Por Sandro Breval
Por volta de 1960, o ganhador do prêmio Nobel, Milton Friedman, reuniu-se com um governo de uma nação asiática, onde foi levado a uma obra pública, considerada de grande escala e relevância, e ele pôde observar que havia muitos trabalhadores utilizando pás e não constatou nenhum outro equipamento pesado para terraplenagem. O encarregado da obra tratou de explicar que seria uma obra dentro de um amplo programa de emprego. Daí veio a resposta de Friedman: “Então, por que não usar colheres em vez de pás?”.
Podemos observar que as transições, entre as revoluções industriais, trouxeram alguns distúrbios e logo se acomodaram com um amplo crescimento e prosperidade como resultantes. A exemplo da mecanização da agricultura que aniquilou milhões de empregos e fez com que multidões de trabalhadores fossem para as fábricas. Mais tarde a automação e a globalização levaram a migração do setor industrial para o setor de serviços. O desemprego em curto prazo sempre ocorreu durante as transições, mas nunca se tornou sistêmico ou permanente.
Os recentes números divulgados do PIMM4.0 – Indicador que mede o grau de maturidade e prontidão do PIM – demonstram que cerca de 92% dos colaboradores das empresas apresentam pouca ou nenhuma habilidade digital. Sem dúvida uma preocupação, mas de outro lado uma enorme oportunidade de criarmos uma grande alavanca de capacitação.
A mesma pesquisa demonstra que 71% da liderança apoia a transição para a indústria 4.0, fato que demonstra o entendimento da importância desse novo cenário disruptivo. A percepção maior é que as entidades empresariais, as empresas e as próprias lideranças estão sensíveis à mudança. Percebo nas indústrias a inovação acontecendo, com melhorias excepcionais no processo produtivo.
Algumas consultorias apontam um crescimento exponencial nos próximos 15 anos, mudando a relação homem-máquina, a elevação da produtividade e do PIB, mas com grande mudança nas capacidades e habilidades da força de trabalho. Aliás creio que, em breve, falaremos de “inteligência do trabalho”. Imagine uma escada que temos que subir, no primeiro degrau, aspectos físicos, no meio cognitivos e no último tecnológicos. Nesse último degrau a previsão é o crescimento de vagas acima de 50% (no mínimo).
No livro “Collapse: How societies choose to succeed or fail”, em tradução livre “Colapso: Como as sociedades escolhem prosperar ou fracassar”, Jared Diamond conta a história dos europeus que colonizaram a Austrália, no século XIX. Avaliaram mal o cenário, as tecnologias e o ambiente, e os fazendeiros descobriram que o clima era muito mais árido que achavam. Portanto, hoje na Austrália é possível encontrar vestígios daquela época. Fazendas abandonadas, além das amplas extensões de terras que parecem desertos.
O que tem a ver as histórias de Jared conosco? A nossa realidade amazônica nos instiga a buscar frequente adaptação e responsividade. A aridez de nossa logística incita custos extras. E para superar tais restrições precisamos nos preparar, capacitar e desenvolver tecnologias para sairmos da zona de inércia.
A zona de inércia encontra-se entre as fases do crescimento, localizada logo após a fase 1 que contempla a explosão de inovação – podemos dizer que a estamos vivenciando. Na fase 2 (zona de inércia) a revolução parece inerte, e a fase 3 o desenvolvimento em massa.
Vale lembrar que a invenção do descaroçador de algodão, do motor de combustão interna, de corrente alternada e as demais tecnologias, não mudaram de um dia para o outro, foi um processo, uma estrada longa acidentada que foi conectando uma era de negócios e tecnologia à outra. Ou seja, temos um longo caminho e precisamos, urgentemente, iniciá-lo.
Acredito que pela capacitação, no contexto da pesquisa e desenvolvimento, mudaremos nossa realidade, com possibilidade de um futuro mais próspero com menos dependência do poder central. A decisão é: avançaremos com colheres, com flechas ou com robôs?
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