Relatório da plataforma The Information prevê que para o período de 2023 a 2028 a entidade de Inteligência Artificial mais conhecida, a OpenAI, acumulará prejuízos de US$ 44 bilhões. Seus aspectos operacionais, como os elevados salários dos cientistas e os riscos estratégicos da nova tecnologia, como processos de direitos autorais pelo uso de conteúdo não autorizado para fins de treinamento da inteligência, direcionam os custos para acima das receitas com as prestações de serviços, como as assinaturas do ChatGPT.
Por André Ricardo Costa
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Em todo conteúdo sobre Inteligência Artificial pouco se discute a sustentabilidade financeira de seus líderes. São mais frequentes loas à capacidade das IA’s impulsionarem produtividade, preocupações com os aspectos éticos e a possível substituição do trabalho humano. O fato é que há uma corrida entre as grandes empresas de tecnologia pelo domínio do mercado de serviços de IA, onde não há espaço para que todos sejam vitoriosos.
Relatório da plataforma The Information prevê que para o período de 2023 a 2028 a entidade de Inteligência Artificial mais conhecida, a OpenAI, acumulará prejuízos de US$ 44 bilhões. Seus aspectos operacionais, como os elevados salários dos cientistas e os riscos estratégicos da nova tecnologia, como processos de direitos autorais pelo uso de conteúdo não autorizado para fins de treinamento da inteligência, direcionam os custos para acima das receitas com as prestações de serviços, como as assinaturas do ChatGPT. Como toda boa start-up, prevê superar o Vale da Morte e registrar faturamento de US$ 100 bilhões até 2030. Com tal projeção pretende justificar investimentos como os US$ 1,5 bilhões do Softbank, aportados há poucas semanas.
Elevadas perdas entre líderes de tecnologias emergentes são fenômeno pesquisado há tempos na literatura de investimentos em inovação. Pesquisadores como Bronwyn Hall, Adam Jaffe, Josh Lerner e o Nobel Kenneth Arrow discutiram a probabilidade de destruição de valor nas “corridas de P&D”, pois são ocasiões em que as firmas investem além do socialmente desejável.
Cientes disso, muitas empresas tentam se precaver. Uma das maiores investidoras da OpenAI é a Microsoft, cujos aportes justificaram que a posteriori trocasse a natureza de entidade não lucrativa para um peculiar “lucro limitado”. Pela parceria, a Microsoft oferece aos seus clientes os ganhos de escalabilidade dos serviços de nuvem e a automação da IA, agregando valor às marcas Azzure e Office. Entre os resultados imediatos há o crescimento de US$ 16 bilhões em seu último lucro anual, de US$ 72 para US$ 88 bilhões.
Contudo, além dos aportes na OpenAI, a Microsoft tem efetuado elevados dispêndios em seu ambiente interno com fatores ligados à Inteligência Artificial. Sem surpresa, os gastos com P&D elevaram-se em US$ 2 bilhões. Com surpresa, os dispêndios em capital fixo elevaram-se em US$ 40 bilhões, sendo quase US$ 35 bilhões para construção de datacenters. Outra big tech, a Amazon, em linha semelhante gastou US$ 160 bilhões nos últimos três anos.
Em suma, boa parte do valor da Inteligência Artificial reside nas dimensões físicas. Os retornos da Nvidia e TSMC já demonstravam isso para os processadores. Os gastos das demais big techs apontam para os data centers. A boa e velha IBM já estava posicionada nisso e conseguiu aumentar seu lucro em US$ 6 bilhões com gastos de apenas US$ 1 bilhão em capital fixo. Suas ações valorizaram 47% em 2024.
Impossível afirmar que Big Techs não sabem o que fazem, mas a indivíduos e governos, visto que não replicarão o caminho das 7 Magníficas, precisam atentar aos “fatores-meio” da IA como caminhos acessíveis de geração de valor. Datacenters e processadores são as últimas etapas da cadeia produtiva, as primeiras são mineração e metalurgia tradicionais e de metais raros. Também energia e refrigeração. Formação de cientistas de IA. Como brasileiros e amazonenses, qual posição devemos buscar nesta corrida?
André Ricardo Costa é Doutor em Administração pela FEA/USP e professor da Ufam
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