Cientistas encontraram uma possível nova fonte para da substância que não depende da fotossíntese e chamaram de “oxigênio negro”. Contudo sua origem é também muito requisitada por mineradoras para a produção de “tecnologias verdes” e preocupa especialistas sobre o provável impacto ambiental dessa exploração
Algo misterioso está acontecendo no fundo do Oceano Pacífico. Uma nova fonte de oxigênio foi descoberta em profundidades onde a falta total de luz solar torna a fotossíntese impossível. A descoberta foi feita em uma região repleta de formações antigas chamadas nódulos polimetálicos, um tipo específico e requisitado de rochas oceânicas, que podem estar catalisando a divisão das moléculas de água, segundo suspeitam os pesquisadores. O estudo foi publicado na revista Nature Geoscience e levanta questões intrigantes sobre o funcionamento dos ecossistemas marinhos.
Andrew Sweetman, coautor do estudo e ecólogo marinho da Associação Escocesa de Ciências Marinhas em Oban, Reino Unido, afirmou: “Temos uma outra fonte de oxigênio no planeta, além da fotossíntese”, embora o mecanismo por trás dessa produção de oxigênio permaneça um mistério. Este achado pode ter implicações significativas para a compreensão de como a vida começou e o impacto da mineração em águas profundas na região.
Descoberta acidental
Durante trabalhos de campo na Zona Clarion–Clipperton, entre o Havaí e o México, Sweetman e sua equipe notaram algo estranho. Em uma área onde não deveria haver produção de oxigênio, os níveis do gás aumentaram dentro das câmaras usadas para estudar o fundo do mar. A princípio, Sweetman achou que fosse um erro nos sensores, mas a ocorrência persistiu em expedições subsequentes em 2021 e 2022. A quantidade de oxigênio produzida não é pequena; na verdade, os níveis são mais altos do que aqueles encontrados em águas ricas em algas na superfície.
Implicações da descoberta
A descoberta sugere que os nódulos polimetálicos no fundo do mar estão desempenhando um papel na produção de oxigênio. Em experimentos laboratoriais, os pesquisadores observaram que amostras do fundo do mar, incluindo os nódulos, aumentaram a concentração de oxigênio. No entanto, este fenômeno cessou quando a energia necessária para a divisão das moléculas de água se esgotou, deixando a questão de onde essa energia está vindo.
Os nódulos podem estar atuando como catalisadores, facilitando a divisão das moléculas de água e a formação de oxigênio molecular. Medições mostraram diferenças de voltagem na superfície dos nódulos, sugerindo um potencial elétrico que pode contribuir para este processo. Franz Geiger, coautor do estudo e químico da Universidade Northwestern, EUA, mencionou que entender essa reação pode ter aplicações úteis, como a criação de melhores catalisadores.
Eva Stüeken, bioquímica da Universidade de St Andrews, Reino Unido, ressaltou que esses resultados poderiam influenciar a busca por vida extraterrestre, sugerindo que a presença de O₂ em outros planetas deve ser interpretada com cautela.
O que é o Oxigênio Negro?
A substância é chamada de “oxigênio negro” (dark oxygen) devido ao contexto em que é produzida. No fundo do mar, especialmente em ambientes abissais, a produção de oxigênio geralmente ocorre na presença de luz solar através do processo de fotossíntese, realizado por organismos fotossintéticos como plantas e algas. No entanto, o “oxigênio negro” refere-se ao oxigênio produzido em ambientes completamente escuros, onde a fotossíntese não é possível. Esse fenômeno envolve processos químicos que não dependem da luz, como reações eletroquímicas ou químicas envolvendo minerais presentes no sedimento do fundo do mar.
É importante ter cautela
Antes de iniciar a mineração em águas profundas, é crucial mapear as áreas onde ocorre essa produção de oxigênio. A remoção dos nódulos poderia causar o colapso dos ecossistemas dependentes deste oxigênio. Andrew Sweetman conclui que, se a produção de oxigênio é significativa, é vital para os animais que vivem nessas profundezas.
Esses nódulos, compostos principalmente de manganês, ferro, cobalto, níquel e cobre, estão na mira de mineradoras devido ao seu potencial para suprir a crescente demanda por metais estratégicos utilizados em tecnologias verdes, como baterias para veículos elétricos.
No entanto, a coleta desses nódulos, dispersos nas planícies abissais entre 3,5 e 6,5 km de profundidade, pode causar danos significativos ao ecossistema marinho. A sucção e separação dos nódulos dos sedimentos marinhos, seguida do despejo dos sedimentos de volta ao leito oceânico, podem destruir habitats únicos e liberar grandes quantidades de sedimentos, afetando a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas abissais.
Mas de onde vêm o oxigênio que respiramos normalmente?
Apesar da descoberta, é importante lembrar que a Amazônia, frequentemente chamada de “pulmão do mundo”, não é a principal fonte de oxigênio do planeta como é comum ainda ouvir por ai. Na verdade, algas marinhas e de água doce produzem 55% do oxigênio da Terra. As florestas, incluindo a Amazônia, ajudam, mas também consomem uma grande parte do oxigênio que produzem. A descoberta desta nova fonte de oxigênio no fundo do oceano reforça a complexidade e a diversidade das fontes de oxigênio no nosso planeta.
O autor Ramón Margalef em sua obra Ecologia detalhou as fontes de oxigênio do planeta terra até então conhecidas
- Temos 24,9% do nosso oxigênio vindo de bosques e florestas
- 9,1% originados em Estepes, campos e pastos
- 8,0% de áreas cultivadas
- 3,0% de regiões desérticas
- Totalizando 45% de árvores num geral
- 54,7% de algas marinhas
- 0,3% de algas de água doce
- Totalizando 55% de algas num geral
Com informações da revista Nature, livro Ecologia e AFP
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