uma inovação que vai atrair ainda mais negócios para a Zona Franca”, destaca Luiz Frederico Aguiar, superintendente adjunto executivo da Suframa.
Bioeconomia
Uma das estratégias de promoção de práticas sustentáveis no âmbito da ZFM é o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo Idesam, que oferece para as indústrias a possibilidade de usarem parte de sua verba obrigatória para P&D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) em projetos voltados a bioeconomia, uma das protagonistas quando se fala em desenvolvimento sustentável e práticas ESG.
O PPBio atualmente apoia 43 projetos nos estados da Amazônia Ocidental e no Amapá, abrangendo cadeias de valor de produtos da biodiversidade como açaí, tucumã e reflorestamento. Esse suporte é financiado pela Lei de Informática, que exige que empresas do Polo Industrial de Manaus invistam em P&D. Para startups, essa legislação pode representar tanto um desafio quanto uma oportunidade de crescimento ao integrar-se aos programas prioritários, que facilitam o cumprimento dessas obrigações.
Desafios e possibilidades
Hoje, o maior problema das empresas é a emissão de gases de efeito estufa. Assim, segundo Cristine Naum, sócia-diretora da Antevê Consultoria ESG entrevistada pelo UOL, qualquer empresa pode virar ESG, mas para isso é importante realizar um diagnóstico inicial da situação da empresa e realizar o inventário das emissões de GEE.
“O mais importante é saber se está cumprindo a lei, onde estão os principais riscos e fazer um inventário de gases de efeito estufa que dá um diagnóstico importante da companhia”, pontua Naum. “Cada vez mais investidores buscam ESG para investir em empresas, linhas de crédito em banco dependem do que a empresa faz de ESG, assim como algumas negociações, na Europa principalmente, que exige condições ESG para negociar. O cerco está fechando, e estamos falando de realização de negócios, não de crença.”