30% do Pantanal foi queimado apenas em 2020

Um estudo recente revela que os incêndios de 2020 destruíram mais de 30% do território do Pantanal brasileiro, um valor significativamente maior do que estimativas anteriores. Com o fenômeno El Niño no horizonte, preocupações sobre o impacto do fogo na maior área úmida tropical do mundo aumentam.

Em 2020, incêndios de alta intensidade queimaram mais de 30% do território do Pantanal, na porção brasileira. Uma nova pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), revelou esses números, que foram publicados na revista científica Fire. A área devastada corresponde a 44.998 quilômetros quadrados, valor significativamente acima das estimativas anteriores, que variavam entre 14.307 quilômetros quadrados e 36.017 quilômetros quadrados.

Tecnologia a serviço do meio ambiente

O levantamento foi efetuado com base em imagens de satélite da missão Sentinel-2. Esta metodologia alcançou uma precisão de cerca de 96%, superando produtos operacionais previamente disponíveis para o Pantanal. As imagens ajudaram a refinar as estimativas de áreas queimadas e a melhorar a estimativa de emissões de gases e aerossóis resultantes da queima de biomassa. Engenheira florestal Andeise Cerqueira Dutra, uma das autoras do estudo, destaca que as imagens do Sentinel-2 apresentam resoluções espacial e temporal mais detalhadas, acelerando o tempo de registro de áreas afetadas.

Area queimada no Pantanal no primeiro semestre de 2016 a 2020. Elaborado pela TNC a partir de dados do INPE area queimada e IBGE limite do bioma. Foto TNC Brasil
Área queimada no Pantanal no primeiro semestre de 2016 a 2020. Elaborado pela TNC a partir de dados do INPE (área queimada) e IBGE (limite do bioma). (Foto: TNC Brasil)

A urgência de novas estratégias

O estudo concluiu que há uma necessidade premente de desenvolver abordagens que melhorem os dados sobre os impactos do fogo em regiões sensíveis às mudanças climáticas. Este é especialmente o caso do Pantanal, que é a maior área úmida tropical do mundo. Guilherme Augusto Verola Mataveli, outro pesquisador envolvido, enfatiza a importância de aprimorar esse tipo de análise não só para identificar áreas devastadas, mas também para calcular as emissões de gases de efeito estufa.

Desafios climáticos de 2023: o fenômeno El Niño

A preocupação aumenta no ano de 2023, dado que o fenômeno El Niño pode tornar o bioma mais seco e, consequentemente, mais suscetível ao fogo. Entre o dia 1º de janeiro e 28 de agosto deste ano, o Pantanal registrou 394 focos de incêndio, número significativamente menor do que o mesmo período em 2020, quando foram registrados 8.895 focos.

Consequências catastróficas

Os impactos dos incêndios vão além da destruição da vegetação. Cerca de 16 milhões de animais de pequeno porte e 944 mil de maior porte foram mortos no evento de 2020. O fogo também afetou gravemente as onças-pintadas, consumindo 80% da área de vida desses animais e impactando cerca de 45% da população no bioma. Além disso, houve um aumento nos casos de problemas respiratórios entre os habitantes dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Foto Mayke Toscano Secom MT Fotos Publicas
(Foto: Mayke Toscano/Secom-MT – Fotos Públicas)

Implicações para o futuro

Para enfrentar esse desafio crescente, especialistas estão buscando aprimorar métodos de coleta de dados e análises. Essas informações mais precisas são vitais para orientar o manejo integrado do fogo e ações de combate e controle de incêndios, que serão cada vez mais importantes em um cenário de mudanças climáticas aceleradas.

Leia a matéria na íntegra na revista FAPESP clicando aqui

Acesse o estudo, em inglês, aqui

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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