ZFM + ESG: o diferencial da Amazônia na economia de baixo carbono

“O futuro sustentável que o mundo almeja pode ter seu início aqui. Mas isso só será possível se assumirmos o protagonismo — com responsabilidade, ambição e coragem”.

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O II Fórum ESG da Amazônia nos infundiu uma energia renovada, pautada pela responsabilidade e pelo compromisso coletivo. O evento consolidou uma nova etapa de cooperação entre instituições públicas, setor produtivo, academia e sociedade civil, todos convergindo na certeza de que a Zona Franca de Manaus (ZFM) deve se preparar para atender às demandas de um mundo em transformação — não apenas no âmbito energético, mas também ético, climático e econômico.

Um destaque significativo do Fórum foi a apresentação, pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), da iniciativa “ZFM + ESG. Diferentemente de uma certificação formal, essa iniciativa voluntária visa incentivar empresas, indústrias e demais instituições atuantes na ZFM a implementarem ações nos âmbitos ambiental, social e de governança corporativa, alinhando-se aos critérios internacionais de sustentabilidade.

Para que essa iniciativa se traduza em um diferencial competitivo real, é necessário atender a uma série de premissas fundamentais:

  • Compreensão dos conceitos e metodologias globais de ESG — não basta apenas adotar o discurso ESG; é crucial entender suas ferramentas, indicadores e métricas.
  • Neutralização das emissões de carbono nos processos produtivos, com monitoramento e transparência nas emissões.
  • Capacitação dos recursos humanos, formando profissionais aptos a elaborar relatórios de sustentabilidade, inventários de carbono e a conduzir processos de auditoria e governança.
  • Fortalecimento da rastreabilidade da produção, especialmente em cadeias associadas à bioeconomia e à sociobiodiversidade.
  • Compromissos verificáveis com a agenda social, incluindo inclusão, diversidade e geração de impacto positivo nas comunidades locais.
O II Fórum ESG da Amazônia nos infundiu uma energia renovada, pautada pela responsabilidade e pelo compromisso coletivo. O evento consolidou uma nova etapa de cooperação entre instituições públicas, setor produtivo, academia e sociedade civil, todos convergindo na certeza de que a Zona Franca de Manaus (ZFM) deve se preparar para atender às demandas de um mundo em transformação — não apenas no âmbito energético, mas também ético, climático e econômico.

É fundamental esclarecer um ponto conceitual: o termo “descarbonização”, embora amplamente utilizado, pode ser interpretado de forma equivocada. O carbono é essencial para a vida; o verdadeiro desafio reside na neutralização das emissões de carbono, reduzindo a liberação de gases de efeito estufa na atmosfera e promovendo sua fixação natural por meio da fotossíntese e outras soluções baseadas na natureza. Nesse contexto, a Amazônia desempenha um papel crucial: sua capacidade de absorver carbono e regenerar ecossistemas a posiciona como um ativo vital para o equilíbrio climático global.

Nesse cenário, iniciativas como o programa BNDES Crédito ASG demonstram que o setor financeiro está atento a essa nova realidade. Empresas que estabelecem metas ESG mensuráveis — como obtenção de certificações, realização de inventários de carbono, promoção da inclusão produtiva e educação ambiental — podem acessar créditos com condições favoráveis. A Amazônia, com seus recursos naturais e potencial inovador, encontra-se diante de uma oportunidade histórica.

A iniciativa “ZFM + ESG” também desafia a falsa dicotomia entre desenvolvimento e conservação. Desde 1967, nosso modelo já incorpora uma política ambiental ao reduzir o desmatamento por meio da concentração de atividades econômicas na capital. Agora, podemos avançar: transformar a Zona Franca de Manaus no principal polo industrial ESG dos trópicos, liderando uma nova economia baseada em conhecimento, tecnologia e na manutenção da floresta em pé.

Contudo, essa liderança não será alcançada de forma improvisada. Exige estratégia, cooperação e intensa qualificação de profissionais. O CIEAM está comprometido em liderar esse processo junto a seus associados e parceiros institucionais. Convocamos as empresas a se prepararem — não apenas para aderir à iniciativa, mas para construir um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil, fundamentado na justiça climática, na bioeconomia e na inteligência amazônica.

O futuro sustentável que o mundo almeja pode ter seu início aqui. Mas isso só será possível se assumirmos o protagonismo — com responsabilidade, ambição e coragem.

Lucio Flavio 1 1
Lúcio Flávio
Lúcio Flávio
Lúcio Flávio é advogado e administrador de empresas e presidente do CIEAM Centro da Indústria do Estado do Amazonas

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